Comportamento

Plataformas juntam desconhecidos para jantar e sair da zona de conforto digital

Uma nova moda está virando tendência no Brasil: aplicativos e plataformas que promovem jantares, atividades esportivas e encontros entre estranhos com afinidades em comum

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Convidados reunidos de acordo com o perfil: gostos parecidos (Crédito: Divulgação )

Por Mirela Luiz

O mundo das relações pessoais passa por uma revolução. Nunca estivemos tão conectados, mas essa ligação digital muitas vezes resulta em interações superficiais e uma sensação de solidão. A pandemia de COVID-19 intensificou ainda mais a sensação de isolamento, levando a um aumento significativo na busca por conexões verdadeiras e autênticas. É nesse contexto que surgem plataformas como o Timeleft e o Confra Club, que proporcionam um ambiente onde as pessoas podem se conhecer de forma mais profunda e pessoal. Entre essas tendências estão os jantares com desconhecidos, eventos que combinam a experiência sensorial e social, elementos ausentes nas interações digitais.

“Adoro novos conceitos. Quando recebi o convite, topei na hora e confesso que foi uma noite bem interessante. Apesar de não nos conhecermos previamente, trocamos boas ideias sobre trabalho, hobbies e até informações sobre a vida pessoal”, afirma Victor Hugo, comerciante de 29 anos que participou de um encontro organizado pelo Confra no início do ano, em São Paulo.

Os participantes pagam uma taxa para participar dos jantares, que varia de acordo com o país e a plataforma. Os grupos de anônimos são formados com base em afinidades semelhantes, descobertas por meio de um questionário sobre gostos pessoais.

Além do virtual: jovens fazem novas amizades em eventos organizados por aplicativos (Crédito:Divulgação )

Esses dados são cruzados por um algoritmo que conecta os seis estranhos e sugere um encontro pelo aplicativo.

“Estava precisando conhecer gente nova, ouvir histórias diferentes e resolvi arriscar. Já participei de dois encontros”, conta Fernanda Lucki Zalcman, jornalista esportiva de 26 anos.

De acordo com o Confra, a maioria de seu público (60% a 65%) é feminina.
no Timeleft, homens e mulheres estão representados em proporções quase iguais.
A faixa etária dos participantes, em ambas as plataformas, varia entre 25 e 45 anos.

Criado pelo francês Maxime Barbier, o Timelft estima já ter realizado mais de dez mil jantares, com a participação de mais de 60 mil pessoas em todo o mundo. No Brasil, a plataforma conta com mais de vinte mil participantes em pouco mais de um ano de operação.

Já o Confra foi lançado em São Paulo por Lucas Tugas, de 24 anos, em julho do ano passado, e já teve a participação de dez mil pessoas em pouco mais de mil jantares. Tugas teve a ideia de criar a plataforma após trabalhar no restaurante de seu pai e perceber que muitas pessoas jantavam sozinhas. “Nosso objetivo é utilizar a tecnologia para conectar pessoas”, afirma.

O interesse em sair para jantar com estranhos reflete a epidemia de solidão que se tornou uma característica da sociedade atual, de acordo com a Dra. Leninha Wagner, PhD em neurociências. “Essas tendências apontam para uma contínua evolução nas formas de interação humana, onde a busca por conexões autênticas e significativas coexiste com a conveniência e a acessibilidade das interações mediadas pela tecnologia”.

Para garantir a segurança dos usuários, as plataformas selecionam restaurantes com boas avaliações e mantêm comunicação constante com eles, para que estejam alertas caso haja algum problema. “Os encontros acontecem em locais públicos, com parceiros confiáveis e em grandes grupos. Acreditamos que esse formato inibe possíveis situações negativas”, avalia Jean Bortoleto, representante do Timeleft no Brasil.

Relações profissionais: tendência pode ajudar também no trabalho (Crédito:Divulgação )

Entre os usuários estão pessoas que se mudaram recentemente e querem fazer novas amizades, viajantes, solteiros em busca de um relacionamento e pessoas com dificuldade para socializar. “Minha primeira experiência foi em Madrid. Estava a trabalho e não conhecia ninguém, foi ótimo. Me cadastrei para um encontro aqui em Brasília”, diz Luzinete Alves, jornalista e empresária.

Não é incomum que casais se formem — mesmo se não for algo duradouro. “As pessoas estão dispostas a sair de suas zonas de conforto e pagar por essas interações, porque elas oferecem a promessa de algo mais real e profundo do que vemos hoje no mundo digital”, diz o psicólogo Danilo Suassuna.