Mostra leva visitante a séculos de glórias e tragédias da Catedral de Notre-Dame
Exposição no MIS Experience, em São Paulo, recria o ambiente da Notre-Dame de Paris e oferece aos visitantes uma experiência sensorial enriquecida pela tecnologia
Por Felipe Machado
Do Oriente Médio à Europa, passando pela Ásia e Américas, é possível encontrar inúmeros templos e basílicas imponentes. Há no mundo, porém, poucas construções capazes de exercer um fascínio tão grande sobre a humanidade como a Catedral de Notre-Dame, em Paris. Sua construção começou em 1163, em plena Idade Média, e durou quase dois séculos para ser finalizada, em 1345 — mais de 150 anos antes de o Brasil ser descoberto. Esse monumento gótico, construído na região onde os celtas celebravam a colheita e os romanos adoravam o deus Júpiter, carrega consigo o peso de sua história. Poucos locais podem se vangloriar de terem sido palco de eventos tão díspares e influentes na Europa, do casamento de Henrique IV, rei da Inglaterra, às coroações do imperador Napoleão e Josefina. O episódio, aliás, que exibe de forma minuciosa a opulência do interior da Notre-Dame do início do século 19, foi eternizado na obra-prima de Jacques-Louis David — o quadro está exposto a poucas quadras dali, no Museu do Louvre. Mas não é uma história só de glórias: seu prédio principal passa por um delicado projeto de restauração desde que teve boa parte destruída por um incêndio em 15 de abril de 2019.
Viagem no tempo
Uma exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS Experience), em São Paulo, promete um passeio sensorial por diversos momentos dessa história. Notre-Dame de Paris: Uma Viagem pela Catedral oferece uma experiência multimídia enriquecida pela tecnologia conhecida como realidade aumentada. A mostra já passou por dez países e foi vista por mais de 400 mil pessoas em todo o mundo.
Entre as novidades está o equipamento batizado de HistoPad, desenvolvido pela empresa Histovery em colaboração com um comitê científico de especialistas franceses ligados ao órgão oficial responsável pela reconstrução do monumento.
Por meio de cliques nas imagens que aparecem na tela do tablet, é possível ver a reconstituição de Notre-Dame ao longo de diversos períodos, do século XII, quando foi construída, até seu momento atual, marcado pela recuperação após o incêndio de 2019. Para recriar o clima local, a experiência se vale ainda de áudios exclusivos, como sons de órgãos e amostras gravadas a partir das badaladas dos sinos reais da catedral.
O ambiente da exposição é complementado por réplicas de vinil do piso, vitrais nos janelões do museu e uma projeção da famosa rosácea que sobreviveu ao incêndio. Os painéis fotográficos e modelos tridimensionais de detalhes arquitetônicos, como uma escultura que reproduz em tamanho real um dos famosos gárgulas esculpidos no alto do prédio, servem como portais visuais para as explorações interativas.
Em um dos pontos altos do passeio, os visitantes podem visualizar:
• a colocação das primeiras pedras no século XII,
• a construção do Coro Gótico,
• a chegada da Coroa Sagrada trazida por São Luís,
• e a evolução ornamentada do edifício com a adição da torre, em 1859.
Uma linha do tempo permite que se acompanhe cada etapa da construção e da restauração, explicando as complexas técnicas arquitetônicas empregadas ao longo dos séculos. Hoje, com o uso da tecnologia, fica fácil compreender como os engenheiros medievais conseguiram atingir tamanha perfeição — o que só amplia a admiração pelos mestres do passado.