Brasil entra na onda dos clubes privativos. Mas a exclusividade é para poucos
Clubes privados chegam ao País em versões de organizações estrangeiras e espaços com DNA totalmente nacional. Para ser admitido é preciso uma boa renda ou pertencer a alguma tribo com interesses em comum
Por Ana Mosquera
A exemplo do Zero Bond, em Nova York, e da Soho House, com diversas unidades pelo mundo, os clubes privativos ganham notoriedade no Brasil. No interior de São Paulo, o Boa Vista Village Surf Club, em Porto Feliz, é dedicado ao surfe e chegou até a contar com a presença de Chris Hemsworth — ator que interpreta o super-herói Thor, da Marvel —, que usufruiu de suas ondas artificiais. Dedicados a diferentes públicos, entre criadores, empresários e praticantes de esportes, esses espaços têm em comum a exclusividade: para ser admitido é preciso ser aceito — e as exigências vão muito além do viés financeiro. O interesse em temas como criatividade, sustentabilidade e pautas progressistas, como a diversidade de gênero, pode ser condição obrigatória para o ingresso. Enquanto alguns ainda estão no papel, outros foram inaugurados e recebem jantares, apresentações musicais e eventos em geral. É o caso da primeira unidade da Soho House no Brasil, na capital paulista.
Localizada no complexo Cidade Matarazzo, região onde se situava a maternidade do hospital de mesmo nome desativado em 1993, a casa paulistana respeita as origens internacionais, mas traz um toque brasileiro. Enquanto no restaurante o chef executivo João Lima une culinária internacional à brasileira contemporânea, na coleção de arte há obras de 60 artistas nascidos, radicados ou que estudaram no Brasil, como Nazareth Pacheco, Leda Catunda e Jaime Lauriano.
Além das particularidades, há em comum com outros clubes espaços para festas, salas de jogos e hospedagens com terraço privativo — com a diferença de que todos os tecidos e acessórios dos 32 quartos têm origem no País.
“Além de preservar a história arquitetônica do edifício, a Soho House Design colaborou com artesãos locais para obter produtos de fabricação e design brasileiros”, diz Alicia Gutierrez, Diretora de Membership para a América Latina. O apreço por certos temas é condição para ser sócio. “O candidato ideal precisa ter a alma criativa e incorporar valores como diversidade, criatividade, gentileza e respeito. Esperamos ter muitos afro-brasileiros, mulheres, pessoas da comunidade LGBTQIA+ entre nossos membros.”
Sotaque nacional
Também com foco na diversidade e com a missão de mostrar o Brasil ao mundo, o Resid Club & Hotels ultrapassa os limites físicos. Prestes a inaugurar um bar em São Paulo e o hotel Nas Rocas, na Ilha Rasa, em Búzios, o projeto já oferece vivências exclusivas a seus membros, de Norte a Sul do País — algumas delas gastronômicas, pois um dos sócios é o chef Alex Atala.
“Queremos criar uma comunidade de pessoas que amam viajar e curtir experiências. A ideia é proporcionar momentos em que os membros possam conversar e se conhecer, mas também gerar conhecimento entre eles”, diz Claudia Ribeiro Bernstein, Chief Hospitality Officer e sócia do Resid Club & Hotels, antecipando uma vivência que será realizada em breve, na Amazônia.
Segundo Paulo Henrique Barbosa, CEO e fundador do negócio, desde o início do Resid há dois objetivos muito claros. “Mostrar o Brasil ao mundo e ser um instrumento de transformação para os indivíduos, de modo que eles possam impactar o entorno por meio de um movimento coletivo.”
O poder dos criativos
Além da nova Soho House, complexo Cidade Matarazzo vai inaugurar centro cultural
O francês Alex Allard é o idealizador do complexo Cidade Matarazzo, que abriga, além da nova Soho House, o hotel de luxo Rosewood, o hub de sustentabilidade Aya e um centro cultural que será inaugurado até o final do ano.
O empresário conta que a ideia de trazer a Soho House ao País teve início há sete anos. “Acredito na importância de reunir as tribos criativas no mesmo local. Isso é importante porque os artistas são profetas que atingem um grande público e movimentam a economia criativa.”