Comportamento

Pesquisa Voz dos Oceanos levanta dados para combater poluição por plástico

Campanhas visam regular a produção do material. Brasil recicla apenas 25% dos resíduos

Crédito: Voz dos oceanos/divulgação

Lixo recolhido pela expedição: excesso de plástico nos mares tem impacto sobre a contaminação de alimentos, entre eles os frutos do mar (Crédito: Voz dos oceanos/divulgação)

Por Maria Ligia Pagenotto

Em 11 de maio, as biólogas marinhas Marília Nagata e Jessyca Lopes, a oceanógrafa Katharina Grisotti e a jornalista Thamys Trindade partiram de Itajaí, em Santa Catarina, dispostas a percorrer quase 10 mil quilômetros do litoral brasileiro para analisar e documentar o impacto da poluição por plásticos em 891 amostras de bivalves (frutos do mar, como ostras e mexilhões). Em 15 de julho, as quatro mulheres chegaram a Belém, no Pará, encerrando a Expedição Científica da Voz dos Oceanos, liderada pela Família Schurmann.

O estudo, inédito, conta com a coordenação do professor Alexander Turra, responsável pela cátedra Unesco de Sustentabilidade Oceânica, do Instituto Oceanográfico da USP, e tem por objetivo traçar um diagnóstico sobre a presença de microplásticos em organismos marinhos. Os resultados desse levantamento devem ser apresentados na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, em Belém.

“Ainda é cedo para poder dizer algo conclusivo sobre o estudo, mas, pelo padrão de distribuição dos microplásticos marinhos no Brasil e no mundo, esperamos encontrar poluição em nossas amostras”, adianta a bióloga Marília Nagata. Por meio do consumo de frutos do mar, a pesquisa pretende dimensionar também o impacto da poluição na alimentação e no organismo humano.

Problema mundial

“Eu costumo dizer que eu sou alérgica a plástico descartável e essa ‘alergia’ é resultado do que testemunhamos desde o final dos anos 1990. Durante a nossa segunda volta ao mundo, numa ilha deserta do Pacífico, nos deparamos com plásticos descartáveis de todas as partes do mundo. A partir de então, notamos que essa invasão vinha crescendo”, afirma Heloisa Schurmann, à frente da iniciativa juntamente com o marido, Vilfredo Schurmann.

Segundo ela, foi com base nessa e em outras experiências similares da família no mar, que nasceu o projeto Voz dos Oceanos, a fim de chamar atenção da sociedade para a extensão do problema. Os Schurmann estão trabalhando ao lado de organizações que atuam no movimento Julho sem plástico, surgido em 2011 na Austrália, e estão mobilizados em prol da campanha “Pare o Tsunami de Plástico”, em defesa do Projeto de Lei 2524/2022, com foco na regulação da produção do plástico.

Isso porque, segundo a Oceana, organização internacional de proteção dos oceanos, o Brasil não recicla nem 25% dos resíduos plásticos gerados. Ou seja: a reciclagem faz parte da solução, mas sozinha é insuficiente.

A pesquisa Voz dos Oceanos, segundo Marília, espera contribuir para a elaboração de políticas públicas que mudem essa realidade. “O desafio é grande, mas nos animamos porque, ao longo da expedição, não vimos apenas poluição. Encontramos muitas iniciativas positivas”.

Heloisa reforça o otimismo: “Existe uma grande onda se formando em defesa dos nossos oceanos, precisamos do comprometimento de todos os setores”.