Comportamento

Cozinhando por música: conheça chefs que trocaram guitarras por fogões

Artistas famosos, do rock ao samba, deixam seus instrumentos de lado e profissionalmente se tornam chefs. Outros optam por combinar o palco com o comando de restaurantes. Mas todos concordam em um ponto: fazer bom som ou criar um prato exige teoria e criatividade — é o saber e o sabor

Crédito: Andre Lessa

O chef Xavier Leblanc (à esq.), no La Tartine: antigo baixista da Metrô soma quase três décadas de sucesso no bistrô paulistano (Crédito: Andre Lessa)

Por Ana Mosquera

Tornou-se comum assistir à modelos, apresentadores, cantores, compositores e outros profissionais de áreas diversas migrarem para a gastronomia. Izabela Tavares trocou a moda pela padaria artesanal, e atores como Milhem Cortaz e Joaquim Lopes passaram a investir também em negócios nesse setor. A apresentadora Rita Lobo tem um passado nas passarelas. Na música não é diferente: de veteranos a novatos, do samba ao rock, há quem troque a rotina dos palcos pela das cozinhas, assim como os que aproveitam as viagens em turnê para conhecer outras culturas alimentares. É o caso do vocalista Alex Kapranos, da banda escocesa Franz Ferdinand, que uniu as notas musicais à gastronomia, resultando em uma coluna no jornal britânico The Guardian e, mais tarde, no livro Sound Bites: Eating on Tour with Franz Ferdinand.

(Divulgação)

Há quase 40 anos, Xavier Leblanc conheceu o Brasil fazendo shows como baixista da banda Metrô, mas foi em São Paulo, uma década atrás, que seu sucesso mudou de rumo. Como sócio e chef do La Tartine, ele cultiva um pedaço da França na capital paulista, com receitas como o quiche da mãe e o pâté de campagne do avô.

A relação com a música, lembra ele, também vem de família. “Eu ajudava minha mãe na cozinha todos os domingos, enquanto ouvia os rolos revox de quatro horas que meu pai colocava, e o jazz ressoava na casa inteira”. Há mais pontos comuns entre música e gastronomia do que se possa imaginar: talento, dedicação e convivência com o público são alguns, pontua ele, que dá destaque ao principal. “As duas são artes, pois você compõe uma música e cria um prato”.


O chef Guilherme Almeida, ex-baixista da Pitty: maturidade trouxe disciplina para lidar com o dia a dia dos restaurantes estrelados (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)

Ex-baixista da Pitty, Guilherme Almeida vem ganhando espaço em restaurantes europeus de renome. Após passar por lugares como o Smoked Room, em Madrid, e o Hélène Darroze at The Connaught, em Londres – com duas e três estrelas Michelin, respectivamente –, hoje integra a equipe do argentino Mauro Colagreco, na capital britânica.

Apesar de aposentado das cordas, ele leva o conhecimento dos palcos para os fogões. “Na música, eu aprendi a conectar o cérebro à ponta dos dedos, o que facilitou os movimentos dentro da cozinha, onde é preciso ter agilidade para executar algo inédito”. Em comum, ainda há a necessidade de antecipar os pensamentos. “Em ambas as atividades é preciso prever o que virá, seja o próximo acorde ou ingrediente”.

O chef Vitor Bourguignon: encontros com a banda de pagode Barba Nigra continuam entre os hobbies do participante do MasterChef Brasil (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)

Por mais que a música como profissão fique para trás, a relação intrínseca dos cozinheiros com essa arte não morre.

O chef paranaense Vitor Bourguignon chegou a levar os colegas da banda Barba Nigra para a prova de seleção do MasterChef Brasil, em lugar de membros da família. Conhecido como “cozinheiro pagodeiro”, hoje concebe a música como hobby, trilha sonora dos vídeos de receita nas redes sociais e inspiração. “Assim como a música é construída sobre harmonias, escalas, a gastronomia se dá quando se junta um ingrediente ao outro. Em ambas, é preciso responder a uma base teórica, e as notas, combinadas, causam sensações.” Bourguignon é chef e proprietário do restaurante especializado em strogonoff Strô e do açougue moderno Boi and Beer, em Curitiba.

Palhetas e panelas

A gastronomia imita a música, e vice-versa. “Nos anos 1980, eu fazia as próprias camisetas, pintava com pincel atômico, punha rebite nas roupas. O hardcore e o punk rock trouxeram a criatividade que hoje executo nos restaurantes”, diz o chef Henrique Fogaça. Sócio dos restaurantes Sal, Cão Véio e Jamile, todos em São Paulo, ele ainda é jurado do MasterChef Brasil e vocalista da banda Oitão. Se a música tinha lugar de escape, a banda vem adquirindo tom cada vez mais profissional, muito graças à sua promoção dentro da gastronomia. “A visibilidade da TV ajuda a alcançar públicos diferentes. São pessoas que consomem programas como o MasterChef e que também simpatizam com o rock”, diz Fogaça, por cuja cozinha já passaram bateristas, guitarristas e outros tantos artistas.

O chef Vitor Bourguignon, encontros com a banda de pagode Barba Nigra continuam entre os hobbies do participante do MasterChef Brasil (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)