Economia

A explosão de vendas das roupas usadas

Mercado mundial de vestuário second hand, de segunda mão, deverá faturar o equivalente a R$ 1,92 trilhão até 2025

Crédito: Rogerio Cassimiro

Malena aposta no reaproveitamento de roupa vintage (Crédito: Rogerio Cassimiro)

Por Maria Ligia Pagenotto

A chamada moda circular, apoiada no conceito de reutilizar em vez de desperdiçar, ganha seguidores em todo mundo. É um contraponto ao modelo das fast fashion, lojas que vendem peças baratas mas de pouca durabilidade. A tendência não é exatamente nova, mas intensificou-se de anos para cá, ganhando mais força no período da pandemia. Até 2028, as vendas mundiais de vestuário de second hand (segunda mão) deverão envolver US$ 350 bilhões (R$ 1,92 trilhão) e representarão dez por cento mercado mundial da moda até 2025. Só em 2023, o bolo dos usados cresceu 18%, atesta pesquisa com 3.654 consumidores americanos.

O levantamento incluiu também uma pesquisa em 50 das principais marcas de varejistas dos Estados Unidos. O setor cresce 12% ao ano. “Sem dúvida, estamos diante de um mercado em franca expansão”, atesta Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo.

Um dos pilares desse crescimento é a ascensão dos brechós, espaços que vendem roupas e acessórios second hand em plataformas online ou em lojas físicas.

A consultora de moda Malena Russo, no setor há 30 anos, diz que sempre se preocupou em disseminar a ideia de “armário inteligente”, com olhar na economia e no upcycling, o reaproveitamento de objetos antigos com respeito à sustentabilidade. Ela garimpa peças usadas em suas viagens a Milão e Paris e defende que ter poucas roupas, a serem combinadas entre si, é muito melhor do que manter um armário abarrotado de peças descartáveis.

Sua loja, a MR, na região de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, vende itens únicos, alguns do mercado de luxo, mas a preços acessíveis, por serem de segunda mão. Os jovens, segundo observa, são os que mais impulsionam o second hand. “Sobretudo por dois fatores: sustentabilidade e preços mais baixos”, diz. Mas não só. Segundo Malena, muitos vão a brechós em busca de peças vintages e produções inusitadas.

Peça Rara deverá faturar R$ 300 milhões e chegar a 300 lojas em 2024 (Crédito:Rogerio Cassimiro)

Preocupada em empreender, Bruna Vasconi fundou, em 2007, de forma modesta, o brechó Peça Rara, por ter afinidade pessoal com esse tipo de negócio. “Sempre procurei peças usadas, por serem únicas e diferentes. Mas, na época, não tinha noção da grandeza que o setor iria alcançar”, afirma.

Com 180 lojas abertas e um faturamento de R$ 300 milhões previsto para 2024, o dobro de 2023, Bruna diz que seu crescimento tem contribuído para dar mais visibilidade ao conceito de second hand. A empresa pretende chegar a 300 pontos de venda até o final do ano. As lojas da Peça Rara, segundo ela, oferecem produtos de preços variados e grifes com boa relação custo/benefício, o que acaba por dar oportunidades para que mais pessoas adquiram roupas de boa qualidade e duráveis.

Outro exemplo dessa expansão, também no modelo de franquias, é o Enjoei, sucesso nas plataformas online há 15 anos. A primeira loja foi inaugurada em abril último, na Vila Madalena, também zona oeste paulistana. Outros dois pontos da franquia, na rua Frei Caneca e no bairro do Campo Belo, zona sul de São Paulo, serão abertos até agosto.

Enjoei tem o maior e-commerce do mercado de segunda mão do País (Crédito:Rogerio Cassimiro)

O Enjoei, fundado por Ana Luiza McLaren e Tiê Lima, é o maior e-commerce de itens second hand do Brasil. Desde a inauguração, cerca de quatro milhões de usuários anunciaram 84,6 milhões de produtos na plataforma e mais de 4,4 milhões de consumidores compraram por meio do site ou aplicativo da empresa.

Esse cenário promissor do second hand no Brasil é referendado por uma pesquisa do Relatório de Revenda de 2024, de uma das maiores plataformas online de roupas, calçados e acessórios usados: a TherdUP. De acordo com o estudo, apenas nos Estados Unidos, o setor cresceu, em 2023, sete vezes mais rápido do que o de roupas novas.

Os motivos são os mesmos apontados pelas lojistas: produtos a preços atraentes e a questão ambiental, que tem estimulado o consumo consciente. “Não temos dados precisos, mas o Sebrae estimou que o second hand poderá ter um potencial de crescimento 12 vezes maior do que o do varejo tradicional”, afirma Gamboa. Pagar pouco e contribuir para a sustentabilidade, de fato, cai bem.