Em Hollywood, os veteranos se divertem com remakes. E a plateia?
Culto à nostalgia ou falta de criatividade? Estúdios de Hollywood e plataformas de streaming apostam em sequências de produções criadas há mais de trinta anos
Por Felipe Machado
Não é de hoje que as sequências dominam Hollywood. Há um bom tempo os grandes estúdios vêm priorizando as continuações na tentativa de garantir boas bilheterias, apostando na identificação do público com personagens já testados e bem recebidos. Ao longo de 2024, porém, o cenário parece beirar o desespero: produtores e atores veteranos foram buscar inspiração em produções realizadas há mais de três décadas. Os lançamentos exploram a nostalgia de gerações que cresceram assistindo aos longas originais, mas também levantam questões sobre a criatividade da indústria cinematográfica atual.
Dirigido por Tim Burton, o clássico Beetlejuice foi um marco do cinema de fantasia e comédia. Conquistou legiões de fãs com suas cenas bizarras e o inesquecível desempenho de Michael Keaton como o fantasma protagonista. A sequência promete trazer de volta o charme excêntrico e a estética peculiar de Burton, com Keaton e Winona Ryder reprisando seus papéis. A participação de Jenna Ortega (de Wandinha, sucesso no streaming) sugere uma tentativa de conectar a nova geração ao legado do filme.
A nostalgia desempenha um papel central no apelo de Beetlejuice 2. Para muitos, o retorno ao universo do primeiro filme é como uma viagem no tempo, um reencontro com uma parte querida das décadas passadas. A decisão de reviver um filme tão antigo é um sintoma da falta de inovação em Hollywood, onde a segurança financeira de franquias estabelecidas supera a busca por novas histórias e personagens.
De volta ao passado
Outro exemplo da tendência é Um Tira da Pesada 4, disponível na Netflix. O original de 1984 catapultou Eddie Murphy ao estrelato aos 22 anos — hoje o ator está com 63 — como o policial Axel Foley. Após duas sequências nos anos 1980 e 1990, Murphy reassume seu papel mais famoso ao lado de Taylour Paige, Joseph Gordon-Levitt e Kevin Bacon, outro ator identificado com os anos 1980.
O filme aposta no charme das comédias da época, mas seu retorno comprova a escolha por seguir caminhos seguros, ao invés de explorar novas direções. É praticamente o mesmo filme, apenas com o elenco mais velho.
Há pelo menos um exemplo que conseguiu balancear nostalgia e inovação. A série Cobra Kai, que chega a sua sexta e última temporada, é uma continuação da franquia Karatê Kid, iniciada em 1984. Ao trazer de volta Ralph Macchio e William Zabka como Daniel LaRusso e Johnny Lawrence, respectivamente, a série revitaliza a rivalidade dos personagens, agora adultos, enquanto introduz uma nova geração de aprendizes de karatê. O fato de assumir o avanço na idade dos personagens permite tratar o material original com uma abordagem fresca.
O apelo dessas produções é inegável. Elas oferecem ao público a oportunidade de reviver momentos da juventude, ao mesmo tempo em que introduzem os filmes a uma nova geração. Revelam a falta de coragem do mercado cinematográfico contemporâneo. Por um lado, celebram clássicos capazes de conectar gerações. Por outro, são provas de que a indústria prefere jogar na segurança em vez de apostar no novo. Enquanto o público aplaudir esses retornos, Hollywood voltará a eles.