Comportamento

Gavião Peixoto é a melhor cidade para morar no Brasil, diz ranking. Veja por quê

Interior de São Paulo emplaca 8 entre as 10 melhores cidades do País para se viver e consolida a região em qualidade de vida

Crédito: Marco Ankosqui

Nascido em Gavião Peixoto, Alessandro passeia com a mulher, Rosângela, Sofia e Pietro no Parque Ecológico (Crédito: Marco Ankosqui)

Por Luiz Cesar Pimentel

Se você colocar um alfinete no centro do mapa do Estado de São Paulo, é possível que espete um pequeno município com 4.702 residentes divididos entre 26 ruas, índice de ocupação de 86,22% da população adulta, 98,7% dos jovens entre 6 e 14 anos matriculados em escolas, dona do salário médio mais alto entre os 675 municípios paulistas (R$ 6.300) e vida emancipada de apenas 28 anos, chamada Gavião Peixoto. É a melhor cidade para se morar entre as 5.770 do País, segundo o primeiro relatório do Índice de Progresso Social do Brasil (IPS Brasil), a maior iniciativa subnacional do mundo para medição do desempenho social e ambiental.

Além disso, o município, que até 1995 era um distrito de Araraquara, está localizado no miolo de região paulista que concentra 8 dos 10 melhores lugares para se viver, segundo o ranking.

A pontuação de Gavião Peixoto foi 74,49, em contagem que leva em consideração três pilares:
 necessidades humanas básicas,
fundamentos do bem-estar,
e oportunidades.

Entre os indicadores avaliados estão:
saneamento básico,
moradia,
segurança pessoal,
acesso ao conhecimento básico e à informação,
inclusão social,
acesso à educação superior,
e mercado de trabalho.

Para comparação, a média do Brasil ficou em 61,83 pontos.

Visualmente, as oito cidades no topo do ranking estão localizadas quase em uma reta entre dois importantes polos comerciais do Estado — Campinas, que é conhecido centro tecnológico e industrial, além de contar com universidades de excelência, e Ribeirão Preto, que leva o apelido de Califórnia Brasileira, dada sua importância no agronegócio, principalmente com cana-de-açúcar e etanol.

(Divulgação)

“Investir em obras é fácil. Nós escolhemos fazer investimento por melhores seres humanos.”
Adriano Marçal, prefeito de Gavião Peixoto

Indaiatuba, Jaguariúna, Águas de São Pedro, São Carlos, Araraquara, Nuporanga e Gabriel Monteiro, as sete outras paulistas no Top 10, tiram proveito da opulência da região.

Gavião Peixoto, apesar de um agro robusto com destaque para laranja e cana-de-açúcar, se beneficia da presença de uma usina hidrelétrica da CPFL Energia na cidade e, principalmente, por abrigar a segunda sede da fábrica da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronaves), desde 2001. “A Embraer é importante, mas ela também está em Botucatu, em São José dos Campos. Nosso maior investimento para chegar a esta posição foi em seres humanos — na qualificação profissional, na saúde, educação”, diz em entrevista à ISTO É o prefeito Adriano Marçal, que mora há 50 de seus 55 anos na cidade.

“É uma cidade maravilhosa, muito tranquila. Não tenho o que reclamar daqui. A segurança é muito boa, já vi violência, mas uma só vez na vida”, completa Alessandro Ribeiro da Silva, orgulhoso de ser “nascido e criado” há 42 anos no município. “Receber o reconhecimento é gratificante, e coroa vários prêmios que recebemos, como melhor trabalho no Estado durante a Covid, melhor município até 30 mil habitantes e cidades excelentes para se viver”, completa o prefeito.

Pujança histórica

O interior paulista viveu ciclos de importância econômica para se consolidar com a força atual.

O primeiro foi a gênese do agronegócio, que começou com a produção de café no final do século XIX, crescendo a diversidade posteriormente com cana-de-açúcar, laranja, soja e carne bovina, principalmente.

Nas décadas de 1950 e 60, a região foi palco de processo de industrialização, com instalação de operações especialmente nos setores de máquinas e equipamentos, alimentício, de bebidas e têxtil.

Um círculo próspero foi formado com investimento em infraestrutura e construção de rodovias de qualidade, ferrovias e aeroportos para escoamento da produção e que resultaram na facilitação de mobilidade das pessoas. A cereja do bolo aconteceu com a instalação de polos estudantis e tecnológicos, com algumas das melhores universidades do País e que formam mão de obra altamente qualificada.

Mas nem tudo são flores nos números do Estado mais rico da União. São Paulo ficou em sexto lugar no ranking das capitais, com 68,79 pontos, atrás de Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Florianópolis e Curitiba. As duas primeiras são as que completam o topo das 10 melhores do País.

As representantes de cada Estado mostram retrato de outro Brasil, desigual, onde 57% da população de 203 milhões se concentra em apenas 319 municípios dos quase 6 mil. Na outra ponta da tabela, com pontuações entre 37 e 42, os 10 piores índices brasileiros de qualidade de vida reúnem sete municípios paraenses e três roraimenses.

Enquanto isso, em Gavião Peixoto, a preocupação do prefeito é alcançar uma boa estrutura para que o município cresça, agora que atraiu os holofotes. “Há preocupação da administração pública nesse sentido. Precisamos investir para que haja desenvolvimento com qualidade”, diz. “Mas destaco que mais do que a construção de prédios ou obras, nós preferimos construir seres humanos melhores e mais preparados, com apoio à educação. O resultado está aí”, diz o prefeito local.