Economia

O novo Steve Jobs. Ou seria o novo Elon Musk? Conheça Jensen Huang, da Nvidia

Tido como visionário, Jensen Huang aposta na inteligência artificial, transforma sua Nvidia numa das três maiores empresas de capital aberto do mundo e vira o popstar da vez entre admiradores do universo tecnológico

Crédito: Chiang Ying-ying

Valor da Nvidia de Huang foi de U$S 1,2 bi para US$ 3,3 bi em menos de seis meses (Crédito: Chiang Ying-ying)

Por Maria Ligia Pagenotto

Ele foi apresentado nas redes sociais por ninguém menos do que Mark Zuckerberg, o todo poderoso da Meta, como “a Taylor Swift da tecnologia”. Jensen Huang, 61 anos, taiwanês de nascimento com cidadania americana, é fundador e CEO da multinacional de soluções tecnológicas e inteligência artificial Nvidia, uma das três empresas de capital aberto mais valiosas do mundo, ao lado de Microsoft e Apple. Foi cotada dias atrás a US$ 3,3 trilhões (R$ 17,85 trilhões) em ranking da revista americana de economia Forbes. Quem o viu em público, como Zuckerberg, tem autoridade para dizer que, no universo tecnológico, ele possui dimensão semelhante à da cantora americana no show business. A performance de astro pop foi consolidada semanas atrás durante a Computex, evento de tecnologia em Taipei, capital de Taiwan, sua cidade natal. Alvo de uma profusão de celulares em busca de fotos, deu autógrafo até em roupa íntima, a pedido de uma fã mais exaltada.

O salto da Nvidia no mercado foi espantoso.
No início do ano, valia US$ 1,2 trilhão (R$ 6,5 trilhões).
Uma valorização gigantesca de 177% no período.
De quebra, inflou o patrimônio pessoal de Huang para US$ 188,8 bilhões (R$ 643,16 bilhões), o 11º do mundo.

O reconhecimento foi construído em décadas com a produção de placas de vídeo para jogos eletrônicos. Os processadores gráficos da Nvidia – GPUs (Graphics Processing Units, unidades de processamento gráfico) – foram pioneiros nos anos 1990. O status de pop star foi alcançado mais recentemente, quando a empresa saiu do nicho de games, explica Evandro Barros, fundador da DATA H Artificial Intelligence e cofundador do Instituto de Inteligência Artificial Aplicada.

Para ele, Huang foi visionário ao apostar, há mais de dez anos, no desenvolvimento de GPUs para tarefas de inteligência artificial. “Ele merece esse reconhecimento”, assegura Barros. “Com a Nvidia na casa do trilhão, Huang tornou-se o novo ídolo do mercado de tecnologia, como foram, em outros contextos, Steve Jobs na Apple e Elon Musk na Tesla”, compara.

A Nvidia lançou a plataforma Blackwell, com grande poder de processamento em tarefas de inteligência artificial. É, segundo Huang, a GPU mais potente de todos os tempos. Ele está no comando da empresa há 30 anos. A exemplo de Jobs, com suas camisas pretas de gola rolê, calças Levi’s 501 e tênis New Balance, é sempre visto com uma jaqueta preta de couro avaliada em US$ 9 mil.

(JIJI Press / AFP)

“Jensen Huang é a nova estrela do nosso meio. Ele é a Taylor Swift da tecnologia.”
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, controladora do Instagram, sobre o fundador da Nvidia. Os dois trocaram de jaqueta em evento recente

Como várias figuras de sucesso com histórias de superação, Jensen Huang tem uma biografia salpicada por clichês.
Nasceu na pobre Taiwan dos anos 1960.
Mudou-se criança para a Tailândia.
Mais velho, foi enviado com um irmão para os EUA.
Foi interno numa escola batista rural no estado de Kentucky, custeada com esforço pela família.
Como tarefa, limpava os banheiros.
Antes de ingressar na universidade e no mundo da tecnologia, lavou pratos, limpou mesas e trabalhou como garçom numa lanchonete da rede Denny´s em Portland, no Oregon.

Huang é o CEO há mais tempo à frente de uma multinacional de grande porte. Na universidade do Oregon, cursou Engenharia Elétrica e conheceu Lori Mills, colega de laboratório. Casaram-se e tiveram dois filhos. Ao lado de outros dois engenheiros – Curtis Priem e Chris Malachowky -, fundou a Nvidia em 1993. De forma emblemática, a empresa nasceu durante um café da manhã dos colegas numa unidade do Denny´s. Só que, desta vez, na Califórnia, na região do Vale do Silício.

Jobs (acima) usava camisa de gola alta e jeans Levi’s. Huang prefere uma jaqueta de couro de US$ 9 mil (Crédito:Justin Sullivan)

Nas redes sociais, há imagens dele trocando de jaqueta com Zuckerberg e exibindo uma tatuagem feita no braço com o logo da Nvidia. O caminho do ídolo com pegada pop se mescla ao do homem de negócios poderoso. A previsão é de que a Nvidia irá faturar este ano US$ 12 bilhões (R$ 65 bilhões) no mercado chinês com a venda de chips de IA. O dobro do que ganhará a concorrente Huawei. O homem da jaqueta de couro avança pelo mundo.

Os frutos de uma gestão criativa

Huang tem 50 subordinados diretos e se destaca por saber dialogar com pesquisadores, acadêmicos e empresários

A Nvidia se destaca, acima de tudo, por seu inspirado e aprimorado modelo de gestão. Huang é tido como chefe participativo e próximo dos funcionários. Numa reportagem para The New York Times, disse ter 50 pessoas reportando-se diretamente a ele.

Essa atitude se contrapõe à da maioria dos CEOs, que costumam ter poucos subordinados diretos. Gil Giardelli, educador e palestrante sobre tecnologia, diz que Huang tem visão de futuro e foge ao óbvio. “Ele atrai interesse e seu nome realmente faz frente a todos os grandes gestores do Vale do Silício”.

Por ser cidadão sino-americano, transita bem entre a cultura chinesa e a do EUA. Dessa forma, dialoga com pesquisadores, acadêmicos e empresários e consegue apresentar conceitos inovadores de gestão. “Huang nos faz pensar que quase tudo o que nos trouxe até aqui não cabe mais no século XXI”, resume o educador.