“Menino de ouro”: Lula rasga seda para Galípolo, provável nome para presidir o BC

Crédito: Ton Molina

Favorito: Galípolo deverá ser o indicado de Lula para presidir o Banco Central (Crédito: Ton Molina)

Por Germano Oliveira

Quando assumiu, Haddad escolheu Gabriel Galípolo para ser seu secretário-executivo. Logo, ele foi nomeado diretor de Política Monetária do BC, como o homem do governo para vir a ocupar a presidência da instituição a partir do dia 31 de dezembro, ao final do mandato de Roberto Campos Neto. Esquecendo que o BC agora é independente, e que suas decisões são técnicas — no sentido de manter os juros mais elevados para evitar a volta da inflação —, o mandatário vinha atacando Neto diariamente e provocando preocupantes altas no dólar. Embora todo mundo saiba sobre esse favoritismo, o petista deu uma entrevista à Rádio Itatiaia na quinta-feira, 27, praticamente confirmando o desejo. “O Galípolo é um menino de ouro”, ressalvando, porém, que ainda não acertou isso com ele. E precisa?

Dólar

O fato é que sempre que Lula bate em Neto, o dólar dispara. Na terça-feira, 2, após a enésima vez em que criticou o presidente do BC, o dólar bateu em R$ 5,70. Em entrevista à Rádio Sociedade (BA), o petista disse que “há um jogo de interesse especulativo contra o Real”, mas ele mesmo vinha estimulando esse movimento. Neste ano, o dólar já subiu 15%.

Fiscal

Embora economistas de todas as correntes, incluindo o próprio Haddad, digam que o corte nos gastos públicos é imprescindível para o equilíbrio fiscal, e a consequente redução das incertezas na economia, Lula mostra-se refratário ao corte de despesas da União, afirmando que não vai reduzir investimentos voltados para os pobres. Pensa em 2026.

Blusinhas mais caras

(Ton Molina/Fotoarena/Agência O Globo)

Não adiantou a primeira-dama Janja da Silva reclamar. Lula sancionou, na semana passada, o projeto aprovado no Congresso que acabou com a isenção do Imposto de Importação sobre compras de até US$ 50. Além do novo imposto de 20%, as “bugigangas”, como diz o presidente, vão pagar ainda 17% de ICMS aos estados. Em uma roupa de R$ 100, o consumidor vai pagar R$ 144,58. Haddad vai encher os cofres ainda mais.

Rápidas

Os eventos de Lula para liberar recursos para obras nas capitais têm causado polêmica. Em SP, ele deixou de assinar contrato de R$ 1 bilhão para a expansão do Metrô porque o prefeito Nunes não compareceu, reclamando que o petista estava acompanhado por Boulos, seu adversário.

Finalmente acabou a greve nas 59 universidades federais, depois de uma paralisação dos professores que durou mais de dois meses, após reajustes salariais para todos (12,5% para professores e 14% para os técnicos).

Por causa da escassez de chuvas, a ANEEL vai acionar, em julho, a bandeira tarifária amarela e com isso a energia encarecerá 2,6%, pressionando a inflação. E o inverno só está começando. Isso não acontecia desde abril de 2022.

Bolsonaristas mais extremistas estão insatisfeitos com o apoio ao prefeito Ricardo Nunes, considerando que ele não representa a direita. Apoiam Pablo Marçal e um dos elos de ligação é o deputado Ricardo Salles.

Retrato falado: Pedro Malan

“Uma atitude muito leniente com a inflação é punida nas urnas”, diz Pedro Malan (Crédito: Leo Martins / Agencia O Globo)

Pedro Malan, um dos executores do Plano Real, disse ao “Estadão” que após o País ter se saído vitorioso no combate a hiperinflação, ninguém mais aceitaria retroceder. Para ele, a população puniria nas urnas o governante que eventualmente seja leniente com aumentos de preços. O ex-ministro da Fazenda no governo FHC, que deu continuidade à implantação do Real, disse que “a população percebe que é obrigação de um governo e direito do cidadão a preservação do seu poder de compra”.

Menos presos

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) prepara mutirão para desencarcerar milhares de pessoas detidas por conta do porte de pequenas quantidades de maconha. De cara, há 6.343 processos que aguardam a decisão do Supremo quanto às suas penas por terem sido flagradas com até 40 gramas da droga. Agora, os ministros vão considerá-las apenas viciadas, ao invés de serem encaminhadas a um presídio, como acontecia até a decisão da Suprema Corte de descriminalizar o uso do entorpecente. Estudo do IPEA em poder do CNJ mostra que o Brasil tinha, em 2022, um total de 820.159 presos e que a decisão do STF deve beneficiar quase 20 mil detentos. Podem ser soltos em breve.

Réus primários

Para o presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, a decisão da maioria dos integrantes da Corte permite o estabelecimento de uma forma de a Justiça lidar com a superlotação dos presídios, abarrotados por jovens primários, com bons antecedentes e pegos pelo porte de pequenas quantidades da droga.

O fator Datena

(Rodilei Morais/Fotoarena/AgÍncia O Globo)

A entrada de José Luiz Datena, apresentador de TV, nas eleições para a Prefeitura de SP, mudou o cenário eleitoral, que até o início de junho estava polarizado entre o prefeito Ricardo Nunes e o deputado Guilherme Boulos. Em pesquisa da Genial/Quaest, da semana passada, Datena já tinha 17%, em empate técnico com Nunes (22%) e com Boulos (21%).

Agora vai?

Como é a quarta vez que o radialista se lança candidato, e depois desiste, teme-se que faça o mesmo agora. Como a legislação prevê que um comunicador precisa sair do ar até o dia 1º de julho, Datena anunciou que sairá de férias durante o período da campanha. O PSDB, partido que o adotou, espera que ele ajude a reconstruir a legenda em SP.

Em defesa do debate

(Andressa Anholete/SCO/STF)

Apesar de Edson Fachin, vice-presidente do STF, ter criticado a presença de seis ministros do tribunal no Fórum Jurídico de Lisboa, apelidado de “Gilmarpalooza”, a iniciativa foi defendida pelo ministro Flávio Dino, o mais novo integrante da Corte. “Por que um fórum em Lisboa e não no Brasil? Porque talvez no ambiente polarizado daqui seja impossível”.

Toma lá dá cá: Simão Davi Silber, da FEA-USP

Simão Davi Silber, professor da FEA-USP e pesquisador da FIPE (Crédito:Divulgação )

Que balanço o senhor faz destes 30 anos de implantação do Plano Real?
Resgatou a estabilidade do poder de compra da moeda e acabou com a hiperinflação de 14 anos que desorganizava a economia. Foi um grande avanço.

Quais os principais legados da moeda para a estabilidade da economia?
O plano preservou o poder de compra do assalariado brasileiro e estancou a piora na distribuição de renda, que é a 2ª pior do planeta, de acordo com o índice Gini de 2022.

O que esperar do Real para os próximos anos?
O grande guardião do Real é o cidadão, que aprendeu que a estabilidade de preços é um enorme benefício. No entanto, o desequilíbrio nas contas públicas ainda é a grande ameaça para a economia do País.