Comportamento

Moda encampa movimento do corpo livre e busca se tornar mais inclusiva

Estilistas e pesquisadores criam peças ajustáveis, permitindo que o plus size vá além de modelagens fixas. Com isso, usuários e marcas divulgam o tema nas redes sociais, colocando pressão nas passarelas contra exclusividade de criações para pessoas magras

Crédito: Silvia Zamboni

Juliana Midori e Antonio Slusarz, do IED: mecanismos ajustáveis permitem saias para cinturas de 65 a 120 cm (Crédito: Silvia Zamboni )

Por Ana Mosquera

À medida que os padrões de beleza feminina vêm sendo cada vez mais questionados – os cabelos brancos já são aceitos, e a fuga aos procedimentos estéticos e ao salto alto começa a ser normalizada –, o movimento do corpo livre ganha novo contorno também entre os profissionais da moda. Enquanto os estilistas se adequam para superar um plus size caricato, com cortes básicos e cores neutras, mulheres ocupam o mundo real (passarelas e ruas) e produzem conteúdo no virtual (as redes sociais) de modo a romper paradigmas.

A empresária e escritora norte-americana Katie Sturino usa as redes para falar sobre o assunto e contestar a exclusividade de modelos a pessoas magras. Quem acessa seu perfil pode ver a ativista usando o mesmo conjunto de agasalho vermelho e justo da atriz Gwyneth Paltrow ou um maiô verde e cavado similar ao da também atriz Sofia Vergara.

Acadêmicos se debruçam sobre a pesquisa, criando projetos para pensar o futuro das peças sustentáveis e ajustáveis ao corpo.

 Aluna do Istituto Europeo di Design (IED), em São Paulo, Juliana Midori idealizou e desenvolveu o projeto de TCC “oru” (do japonês, dobrar tecido ou papel) em cima do conceito de Modelagem Zero Waste, que visa a reduzir o desperdício de matéria-prima. Tão urgente quanto priorizar uma moda mais sustentável é pensá-la como inclusiva, sem abrir mão da estética e da funcionalidade. “Eu enxergo os modelos ajustáveis como uma forma de fazer as roupas servirem às pessoas e não o contrário. Elas podem acompanhá-las por um período mais longo, adequando-se às mudanças de seus corpos ao longo da vida”, diz Juliana.

Sem barreiras: a influenciadora Katie Sturino cria looks similares aos de celebridades magras nas redes sociais. Na foto, ela se veste como a atriz Kristen Stewart (Crédito: @katiesturino;)

A moda é atingida por uma forma de exclusão que vai além de ser destinada aos manequins mais magros. “Eu já ouvi pessoas falando que querem consumir de forma sustentável, mas que compram de fast fashion porque é onde tem roupas que servem para elas.”

O coordenador da Graduação em Design de Moda do IED, Antonio Slusarz, pontua a importância do projeto do ponto de vista econômico – já que um mesmo modelo se adapta a uma ampla grade numérica –, dentre outros benefícios. “O projeto ainda tem um caráter experimental, mas já mostra que é possível desenvolver uma marca a partir desses critérios.” Juliana pretende expandir o trabalho de conclusão de curso para um estúdio de design e consultoria.

Para todos: acima, a linha Curvas, da IDA, disponibiliza peças até o número 54. Abaixo, a modelo Letticia Munniz em foto histórica (Crédito:Luca Oliva)

Corte Democrático

Nas passarelas e capas de revista, modelos como Letticia Munniz e Fluvia Lacerda rompem barreiras e se destacam, ao mesmo tempo em que lutam contra o preconceito. A grife paulistana IDA possui a linha Curvas: se a ideia inicial era estender a numeração de peças existentes em coleção especial, hoje diversas roupas da marca como um todo já são pensadas em tamanhos que vão além do usual 44.

“Criar modelos para a multiplicidade de corpos que existem é promover a identificação com o vestir e a moda a um número mais amplo de pessoas, sem que haja segregação”, diz Paolla Muglia, estilista da marca.

Para o pesquisador em filosofia e teoria de Moda pela USP, Brunno Almeida Maia, o Brasil está avançado com relação ao tema, fortalecido por sua pluralidade cultural e diversidade de gêneros e corpos. “Há uma maior preocupação sobre o tema por conta dos profissionais da nova geração serem, em sua maioria, pessoas com corpos dissidentes. Isso é comprovado nas passarelas das principais semanas de moda, a São Paulo Fashion Week e a Casa de Criadores.”

(@letticiamunniz)