Aparências enganam

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Laira Vieira; "Como observou Friedrich Nietzsche: 'Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura'” (Crédito: Divulgação)

Por Laira Vieira

Há filmes que não apenas nos entretêm, mas também nos confrontam com os aspectos mais sombrios da natureza humana. Garota Exemplar (2014), dirigido por David Fincher (Clube da Luta, The Killer) e baseado no livro de Gillian Flynn, é um desses filmes. Uma obra que mergulha nas profundezas da psique humana, desvendando camadas de manipulação, obsessão e o complexo jogo do poder nas relações interpessoais.

No coração deste suspense psicológico – que está disponível na Netflix – está a história de Nick Dunne (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike), um casal que parece perfeito por fora, mas que esconde muitos segredos. Quando Amy desaparece, a atenção da mídia se volta para Nick, que rapidamente se torna o principal suspeito. O que se segue é uma intrincada teia de revelações, reviravoltas e manipulações, que desafiam as noções de verdade, justiça e moralidade.

Em um mundo onde as aparências muitas vezes obscurecem a realidade, a película nos lembra da fragilidade da confiança e da facilidade com que podemos ser enganados por aqueles que mais amamos. A obsessão pela perfeição, tanto na vida pessoal quanto na imagem pública, é explorada de forma brilhante, revelando as máscaras que muitas vezes usamos para esconder nosso verdadeiro eu — é uma reflexão da vida perfeita que muitos mostram nas redes sociais.

Assim como na vida real, onde a verdade muitas vezes é uma questão de perspectiva, somos desafiados a questionar nossas próprias noções de moralidade e justiça. Até que ponto estamos dispostos a ir para proteger nossos próprios interesses? Até onde podemos confiar naqueles que amamos? Estas são questões que ressoam além da tela, refletindo os dilemas morais enfrentados por muitos de nós na sociedade contemporânea.

Como observou Friedrich Nietzsche: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.” Em um mundo onde as aparências muitas vezes obscurecem a realidade, a película nos lembra da fragilidade da confiança e da facilidade com que podemos ser enganados pelos que mais amamos.

E a forma como Amy manipula sua imagem pública para se encaixar nos padrões de feminilidade aceitáveis, é uma crítica perspicaz à pressão que as mulheres enfrentam para se conformar com estereótipos de gênero irreais.

Garota Exemplar nos lembra da importância de questionar e desafiar as narrativas preconcebidas que moldam nossas percepções da realidade. É um lembrete vívido de que a verdade raramente é preto e branco, e que nossas próprias noções do que é real, podem ser profundamente influenciadas pelas forças invisíveis da sociedade — e que as aparências enganam, e muito. Tenha cuidado no que e em quem você acredita, mas sem se tornar um cínico.