Um sinal de respeito

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Ricardo Guedes: "Quanto tempo uma carteira com cartões e dinheiro em um banco da Praça da República em São Paulo duraria para ser levada? Ou na Praça da Candelária no Rio de Janeiro?" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Guedes

Tenho dois filhos atualmente no exterior, minha filha que se formou pela Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, e meu filho que é estudante na Universidade de Dalhousie, em Halifax, no Canadá.

Outro dia, ocorreu um fato bastante curioso com o meu filho no Canadá. Em uma quarta-feira, na praça central da Universidade, estava ele com um grupo de amigos quando ocorreu de perder a sua carteira, com cartões de crédito de três bandeiras, uma brasileira, uma internacional e outra canadense, com algum papel moeda.

Perdida a carteira, quando se deu conta no sábado, iniciou-se o longo processo de procura. Primeiro, no seu quarto de estudante, sempre arrumado, mas também desarrumado, como é de natureza. Então, pelas classes a que foi, na biblioteca, nos restaurantes dentro e fora da Universidade, no show que foi na sexta-feira, nos “lost and found” de diversos lugares, nos Uber que pegou. Sem sucesso, lembrou-se e decidiu ir à praça central da Universidade, na segunda-feira, “just in case”, onde lá encontrou a carteira, depositada em cima de um banco da praça, provavelmente por quem a encontrou, possivelmente na visível intenção de torná-la visível para todos que ali passavam até o encontro de seu dono. Foram cinco dias, que a carteira ali ficou. No que feliz ele ficou.

Pergunta: quanto tempo uma carteira com cartões e dinheiro em um banco da Praça da República em São Paulo duraria para ser levada? Ou na Praça da Candelária no Rio de Janeiro? Alguém arriscaria mais de uma hora? Meia hora? Quinze minutos? Qual fração de segundos?

Há uma diferença entre os países onde a classe política e econômica prevalece sobre o povo, e os países onde a cidadania prevalece sobre os governantes.

Max Weber diferencia entre três tipos de estruturas políticas.
A racional-legal, onde os governantes representam os interesses da população.
A carismática, que transforma as sociedades, para o bem ou para o mal, através de ações emocionais.
E a patrimonial, onde o domínio do Estado é o objetivo e hospedeiro da classe que lhe apropria, em seu benefício próprio, em detrimento da população. O Brasil classifica-se neste último caso.

Halifax é uma preciosidade a ser visitada. Descendentes de escoceses, formam uma cidade de 500 mil habitantes, alegres e educados, situada ao norte da costa atlântica, a uma hora e meia de voo de Toronto. Lunenburg, a 100 km de Halifax, é uma cidade de pescadores, de pesca no Mar do Norte, imperdível para quem ali vai.

O Canadá, juntamente com os países Escandinavos, forma, possivelmente o melhor conjunto de países do mundo, com graciosidade e eficiência, em modelos parlamentares e social-democratas. By the way: e tudo ali funciona! E ainda, com respeito.