Comportamento

Gastronomia com propósito: quem são os renomados chefs ativistas

Chefs encabeçam ações solidárias para auxiliar os afetados por desastres naturais e pessoas em situação de vulnerabilidade social em todo o País

Crédito: Divulgação

26 mãos: Alex Atala (3º em pé da dir. à esq.) recepcionou renomados cozinheiros para jantar em prol do Rio Grande do Sul, no Dalva e Dito, em São Paulo (Crédito: Divulgação )

Por Ana Mosquera

Ao passo que a gastronomia brasileira avança com seus chefs e projetos laureados por importantes prêmios mundiais e estrelas Michelin, a solidariedade dos seres humanos por trás dos jalecos conhecidos como dólmãs acompanha momentos de crise e desastres naturais. Mas não só: em um país desigual como o Brasil, renomados profissionais realizam projetos com foco na capacitação de merendeiras e pessoas em situação de vulnerabilidade social, por exemplo. Com a tragédia que se instalou no Rio Grande do Sul, a união vem fazendo muita força e, na gastronomia, jantares, livros e seminários vêm sendo organizados para angariar fundos aos afetados pelas enchentes.

É o caso da iniciativa Fermenta Brasil, idealizada pela Companhia dos Fermentados, que traz aulas online com 15 especialistas, como a expert em bebidas nacionais Isadora Fornari e a chef Priscilla Herrera, e tem 100% da renda revertida para o estado do Sul.

“É muito bom ver a gastronomia se mobilizando por uma causa de maneira natural e espontânea. O Sul vai precisar muito mais do que alguns jantares, é um apoio a longo prazo e o movimento de todo o setor é fundamental”, diz o chef Alex Atala, que recebeu 13 cozinheiros renomados em seu restaurante Dalva e Dito, em São Paulo.

Entre eles, estavam nomes como Roberta Sudbrack, Emmanuel Bassoleil, Telma Shiraishi, Fred Caffarena e Rodrigo Oliveira — ele mantém desde a pandemia o Quebrada Alimentada e se prepara para inaugurar uma cozinha-escola solidária. Além de Atala, os estrelados Ivan Ralston e Helena Rizzo, e muitos outros vêm reunindo parceiros para atitudes de solidariedade.

O chef Marcelo Schambeck: insumos das sopas são comprados de agricultores gaúchos para compensá-los nas perdas (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)

A muitas mãos

O chef Marcelo Schambeck prepara 250 papinhas por dia para bebês de abrigos, no contraturno de seu restaurante Capincho, em Porto Alegre, além de fornecê-las para o Quilombo dos Machados, em Sarandi. Engajado em projetos de alimentação escolar e produção orgânica, prepara-se para expandir as intervenções. “O trabalho na região do quilombo não pode ser pontual. Temos de pensar algo para o futuro, planejando ações construídas com a comunidade. Gostaríamos muito de poder fazer uma escola de qualificação para o setor de gastronomia.”

Mudança no menu e treinamento de merendeiras estão na trajetória da chef Ana Bueno, de Paraty (Crédito:Divulgação )

Era esse o sonho do chef Elia Schramm, que inaugurou a Scuola no último ano, no Rio de Janeiro. Desde a abertura, o centro de capacitação gratuito para atuação no serviço de bares e restaurantes formou 36 pessoas. “Já que temos acesso e conhecimento a respeito dos alimentos, precisamos ensinar a manipulá-los e aproveitá-los, porque o desperdício é grande.”

A capacitação também ronda a trajetória da chef Ana Bueno, em Paraty, no Rio de Janeiro. Idealizadora do Escola de Comer, projeto responsável por transformar cardápios e treinar cozinheiras de escolas do município, atualmente está à frente do Mulheres da Costeira, que forma e capacita empreendedoras de diversas áreas, como a cozinha. “Temos uma voz que ainda não foi testada completamente, mas que eu acredito poder reverberar longe. Sabemos que as mudanças mais difíceis são as que dependem de decisões políticas e o nosso setor tem uma força considerável no contexto econômico.”

O chef Elia Schramm (ao centro, sentado): na Scuola, no Rio de Janeiro, são oferecidos cursos gratuitos, da gestão à cozinha (Crédito: Rodrigo Azevedo)

Outros chefs ativistas são:
Janaina Torres, madrinha do Pão do Povo da Rua, em São Paulo,
João Diamante, que venceu o 50 Best de Melhor Projeto Social do Mundo em comunidades cariocas,
Morena Leite, com o Instituto Capim Santo,
Saulo Jennings, que atua em comunidades tapajônicas, no Pará,
e Lisiane Arouca e Fabrício Lemos, junto às marisqueiras da Aliança Kirimurê, na Ilha de Itaparica, na Bahia.