Comportamento

Alergia alimentar cresce no mundo e pode ser fatal; confira

Quantidade de pessoas com rejeição a determinados alimentos cresce exponencialmente; condição não é apenas genética, e pode estar ligada a hábitos, dietas e até estresse

Alergia alimentar cresce no mundo e pode ser fatal; confira

Entre 0 e 6 anos, em torno de 8% a 10% a manifestam condição alérgica

Por Luiz Cesar Pimentel

RESUMO

• Condição alérgica atinge mais crianças do que adultos
• Incapacitação já cresceu 4 vezes no mundo todo desde 2007

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima entre 200 e 250 milhões de pessoas hoje no planeta com algum tipo de alergia alimentar. O número impressiona ainda mais se combinado a outro dado: desde 2007, a condição alérgica multiplicou por quatro no mundo. No Brasil, tanto se tornou uma questão de saúde pública que foi instituída a Semana Nacional de Conscientização sobre Alergia Alimentar, em maio — o movimento é relevante dado que a informação certa sobre prevenção (sim, é possível), diagnóstico e tratamento é a principal arma sobre situação que pode ser fatal.

A condição alérgica atinge mais crianças do que adultos, o que revela que grande parte é temporária. Entre 0 e 6 anos, em torno de 8% a 10% a manifestam, enquanto entre adultos o número cai para 2%.

Os principais causadores são oito alimentos:
leite de vaca,
ovo,
amendoim,
castanhas,
soja,
trigo,
frutos do mar,
e peixe.

É importante, porém, distinguir alergia de intolerância, já que a primeira tem consequências mais rápidas e graves.

A reação alérgica acontece quando a proteína é recebida pelo organismo como uma ameaça e o sistema de defesa deflagra reação desmedida para combatê-la, com manifestações que acontecem na pele, no sistema gastrointestinal ou no aparelho respiratório, que em escala máxima pode levar ao edema (ou fechamento) de glote, um inchaço na garganta com obstrução do fluxo de ar para os pulmões.

Tipos de reação

As condições variam em duas e são classificadas como IgE mediada e não IgE mediada, sendo que a sigla de três letras significa imunoglobulina E (proteína presente no sangue).

1. Na primeira, o sistema imunológico libera anticorpos responsáveis por coceiras, inchaço, manchas avermelhadas, falta de ar e choque anafilático, em sua forma mais extrema, entre segundos e até duas horas após a ingestão ou contato. Victor, de 5 anos, passou pela situação mais grave aos 3 anos. A mãe, a advogada Bruna Zandonadi, constatou a alergia a ovo ainda cedo, mas bastou um descuido e a garrafa dele entrar em contato com uma bancada na cozinha onde haviam sido manipulados ovos para que tivesse fechamento da glote. “Em 13 minutos estávamos no hospital ministrando adrenalina nele”, conta a mãe.

O empresário catarinense Luis Claumann pode comer peixes, mas não crustáceos (Crédito:Divulgação )

O empresário catarinense Luis Gustavo Claumann ficava cheio de manchas vermelhas quando criança após consumir frutos do mar até que foi salvo de potencial sufocamento por um farmacêutico. “Adulto, fiz os exames e liberado para comer peixes e evitar crustáceos”, diz. “Cheguei a passar fome em Salvador, pois quase tudo leva o tal de pó de camarão moído. Nem sei se causa o mesmo efeito mas preferi não arriscar”, completa.

2. Já na reação não mediada por IgE, a repulsa do organismo vem de forma diferente e acontece no sistema gastrointestinal, com diarréia, sangue nas fezes, refluxo ou cólica, podendo se manifestar em horas ou até dias após o gatilho. Como a intolerância causa reações mais próximas a este tipo de alergia, as condições podem ser confundidas. O ponto em comum é que tanto a reação alérgica quanto o organismo não tolerar alguns alimentos não são necessariamente condições de nascença e podem surgir diante de falhas nutricionais.

Victor em crise (acima) aos 3 anos após contato com ovo; hoje, aos 5, consome em doses (Crédito:Divulgação )

Quem determina tudo, nesse caso, é o intestino, um órgão muito ativo, que é apelidado de segundo cérebro. A dieta ocidental é muito baseada em alimentos de origem animal e em ultraprocessados. Ambos são muito deficientes em fibras, ricos em gorduras e em calorias vazias, como açúcares. Com essa carência de substâncias saudáveis, é como se o intestino começasse a passar fome e diminui o espessamento da camada mucosa, que é a proteção do órgão. Com o tempo, formam-se buracos e aumenta a permeabilidade intestinal, a condição de filtragem diminui e toxinas e patógenos vão para a circulação, causando reações imunológicas, intolerâncias e alergias.

Até mesmo a saúde mental interfere na condição. “Existe uma relação direta, o eixo intestino-cérebro, em que as emoções prejudicam a irrigação do primeiro. Pode haver contração e secreção de diversas enzimas em momentos não apropriados, que causam acidificação e o mesmo processo de aumento de permeabilidade neste”, diz Alessandra Luglio, nutricionista da A Tal da Castanha.

(Divulgação)

“Há relação direta entre o aumento das alergias e a dieta mais rica em alimentos de origem animal, gorduras, menos fibras e menor diversidade vegetal.”
Alessandra Luglio, nutricionista

É possível tratamento de regressão da alergia alimentar. A imunoterapia mais utilizada é conhecida como dessensibilização, quando são administradas pequenas quantidades do alérgeno alimentar para tentar induzir resposta tolerante ao sistema imunológico.

Victor passou por isso com homeopatia, aumentando as doses de dissolução, e passou a pratos com quantidades reduzidas para ficar em margem de segurança. “Hoje ele já pode comer bolos simples, mas ainda com muita observação”, diz a mãe. Outra solução promissora está nas vacinas em desenvolvimento.