A crise ecológica e o fim da arte

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Ricardo Guedes: "O soar das bombas é maior do que o da esperança, esvaída no esgoto da economia das sociedades decadentes" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Guedes

A arte é uma expressão da alma humana, que surge no desenvolvimento e apogeu das civilizações. Assim foi no mundo Helênico, assim foi do Renascimento aos dias de hoje, das Revoluções Democráticas e da Revolução Industrial. A arte precede a literatura, que precede a ciência e a razão. Assim foi com Da Vinci, Mozart, Beethoven, Wagner, Renoir, Van Cogh, Picasso. Dentre tantos. Manifestações genuínas da alma humana. O apogeu!

Dá gosto ir ao Louvre, ao Jeu de Paume, ao Museum of Modern Art de Nova Iorque, ao Museo Picasso de Barcelona, ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, dentre tantos e outros que enaltecem nossa alma. Ali estão a mostra da amostra de nossa beleza universal, que transcende a povos e culturas, no acerto infindo dos traços e figuras, que tocam nossas emoções.

A crise ecológica já se iniciou, trazendo a destruição e insolubilidade aos problemas humanos. Na economia, expandem-se os PIBs no destroço do capital; o extremo entre os ricos e os pobres aumenta, e as classes médias se achatam; no surgimento de inspirações fascistas que vão substituindo todos os ideais. As instituições sociais se deterioram. Idem as organizações políticas.

A economia avança além da ecologia, com o aumento da temperatura do planeta diante de recursos limitados, o calor e a escassez. As guerras se sucedem e se intensificam. O soar das bombas é maior do que o da esperança, esvaída no esgoto da economia das sociedades decadentes.

Mesmo nas guerras, o homem se move para preservar as artes. O filme Os caçadores de obras-primas, dirigido por George Clooney, no original Monuments Men, com Matt Damon, baseado em fatos reais, relata o envio de grupo de soldados e especialistas em artes por Roosevelt à Europa durante a Segunda Guerra para recuperar milhares de obras em mãos dos nazistas e proteger outras tantas de bombardeios. Dentre outros filmes.

O dueto guerra e ecologia forma a perspectiva da funesta da qual o homem tem que escapar. Seria bom se o homem desse tempo ao tempo, na melhor concepção de seu futuro. Afinal, somos os navegantes únicos desta nave.

A crise ecológica vai apagar a beleza das culturas. A música clássica, a ópera, o balé, perdem o seu sentido estoico diante da insensatez desumana das bombas ininterruptas. O homem foge de seu ego para a sua carne, desvalida de censura e de odor. Fim dos tempos, na ignomínia da irracionalidade e do desespero humano. Serão séculos de agonia e malquerer. Não existe arte na escuridão. No futuro, muito além do próximo, novos arqueólogos, sei lá qual nome hão de ter, descobrirão belas peças então perdidas, no quebra-cabeça do ontem e do amanhã. Adeus Bizet. O vulcão se alastra.