Encontro do LIDE nos EUA confirma: PIB se move em socorro solidário ao RS
Empresários, financistas e políticos reunidos em Nova York para o LIDE Brazil Investment Fórum discutem propostas estruturais, prestam apoio e tratam de ações efetivas de ajuda ao Estado gaúcho e as suas vítimas
Por Carlos José Marques, de Nova York
Há algo de solidário no plano político e empresarial que ficou claramente delimitado no encontro promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) em Nova York, dias atrás, durante a Brazilian Week, que tradicionalmente elege o Person Of the Year, por meio da Câmara de Comércio Brasil/EUA — e cujo nome escolhido nesta edição, coincidentemente, foi o do gaúcho Alexandre Birman, da Arezzo, também mergulhado no desafio de resgate econômico e social da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, sede da empresa.
O fator solidariedade, no caso, esteve evidente em cada uma das exposições e atitudes durante a conferência, que vem se tornando uma referência de debates propositivos e ações a favor do desenvolvimento nacional, pioneiro nessas rodadas norte-americanas de tratativas com um plantel de mais de dez edições de seminários realizados na Big Apple.
Os pronunciamentos e debates, que galvanizaram as atenções de cerca de 300 empresários, nove governadores, dez senadores e 16 deputados federais – além do ex-presidente Michel Temer – contavam com uma lista de nomes de calibre poucas vezes reunidos anteriormente.
Figuras que iam de Luiz Trabuco, do Bradesco, a Rubens Ometto, da Cosan, em sessões de entendimentos, no Harvard Club, cujo o foco maior era um só: a recuperação do Estado gaúcho.
O governador Eduardo Leite, por vídeo, lançou um apelo a contribuições empresariais de toda ordem, estimulado pelo co-chairman do LIDE, João Doria, que lembrou do dever específico de cada um dos brasileiros de demonstrar, na prática, o poder de mobilização. “Precisamos nos unir numa atitude de ajuda, um gesto importante para todos aqui empresários”, pontuou Doria.
“É o maior desastre e tragédia de nossa história, numa extensão gigantesca que toma várias regiões, e aquecem nossos corações manifestações de apoio que estamos recebendo de muitas partes do Brasil, na pessoa física e na jurídica, que trazem força”, registrou Leite.
Erro de prioridades
Durante a convenção, denominada “Lide Brazil Investment Fórum”, o próprio Birman, homenageado da semana, comunicou ter doado R$ 10 milhões a entidades conterrâneas. Por meio de um QR Code, outros ali fizeram o mesmo. A corrente humanitária se estendeu por soluções institucionais.
Temer elogiou o conceito de criação de uma autoridade climática nacional e reiterou a importância do que classificou como “auxílio posterior”. Falou de prevenção como melhor saída e não deixou de alfinetar a oposição, a quem atribuiu uma “sede por destruir”, referindo-se à onda de fake news espalhada na rede para desacreditar governantes que lutam contra a catástrofe no Sul.
“Incorporou-se ao nosso sistema a seguinte ideia: se eu perdi a eleição, o meu dever é destruir aqueles que a ganharam”, disse Temer.
No campo dos gastos, referendando o alerta que fez, o País lançou mais de R$ 10 bilhões em ações reparadoras de desastres, três vezes mais do que desembolsou para prevenção, em um equívoco de prioridades que não ajuda a mudar o dramático quadro que se desenha daqui para frente.
A expectativa de que esse movimento se inverta é grande no setor produtivo.
• Em boa parte, ele teme o abalo de episódios como esse no PIB. Estimativas de bancos e consultorias, que também participaram de seguidos encontros em Nova York, mostram que a tragédia gaúcha pode tirar até 0,4 pontos percentuais de crescimento do Produto Interno Bruto já neste ano e a dimensão do estrago causado deve ser ainda maior.
• O banco do Brics, em linha especial de financiamento, promete lançar R$ 5,7 bilhões em empréstimos para a reconstrução do Estado. E esse viés de ajuda solidária vem em boa hora.
• Apenas o agronegócio local já contabiliza ao menos R$ 1 bilhão em perdas e mais de um milhão de toneladas de grãos destruídas, segundo estimativa da Conab.
Setor saudável
No Fórum, duas ex-ministras da Agricultura, Teresa Cristina e Katia Abreu, buscaram realçar as perspectivas positivas do setor, apesar do difícil momento. Falaram das oportunidades que estão despontando, seja na área de fertilizantes (na qual o Brasil ainda exporta muito) ou na de estruturas de armazenamento e logística para acondicionar as safras recordes.
O também ex-ministro e atual presidente da CNSEG, Dyogo Oliveira, abordando o volume de recursos que será necessário para dar conta de tantos sinistros declarou que o setor de seguros está pronto para exercer o seu papel, e saudável, com crescimentos médios da ordem de 10% ao ano. “O que precisamos ver no País é como nos organizarmos melhor para prevenir esse aumento gradual da incidência e gravidade das intempéries climáticas que estamos observando. É preciso rever tudo”, alertou.
Em linha com suas colocações, nos últimos dez anos mais de 90% dos municípios brasileiros foram afetados, de uma maneira ou de outra, por algum tipo de incidente climático.
A quantidade de sinistros nesse aspecto tem subido exponencialmente e Oliveira acredita que o setor público, junto com o privado, são capazes de fazer uma parceria eficaz para atenuar os impactos de tais fenômenos e lidar melhor com à assistência às vítimas.
Dentre os governadores, um a um expressou sua solidariedade e enalteceu potencialidades regionais. Os presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, respectivamente, previstos como palestrantes, cancelaram de última hora a ida em virtude dos acontecimentos, mas entraram ao vivo para falar de medidas legislativas de socorro e solidariedade.
Algo que também permeou a fala de big shots como Gustavo Werneck, CE0 da Gerdau, outro grupo baseado no Sul. Segundo ele, o Estado vem sendo castigado há algum tempo por seguidos eventos da natureza que precisam ser melhor acompanhados.
O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e Trabuco, do Bradesco, cada um a seu tempo, tratou do ajuste fiscal necessário e dos reflexos que calamidades como a gaúcha geram por meses a fio, não apenas do ponto de vista econômico como também para a vida da população. Acenaram com a proposta de programas especiais de crédito que, no conjunto, reforçam a premissa do Fórum: solidariedade a quem tanto precisa.