Comportamento

Olimpíada: segurança é desafio gigante em Paris; saiba por quê

Maior festa mundial pós-pandemia, Jogos Olímpicos de 2024 estão diante de alerta máximo e um esquema de segurança jamais visto contra ataques terroristas

Crédito: Valentine Chapuis

Agentes de segurança em treinamento: prevenção contra ataques em locais turísticos como o Champ de Mars, onde está a Torre Eiffell (Crédito: Valentine Chapuis)

Por Denise Mirás

A pouco mais de dois meses da cinematográfica abertura da Olimpíada, com o desfile dos atletas de mais de 200 países em barcos pelo rio Sena diante de 300 mil pessoas em suas margens e pontes, Paris segue sitiada. Segurança é uma preocupação para qualquer cidade-sede de Jogos Olímpicos e Paralímpicos, mas desta vez a prevenção contra atentados terroristas foi multiplicada por dez. A capital francesa está “bunkerizada” e, oficialmente, “em alerta máximo”. O Vigipirate, sistema nacional de segurança da França, passou ao nível “risco de ataque” em 24 de março — dois dias depois do fuzilamento na casa de shows Crocus, nos arredores de Moscou, quando mais de 140 pessoas foram mortas. O aparato de proteção francês frustra em média um ataque a cada dois meses, segundo Gérald Darmanin, ministro do Interior que centraliza informações, análises e decisões da Coordenação Nacional de Segurança dos Jogos (CNSJ), sob sua responsabilidade.


Drones suspeitos: equipamentos serão destruídos por sofisticados rifles de interferência (Crédito:Divulgação )

Do orçamento inicial de 4,38 bilhões de euros (perto de R$ 25 bilhões, com RS$ 1,5 bilhão apenas para a limpeza do rio Sena), os custos dos Jogos em Paris já alcançaram R$ 50 bilhões — boa parte desse total vai para a segurança, que mudou de patamar depois do ataque com mortes na Olimpíada de Munique 1972 e ficou mais reforçada a partir de Atenas 2004, a primeira depois do ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Paris vive uma situação ainda mais peculiar, de ameaça permanente, pelo histórico de atentados locais desde os casos do jornal Charlie Hebdo e da casa de shows Bataclan, em 2015, até o mais recente, que resultou em um turista morto e três feridos com faca no centro da cidade, em dezembro passado.

O esquema planejado para a Olimpíada vem sendo implantado há três anos, assumido o conceito de que “dia a dia, local por local, quase hora a hora” poderá haver um ataque terrorista. Os efetivos já estão em ação desde a chegada da tocha olímpica a Marselha, no dia 8, para seguir por 65 cidades.

Emmanuel Macron: cerimônia de abertura no rio Sena foi reduzida (Crédito:Yoan Valat)

A cerimônia de abertura, a partir das 19h de 26 de julho, uma sexta-feira, foi anunciada como um sonho pelo presidente Emmanuel Macron. O evento, no entanto, é um pesadelo para as forças de segurança.

O Comitê Organizador dos Jogos (COJO) já cortou o trecho do trajeto no rio Sena pela metade, totalizando seis quilômetros entre a ponte Austerlitz e o Trocadéro. Passará por construções icônicas como o Museu do Louvre e a Torre Eiffel, com a chegada dos atletas das cerca de 200 delegações em um pontão — e área VIP onde estarão nada menos que 160 chefes de Estado.

Cidade sitiada

São mais de 100 locais de acesso, apenas por QR code, ao público em geral — para a parte mais baixa das margens os ingressos são vendidos e designados ao pessoal de staff. Serão tomados por policiais, a postos também no próprio rio, pontes, telhados, janelas, túneis e subterrâneos de esgotos, mais áreas de 150 telões.

Ao menos 45 mil agentes e soldados das diversas forças, incluindo de empresas privadas, estarão espalhados pela cidade e arredores, com “um gendarme ou policial a cada metro quadrado”, segundo Ghislain Réty, chefe de uma das unidades antiterrorismo da França.

Esse total inclui especialistas em impedir ataques nucleares e químicos e 2.500 oficiais estrangeiros, de 46 países parceiros, além de cães farejadores de bombas.

No rio, dos 180 barcos, 94 levarão atletas. Os outros 86 serão tomados por seguranças, mecânicos para emergências e mergulhadores especialistas em bombas.

Gérald Darmanin, ministro do Interior: ele centraliza as forças de segurança (Crédito:Emmanuel Dunand)

À exceção de centenas de drones usados pela vigilância e quatro helicópteros com oficiais treinados para rastrear e destruir drones terroristas, o espaço aéreo será fechado três horas antes da cerimônia em um raio de 150 quilômetros. Será assim também com quatro aeroportos, estações de trem e metrô, ruas e avenidas, empresas e restaurantes adjacentes às margens.

O uso de drones é a novidade para os sistemas de segurança olímpicos. Farão a proteção do público, staff e 40 mil voluntários, mais os 10.500 atletas olímpicos e 4.350 paralímpicos competindo em 25 locais da cidade, todos demarcados como perímetros de segurança.

Mais rigorosos ainda serão nas provas ao ar livre de ciclismo, maratona e marcha atlética, além do triatlo. O sistema Parade está preparado para detectar e identificar drones suspeitos, a serem derrubados com os sofisticados rifles de interferência.