Comportamento

Bioplástico feito de casca de banana foi desenvolvido pela Embrapa e UFSCar

Material é alternativa sustentável para embalar alimentos, tem propriedades antioxidantes, protege contra a radiação ultravioleta e serve como solução para não gerar resíduos

Crédito: Mariana Franzon

Henriette Azeredo: pioneirismo ao formar filmes a partir de subprodutos integrais (Crédito: Mariana Franzon)

Por Bruna Garcia

A casca de banana, resíduo abundante no Brasil, foi utilizada como matéria-prima por pesquisadores da Embrapa Instrumentação e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) para produzir um filme bioplástico com potencial para servir como embalagem de certos alimentos, podendo ser um substituto sustentável a opções plásticas. O estudo foi publicado em um artigo no Journal of Cleaner Production.

No processo, que é simples e utiliza apenas água ou uma solução ácida diluída, os pesquisadores foram pioneiros em produzir bioplásticos a partir de cascas da fruta. O produto:
tem propriedades antioxidantes,
oferece proteção contra a radiação ultravioleta (UV)
e não gera resíduos.

A pesquisadora da Embrapa Instrumentação Henriette Azeredo contou à IstoÉ que a motivação da pesquisa surgiu pelo grande volume de cascas de banana descartadas diariamente, bem como pela necessidade urgente da substituição de plásticos convencionais por alternativas ambientalmente amigáveis, como as renováveis e biodegradáveis. Segundo pesquisadores brasileiros, para cada tonelada de banana processada podem ser gerados até 417 kg de cascas.

Os filmes bioplásticos de casca de banana mostraram desempenho igual ou melhor do que variações preparadas de forma semelhante a partir de outros tipos de biomassa, mas por meio de diferentes métodos, mais complexos, caros e demorados, e, portanto, menos produtivos para a transformação de resíduos agroalimentares.

O processo de produção do bioplástico a partir da sobra da fruta consiste em transformar as cascas em um pó, que então é usado para formar uma dispersão com água ou uma solução ácida diluída. “A dispersão é submetida a um tratamento hidrotérmico – um processo sob pressão em alta temperatura, para liberar os compostos das estruturas celulares – e depositada sobre uma superfície plana, onde passa pela etapa de secagem, formando o filme”, diz Azeredo. A banana pode ser de qualquer variedade, mas no estudo da Embrapa, foi utilizada a casca da nanica.

Dependendo das condições de temperatura, umidade e estresse mecânico, o bioplástico pode durar alguns meses. “Ele pode ser utilizado, por exemplo, como embalagem primária de alimentos que sofrem oxidação, como castanhas e nozes”, afirma a pesquisadora.

Mas Henriette Azeredo alerta que o bioplástico não é exatamente adequado para substituir o filme de PVC, por não ser esticável. “Suas propriedades mecânicas não seriam favoráveis para esse tipo de aplicação. Infelizmente, há esse tipo de limitação em materiais de origem biológica de forma geral. Seu uso seria mais indicado como embalagem industrial primária — aquela que fica diretamente em contato com o alimento, como um saquinho para acondicionamento de cereais matinais ou castanhas. De qualquer forma, ele seria de uso único, sendo então descartado”, disse.

“A vantagem do bioplástico é que, uma vez descartado e entrando em contato com o solo, ele se degrada em pouco tempo e ainda serve como fonte de nutrientes para outras plantas, o que constitui uma reciclagem biológica”
Henriette Azeredo,
pesquisadora da Embrapa Instrumentação

Há outras iniciativas como esta em andamento na Embrapa, testando diferentes produtos, como os derivados do processamento de laranja e de manga. “E pretendemos testar ainda outros”, disse.

Segundo a pesquisadora, são comuns as iniciativas para a produção de materiais de compostos isolados a partir de vários subprodutos agroindustriais. “O que não são comuns são as iniciativas no sentido de formar filmes a partir de subprodutos integrais, como foi feito neste trabalho com casca de banana, em que nada foi isolado do material — ela foi utilizada como um todo”, diz.

Da pesquisa, são três os pesquisadores principais envolvidos:
• Rodrigo Duarte Silva, pesquisador de pós-doutorado na Embrapa Instrumentação,
Caio Gomide Otoni, professor adjunto na Universidade Federal de São Carlos,
e Henriette Azeredo.

Ainda não foram feitos testes de larga escala, mas a pesquisadora acredita que seria possível industrializar o produto, desde que alguma empresa se interesse pelo desafio. “Há planos para isso, mas são necessários recursos financeiros e uma empresa parceira”, diz. “Há desafios a serem vencidos no caso do bioplástico de casca de banana, como a sensibilidade ao contato com água. Por outro lado, o bioplástico tem propriedades antioxidantes e absorvedoras de luz ultravioleta (UV) que os plásticos convencionais não têm”, concluiu.