Comportamento

Moda: romantismo e diversão trazem de volta o balonê

O volume está no ar e, acompanhando a tendência romântica e a busca pelo lúdico, peças que remetem a objeto voador entram em cena. Das ruas aos figurinos de filmes e festas, estruturas avantajadas que fizeram sucesso em 1980 retornam em calças, vestidos e mangas de blusas

Crédito: Eren Abdullahogullari

Espírito do tempo: o volume desfilou sobre o tapete do Met Gala, em Nova York, como no look de Bruna Marquezine (Crédito: Eren Abdullahogullari)

Por Ana Mosquera

Anunciado desde as temporadas internacionais que abriram o ano, o balonê vem se firmando como tendência. Difundida nos anos 1980, a saia de volume avantajado chegou a ser considerada cafona nos últimos anos — exceto em uma curta ascensão na primeira metade da década de 2000. Seu retorno, agora, acompanha não só a busca pelo romântico, mas pelo lúdico. “Ela volta devido ao desejo por escapismo e a apreciação de uma estética teatral, expressiva e divertida”, diz Antonio Rabàdan, professor do curso de Design de Moda da ESPM.

A opção pelo vestuário volumoso vai além do tipo de saia e tampouco se restringe aos desfiles e calçadas internacionais, sejam elas da fama ou não.

No filme Pobres Criaturas, a protagonista vivida por Emma Stone abusou das mangas bufantes que também foram febre em 1980.

Na segunda-feira 6, Bruna Marquezine usou um vestido repleto de enchimentos em sua estreia no tapete vermelho do The Metropolitan Museum of Art de Nova York. “Os próprios museus trazem a roupa como suporte de expressão para as obras de arte. Quando se consegue atingir a moda, como no Met Gala, há comunhão das áreas, potencializando a criação dos designers”, diz Rabàdan.

Por falar em criadores, foi na década de 1950 que o espanhol Cristóbal Balenciaga propagou o termo (e a silhueta) para o mundo. Era o corpo sendo visto como “objeto arquitetônico”, segundo o pesquisador na área de Moda da USP, Brunno Almeida Maia.

O balonê acompanha as referências contemporâneas e, da alfaiataria à rua, chega tanto em cores vibrantes, transparências e recortes geométricos, quanto combinado com tênis esportivo, moletom e camiseta.

Sua retomada também se conecta à procura por conforto e liberdade — e não só de movimento. “Há o resgate de um tempo histórico, mas existe relação com a construção de novos corpos, a partir de silhuetas mais amplas”, teoriza Rabadàn.

Voltar à década de 1980 tem menos a ver com nostalgia, mas, sim, com o rebater de uma crise política, social, histórica e econômica. “Os anos 1980 foram de fuga, com a crise do petróleo e a queda do Muro de Berlim. Toda essa inconsistência tem na moda, na música e no cinema um revés, uma tentativa de criar um imaginário que conteste a realidade vigente”, diz Maia.

Existem mais críticas sob o balonê do que se pode imaginar. E ele está aí fazendo história.


Pueril: mangas bufantes compõem muitos figurinos de Bella Baxter, vivida por Emma Stone em Pobres Criaturas (Crédito:Divulgação )
(@claudia)
A influenciadora Lidiane Bezerra, em Paris (acima), veste balonê no dia a dia. Acima, a moda volta com versão micro e mantém a delicadeza (Crédito:@lidianebezerraa)

Sem caretice: no desfile da Miu Miu, Miuccia Prada misturou a referência com camisa e blazer coloridos e cós com amarril (Crédito:Divulgação )