A Semana

Estudo inédito sobre o melhor da democracia

Crédito: Divulgação

Justa reivindicação: apreço pelos direitos democráticos, que devem ser mantidos incólumes (Crédito: Divulgação )

Por Antonio Carlos Prado

Institutos internacionais realizaram em conjunto a pesquisa Perceptions of Democracy — em uma tradução simplificada mas não simplista, tratou-se de saber como as pessoas avaliam o regime democrático nesse momento no qual muitas nações já vivem sob governos autocráticos. Foi consultada a população de dezenove países democráticos. Em dezessete deles, a sociedade está dividida — o Brasil, como se sabe por que vimos nas últimas eleições presidenciais, encontra-se em igual situação. Mas é outra a maravilha da pesquisa. Todos, de forma unânime, concordam que os princípios democráticos ensinam as pessoas que elas possuem bens fundamentais inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade de expressão, à privacidade, à educação, moradia, saúde, inviolabilidade do domicílio, integridade física e moral, para citarmos somente alguns exemplos. No entanto, o menor arranhão em um desses direitos faz com que o cidadão se decepcione. Melhor assim, uma vez que a cobrança social será constante, desde que a decepção não o leve ao extremo oposto do obscurantismo e da ditadura. O espetacular da democracia é que nela podemos almejar ser cada vez mais democratas.

Político da Antiga Atenas: “Pai dos regimes políticos livres”

CIDADES
Veneza, agora, cobra ingresso

O romantismo e a tradição das gôndolas: cinco euros (Crédito:Divulgação )

O romantismo custa barato, mas ainda assim tem o seu preço. A cidade italiana de Veneza, explorando as suas belas gôndolas, já está cobrando dos visitantes uma taxa de ingresso em seu território no valor de cinco euros (algo em torno de R$ 28,00). Ou paga ou não entra na cidade, numa medida que é, no mínimo, ilegal e incompatível com a contemporaneidade do mundo. A principal estação de Veneza é Santa Lucia, e quem nela desembarca já recebe a informação. Em um ato completamente discriminatório, autoridades de Veneza montaram diversas entradas na cidade: para turistas, moradores (esses não pagam nada, é óbvio), estudantes, gondoleiros e crianças com menos de 14 anos acompanhadas dos pais (também essas crianças estão isentas). “Precisamos encontrar um equilíbrio entre turistas e residentes”, disse na última semana a vice-secretária de Turismo, Simone Venturini. As medidas estarão em fase de testes até o final de julho. Quem burlar a vigilância, se descoberto, estará sujeito à multa de aproximadamente trezentos euros (pouco mais, pouco menos de R$ 1.600,00).

DIREITOS HUMANOS
O marujo e o comandante da Marinha

João Candido: luta também pela igualdade racial (Crédito:Divulgação )

Não pegou bem, pelas críticas advindas de setores democráticos da sociedade, a reação do comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, à proposta do Legislativo de inscrição do nome do marinheiro João Candido no Livro de Heróis da Pátria – há 114 anos ele liderou a denominada Revolta da Chibata. Em carta à Câmara dos Deputados, Olsen chamou a insurreição dos marujos de “fato opróbrio” e os insurretos de “abjetos”. Olsen peca em condenar a revolta sem entendê-la em seu cenário sociológico. Herança do Brasil colônia, valia no começo da vida republicana no País a Carta de Leis Portuguesas que mandava açoitar marinheiro que descumprisse ordens. Eram os navegantes pretos e pardos que sofriam chicoteadas, amarrados aos mastros dos navios, e por isso a Revolta da Chibata exigia não apenas o fim do castigo corporal, mas denunciava, também, o espezinhar de brancos em ex-escravizados pretos. A gota d’água para a sublevação foram os 250 açoites sofridos pelo nauta Marcelino Menezes. Na Baía da Guanabara, sublevaram-se as embarcações Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro. Os revoltosos enviaram uma carta a Hermes da Fonseca no dia 22 de novembro de 1910, no exato momento em que ele tomava posse na Presidência da República. Hermes prometeu anistia aos rebelados, não honrou o acordo e alguns marujos foram fuzilados. Ao final do levante o preto João Candido conseguiu acabar com a lei da chibata. Seria melhor ao Brasil e à própria Marinha que Olsen não condenasse João Candido, mas, sim, a tortura infligida aos pretos e pardos que trabalhavam nos porões dos navios.

Olsen: polêmica desnecessária (Crédito:Divulgação )

“Conhecido como o navegante negro / tinha a dignidade de um mestre-sala.”
João Bosco e Aldir Blanc