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Peugeot e-3008: o pioneiro revolucionário

O elétrico Peugeot e-3008 é a estrela da terceira geração do crossover: agora SUV-cupê e supertecnológico, ele tem a plataforma que logo será usada no Jeep Compass

Crédito: Divulgação

Peugeot e-3008: dirigibilidade precisa e conforto (Crédito: Divulgação )

Texto adaptado Flávio Silveira
Reportagem Andrea Rapelli
Fotos Stefano Guindani

Ele sempre foi considerado um carro meio excêntrico. Do lado de fora, era parte minivan, parte SUV; dentro da cabine, sempre polêmico. Mas, agora, a mudança é mais marcante. Em primeiro lugar, porque o 3008 abraça sem medo a tendência da moda, dos SUVs que se travestem de cupês. Mas, também, porque exagera no conceito de i-Cockpit, com a cabine que é qualquer coisa, menos convencional: ligada à mais recente tradição da Peugeot e, ao mesmo tempo, inovadora – o que inclui a adoção de inteligência artificial. Já o terceiro elemento desta revolução aparece na sua plataforma: é a STLA Medium, que será a espinha dorsal central da nova linha da Stellantis.

Será uma plataforma elétrica, claro, mas não só. É legal acreditar na transição total para os carros elétricos, mas os números – ao menos os de vendas – não mentem. Então, aqui avaliamos o e-3008, o astro da nova geração, e que também deve vir ao Brasil, seguindo a estratégia da marca. Mas, para fornecer uma alternativa real aos BEVs, que ainda não seduziram grande parte da Europa e têm vendas tímidas no Brasil e em alguns outros mercados em desenvolvimento, a versão mais vendida e mais atraente, por alguns anos, será mesmo a híbrida.

Batizada de Hybrid e-DSC6, a versão eletrificada terá um motor 1.2 turbo de três cilindros já utilizado na Europa, a gasolina, e outro, elétrico, integrado à transmissão de dupla embreagem com seis velocidades. A potência é de apenas 136 cv, e o consumo médio, de bons 18,2 km/litro. Ela custa € 38.700 na versão Allure e € 43.200 na GT, ou seja, até € 11.580 (22%) a menos que o elétrico.

Ainda assim, a versão elétrica que testamos agora, em primeira mão, também terá seu mercado – e seus pontos interessantes.

Começando pela eficiência, que é um bom presságio.

Além da atenção à aerodinâmica, que produziu um Cx (declarado) de 0,28, o trem de força parece não consumir muita energia.

Ainda não temos números oficiais dos testes da nossa parceira Quattroruote (as entregas por lá só começam em julho), mas o alcance oficial no otimista WLTP é de 512 quilômetros (com a bateria de 73 kWh líquidos). Neste primeiro contato, o computador de bordo marcava um alcance de 350 quilômetros com a bateria em 70% de carga. Nada mau.

Uma vez aberta a porta, o efeito “uau” é imediatamente garantido.
Principalmente por causa da tela de 21” que flutua acima do painel, seguindo os ditames da filosofia tão cara ao fabricante francês de colocar sua instrumentação bem no alto.
O volante continua pequeno e vertical, colocado em um plano mais baixo, mas a legibilidade do cluster é menos problemática do que antes: depois de ajustada a posição, descubro com prazer que o raio do volante já não esconde uma parte das informações.
De modo mais geral, entretanto, todo o painel agora está posicionado mais próximo dos olhos, perdendo parte da agradável profundidade de leitura que caracterizava a geração anterior.

(Divulgação)
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O conceito i-Cockpit torna os Peugeot diferentes dos demais carros: o quadro de instrumentos não é visto por dentro do raio do volante, mas sempre por cima dele, que tem dimensões menores que as tradicionais. Bom é que não é preciso recorrer à tela central para tudo: há grandes teclas “virtuais” debaixo da tela central, programáveis e facilmente identificáveis

Em um mundo onde carros elétricos – e não apenas eles – estão abandonando radicalmente os controles físicos, a Peugeot felizmente vai na direção oposta. Ou quase. Não levem a mal: a central multimídia prevalece hoje, e não poderia ser diferente. Mas pelo menos você não precisa recorrer à tela central para tudo.

Inteligentes, nesse sentido, são as grandes teclas virtuais debaixo da tela central, programáveis e facilmente identificáveis. Permitem acessar rapidamente a tela desejada, mesmo dirigindo.

É simples – e hoje em dia isso deixou de ser óbvio – ajustar os retrovisores com botões de verdade, e onde se espera achá-los, ou seja, no painel da porta. E as alavancas permanecem todas atrás do volante, sejam da seta, das luzes ou dos limpadores de para-brisa.

A base STLA Medium aumentou as dimensões: a terceira geração cresceu nove centímetros no comprimento, seis na largura e cinco na distância entre-eixos.

Mas isso não se reflete tão bem no espaço interno, semelhante ao anterior (na verdade, é até um pouco inferior, pela menor inclinação do encosto do banco traseiro). Então, de modo geral, há BEVs com cabines mais espaçosas, como Hyundai Ioniq 5 (já avaliamos, em breve no Brasil), VW ID.5 (só por assinatura) e Tesla Model Y (nesta edição).

Mas, se sua prioridade for a capacidade de carga, o e-3008 leva bons 428 litros (eram 450 na geração anterior).

Ao volante, este Peugeot é um carro sempre suave e tranquilo. Os 213 cv de potência garantem uma agradável facilidade nas acelerações, enquanto os 345 Nm de torque ajudam a realizar as ultrapassagens sem medo.

Se tivesse que escolher a qualidade que mais me conquistou nele, diria que foi o conforto: apesar de ainda não contar com a precisão dos números de testes, as suspensões parecem muito bem acertadas, tanto na frente quanto atrás, e o ruído de rolamento dos grandes pneus aro 20 são muito bem neutralizados, assim como os aerodinâmicos.

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O banco traseiro ficou menos inclinado, e uma prateleira ajuda a organizar o porta-malas. Abaixo, detalhes do console central, com compartimento refrigerado e parte dos comandos de mídia e do ar, e o pequeno seletor do câmbio, que fica no alto, bem ao lado do volante e do botão de partida

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Não se trata de um veículo que eu compraria se, nas características que busco, tivesse como prioridade o verdadeiro prazer ao volante: ele tem um sistema de direção agradavelmente preparado para aceitar os comandos do motorista, segue a trajetória mesmo quando o asfalto não ajuda, mas não parece ter garras particularmente afiadas.

Enquanto aguardamos por uma oportunidade de avaliação mais completa da novidade – e a confirmação de sua comercialização no mercado brasileiro –, podemos dizer que nossas primeiras sensações ao volante foram bem positivas.

Peugeot e-3008

Preço na Itália R$ 300.000
Preço no Brasil (estimado) R$ 320.000

Motor: dianteiro, elétrico, síncrono, ímãs permanentes
Combustível: eletricidade
Potência: 213 cv (ou 157 kW)
Torque: 345 Nm
Câmbio: caixa redutora com relação fixa
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos (d) e discos ventilados (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,54 m (c), 1,90 m (l), 1,64 m (a)
Entre-eixos: 2,74 m
Pneus: dado não disponível
Porta-malas: 428 litros
Peso: 2.108 kg
0-100 km/h: 8s8
Velocidade máxima: 170 km/h (limitada)
Consumo médio: 5,7 km/kWh (Europa)
Bateria: íons de lítio, 73 kWh líquidos
Autonomia: 512 km (ciclo WLTP)
Recarga máxima: 11 kW AC e 160 kW DC