Cultura

Salvador Dalí no Brasil: mostra interativa expõe a obra do mestre surrealista

Crédito: Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí,

"Desafio Dalí", em São Paulo: formato novo de exposição, com seis áreas expositivas e mais de 100 conteúdos artísticos (Crédito: Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí,)

Por Felipe Machado

Transformar as ideias do maior pintor surrealista da história em cenários reais seria, em qualquer contexto, uma tarefa para lá de complexa. Talvez seja por isso que a mostra que será inaugurada em maio, no Museu de Arte Brasileira FAAP, em São Paulo, tenha sido batizada com um título tão apropriado. Desafio Salvador Dalí: Uma Exposição Surreal apresenta a vida do artista espanhol por meio de reproduções das suas obras mais importantes, tecnologia e experiências interativas.

Para um artista que trabalhava com o subconsciente e adorava explorar o mundo dos sonhos, Dalí tinha o pé no chão em relação à organização de seu acervo. A maioria de seus quadros, vinculados à Fundação Gala-Salvador Dalí, estão concentrados em quatro instituições. São três na Espanha — nas residências em Portlligat e Figueres, e no Museu Reina Sofia, em Madri — e uma nos EUA, no Museu Dalí em St. Petersburg, na Flórida.

Diante da dificuldade cada vez maior de transportar essas obras para outros países, a Fundação Gala-Dalí criou um formato de exposição nova e bastante original, algo que transita entre a visitação tradicional a um museu e as mostras imersivas, onde as pinturas são projetadas em grandes telas. São Paulo será a primeira cidade a receber a novidade, batendo concorrentes como Dubai e Nova York. Realizada pela produtora Conteúdo Criativo, com concepção da empresa espanhola ArtDidaktik, Desafio Dalí é composta por seis áreas expositivas e mais de 100 conteúdos artísticos.

Uma trajetória divida em décadas: reproduções em telas gigantes de seus trabalhos mais expressivos (Crédito:Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí, VEGAP, Barcelona, 2024; AFP)

Abre com um grande corredor com oito salas, cada uma dedicada à produção de uma década. Com uma diferença: enquanto as pinturas originais têm medidas bastante reduzidas, aqui elas foram ampliadas e estão reproduzidas em paredes gigantes, fabricadas na Espanha, com uma tecnologia que simula a iluminação das galerias convencionais.

“É um conceito transformador”, afirma Paulo Bonfá, um dos responsáveis pela montagem da mostra no País, ao lado de Roberto Souza Leão. Para o produtor, Dalí era um visionário também na relação com o público. “Ele compreendeu desde cedo a importância de se tornar um personagem global. Sabia atrair a atenção da mídia, por isso estimulava encontros com grandes personalidades, como os Beatles, a rainha Elizabeth, o papa.”

Outra área da FAAP abriga a réplica do simples e charmoso ateliê em Portlligat, no litoral espanhol, onde o pintor produziu suas obras-primas mais famosas.

Há ainda um ambiente audiovisual composto por material exclusivo de Dalí como cineasta, ilustrador, cenógrafo, diretor de arte e publicitário.

Ao contrário de outros espaços culturais, o uso do celular aqui é estimulado: por meio de um aplicativo, o visitante pode acompanhar informações sobre as criações por meio de um podcast feito especialmente para o evento.

A mostra termina com trabalhos em 3D, área em que o pintor foi pioneiro, e promete uma “viagem de balão” ao interior de sua mente, auxiliada por meio de óculos de realidade virtual. Tentar imaginar o que se passava na cabeça de Dalí — esse deve ter sido o maior de todos os desafios.

(Divulgação)

Alma excêntrica
Uma vida que se confundia com a produção artística

Nascido em 1904, na cidade catalã de Figueres, Salvador Dalí foi uma das figuras mais populares e controversas do movimento surrealista no século XX.

Marcada por uma expressão artística totalmente única e uma personalidade extravagante, sua vida foi um labirinto de emoções e controvérsias.

Estudou na Escola de Belas Artes de San Fernando, em Madri, onde logo revelou um talento excepcional.
Envolveu-se com o movimento surrealista, ao lado de nomes como o cineasta Luis Buñuel — com quem co-dirigiu o filme Cão Andaluz — e André Breton, cujo manifesto que inspirou o movimento completa 100 anos em 2024.
Caracterizados por imagens oníricas e técnica primorosa, seus quadros exploram os abismos da psiquê humana.
No centro de sua vida estava Gala, sua musa e esposa, com quem viveu um intenso e tumultuado relacionamento.
Morreu em 1989 e foi enterrado em sua casa, em Figueres, onde funciona hoje o Museu Dalí. Para um artista cuja vida confundiu-se com a arte, nada mais adequado do que exibir a própria morte como uma obra a mais.