Comportamento

EUA podem estar emitindo três vezes mais metano do que o volume divulgado

Liberação de metano na atmosfera em campos petroquímicos norte-americanos pode ser bem maior do que se pensava; gás é 80 vezes pior que dióxido de carbono no efeito estufa

Crédito: David Goldman

Nos EUA, a exalação de metano na atmosfera é duas vezes maior pelo setor de combustíveis fósseis do que pela agricultura (Crédito: David Goldman)

Por Luiz Cesar Pimentel

Produtores de gás e petróleo nas principais plataformas petroquímicas dos EUA podem estar emitindo três vezes mais metano do que sugerem as estimativas oficiais, segundo estudo da revista científica Nature. A notícia ganha um tom mais dramático com a constatação de que o país norte-americano junto à China são os principais emissores do poluente no planeta, respondendo por 36,5% do total global. O metano é o maior vilão do aquecimento global, com potencial de aquecer a Terra 80 vezes mais do que a mesma quantidade de dióxido de carbono. É o componente mais presente no gás natural e, quando liberado sem queima na atmosfera, potencializa o efeito estufa.

A liberação se dá principalmente por vazamentos em poços ou nas usinas de processamento gasoso.
A ação humana é responsável por 60% da emissão de metano, enquanto a agropecuária fica com 40%.
A concentração do gás na atmosfera mais do que dobrou nos últimos 200 anos, crescendo de 0,8 para 1,7 ppm (partes por milhão).
Ele é culpado por estimados 30% do aumento da temperatura do planeta desde a Revolução Industrial, mesmo com dissipação mais rápida do que a do gás carbônico.

Nos EUA, a exalação de metano na atmosfera é duas vezes maior pelo setor de combustíveis fósseis do que pela agricultura. Já no Brasil, o gás resultante da produção energética é quase dez vezes menor do que a do setor agro. Em nosso caso, o maior responsável é o gado, já que a maior parte vem da fermentação no processo de digestão em organismos ruminantes — a liberação é em forma de arroto (eructação) e flatulência.

No limite

As emissões globais do gás poluente permanecem em platô alto desde que atingiram recorde em 2019. Para atender o acordo climático de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5º C acima da era pré-industrial, seria preciso diminuir a liberação de metano dos combustíveis fósseis em 75% nesta década, o que não vem acontecendo.

Análise da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou que a produção e o uso fóssil geraram 132 milhões de toneladas do gás em 2023. Se implementados na íntegra e no prazo, os acordos firmados entre os países reduziriam as liberações dos combustíveis fósseis em 50% até 2030.

No entanto, a maioria das promessas ainda não resultou em planos concretos. “Estou animado com o que vimos nos últimos meses, que mostra que poderia fazer uma diferença enorme e imediata na luta mundial contra as mudanças climáticas”, disse Fatih Birol, diretor executivo da AIE, em comunicado. “Agora, devemos nos concentrar em transformar os compromissos em ações, enquanto continuamos a almejar mais alto.”