Olimpíada de Paris promete sustentabilidade em cada detalhe
O evento que capta a atenção de milhões de espectadores é a chance de Paris mostrar ao mundo um modelo de urbanismo sustentável e possível para megalópoles

O Centro Aquático é uma das poucas novas construções de Paris para os Jogos (Crédito: Dimitar Dilkoff)
Por Denise Mirás
Paris pretende aproveitar sua Olimpíada e Paralimpíada para provar a bilhões de espectadores que viver em um mundo melhor é possível. E que a reversão ao verde e ao coletivo pode ser rápida, amenizando os extremos climáticos que o planeta já começa a sentir. É uma oportunidade única que os Jogos oferecem a cada quatro anos, de se enviar uma mensagem “para que todos vejam, ao mesmo tempo”, cada vez mais rara, em meio a uma comunicação fragmentada e polarizada. E a redução das emissões de carbono é a grande proposta que a capital francesa quer apresentar, por meio do evento esportivo que volta a receber depois de um século (além de 1924, havia sido sede dos Jogos de 1900, então parte da Exposição Universal).
Afinal, com disputas olímpicas (de 26 de julho a 11 de agosto) e paralímpicas (de 28 de agosto a 8 de setembro), Paris terá a atenção de 40% da população global no meio deste ano.

Grandes eventos como Olimpíadas e Copas do Mundo sempre recebem críticas pelo impacto negativo que causam em suas sedes, durante muito tempo povoadas por “elefantes brancos” — as ruínas das grandes arenas levantadas (e em boa parte das vezes superfaturadas).
Os organizadores de Paris optaram pelo reaproveitamento de arenas e praças existentes, ou por estruturas desmontáveis, e irão levantar apenas 5% do conjunto necessário às competições. Mas, além disso, garantem que seus Jogos serão os primeiros a somar mais benefícios à cidade do que prejuízos.
Pela metade
A intenção, com relação às emissões de carbono intensificadas nos últimos anos, é reduzir ao menos pela metade o que foi produzido nos Jogos de Londres 2012 e Rio 2016 — mais de 3,4 toneladas de CO2 em cada cidade. Paris estabeleceu o teto de uma tonelada e meia.
Mas para seus 800 eventos desportivos são esperados pelo menos 15 milhões de visitantes — o que impacta na cidade principalmente com os deslocamentos, primeiro pelo aumento do número de voos entre países e depois internamente. Aviões, ônibus e carros são os maiores vilões, no caso da poluição.
Para os Jogos, foi calculada em seis quilômetros a distância máxima entre os locais de competição, privilegiando pedestres e também ciclistas: 3 mil bicicletas pré-pagas estarão à disposição do público.
Além disso, muitas ruas e avenidas vetadas no entorno das arenas serão mantidas fechadas a veículos no pós-Jogos.

Carlos Bueno, especialista em governança ambiental — e também maratonista —, acredita que Paris cumprirá suas metas de proteção climática e de sustentabilidade para fugir do rótulo de segunda cidade mais congestionada da Europa (atrás apenas de Londres), com apoio mesmo de empresas privadas. “Já se incentiva há anos o transporte público de baixo carbono, os veículos elétricos ou híbridos e o uso de bicicletas e patinetes compartilhados”, assinala, destacando que a cidade conta com 60 quilômetros de ciclovias unindo não apenas arenas, mas também bairros.
O especialista ainda observa que haverá uma compensação real de carbono com 8.500 hectares de novas áreas verdes (o que equivale a mais de 50 “parques Ibirapuera”, de São Paulo).
O plano elétrico de Paris prevê fontes de energia renováveis, da solar à eólica. A Vila dos Atletas, que depois se tornará moradia popular, é um exemplo de refrigeração natural geotérmica e captação de água do subsolo, para evitar a instalação de ar condicionado.
E, além dos projetos para economia e reuso de água, também haverá minimização de recicláveis. Os planos dos organizadores alcançam até a alimentação — serão servidas 13 milhões de refeições com menus “de baixo carbono”. Serão introduzidos 30% de orgânicos, sendo 80% de origem francesa, com oferta de mais verdes para diminuir o consumo de carne.
“Com um pilar sócio-ambiental, Paris se torna uma incubadora de soluções”, observa Carlos Bueno. E um modelo de influência em planejamento urbano e sustentabilidade, para que as cidades sejam “devolvidas” limpas aos pedestres e ciclistas: um desafio público não apenas da capital francesa, mas das grandes metrópoles do mundo todo.
