A Semana

O código populista de Nicolás Maduro

Crédito: Jesus Vargas

Maduro: manipulação psíquica e uso da força (Crédito: Jesus Vargas)

Por Antonio Carlos Prado

No amplo leque de estratégias políticas das quais dispõem os governantes autocráticos, insuflar a população com sentimentos nacionalistas é um dos recursos — até porque a comoção brota passionalmente do povo, não carece que o ditador tenha carisma. Foi esse o lance do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na semana passada, para vencer as viciadas eleições de 28 de julho: ele avançou na proposta de anexar formalmente a região de Essequibo, que pertence às Guianas, tornando-a um estado venezuelano. Ele seria capaz de guerrear para obter Essequibo? Claro que não, é só mais um passo populista — o sentimento de nacionalismo segura qualquer tirano. Maduro, marcou as eleições, in memorian, na data de nascimento de Hugo Chávez, falecido em 2013. Tudo isso compõe, digamos, movimentos psíquicos. Mas há, também, aqueles dos quais o autocrata não pode abrir mão: impedir à força candidaturas de adversários competitivos, como eram, por exemplo, Maria Corina Machado e Corina Yoris. Maduro está seguindo à risca a cartilha das eleições de verniz que lhe dão falsa legitimidade. Será reeleito porque não há como não sê-lo com tanta manipulação.


Chávez: eleição marcada no dia de seu nascimento (Crédito:Divulgação )

LIVROS
Confissões de um paciente de Freud

Kardiner: paciente na famosa rua Bergasse, número 19 (Crédito:Divulgação )

Tanto os adeptos quanto os severos críticos da psicanálise concordam em um ponto: saber, cada vez mais, sobre o desenrolar do dia a dia de Sigmund Freud (1856-1939) e como ele se relacionava com seus pacientes é fonte de estudo que exerce constante fascínio — seja para falar bem, seja para falar mal de suas teorias e obras. Tais pontos são amplamente abordados em uma obra-prima que caíra no esquecimento há meio século e é agora relançada pelo selo Quina: o excelente livro Minha Análise com Freud – Reminiscências, escrito pelo psiquiatra e também psicanalista norte-americano Abram Kardiner (1891-1981), que foi analisando de Freud. Kardiner começou a dedicar-se à psicanálise em um tempo no qual existiam não mais que oito psicanalistas em Nova York. Kardiner tornou-se um dos mais famosos pacientes e interlocutores de Freud, no consultório da rua Berggasse, número 19, em Viena. Mais e melhor que ninguém acompanhou o desenvolvimento da psicanálise. Todo esse material está em seu livro. É fundador do New York Psychoanalytic Institute.

Freud: dia a dia descrito em excelente livro (Crédito:Divulgação )
Divulgação

ASILO
O desrespeito de um e o respeito de muitos pela Convenção de Viena

Polícia equatoriana se prepara para invadir
a Embaixada do México: opção pelo arbítrio (Crédito:Alberto Suarez)

É animadora aos que cultivam o respeito pelos tratados internacionais a reação dos países da América Latina diante do arbítrio do presidente do Equador, Daniel Noboa. Ele ordenou que a polícia invadisse, mesmo tendo de arrombar portas, a sede da Embaixada do México na cidade de Quito (capital). Motivo: prender o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas. Condenado por corrupção, Glas pediu asilo político à Embaixada do México e o governo mexicano o concedeu oficialmente. Foi o que bastou para que Noboa determinasse a invasão, valendo-se de um argumento que é mera estultice: diplomatas de seu país e diplomatas do México teriam abusado de imunidades, prerrogativas e privilégios. Houve o arrombamento de portas, houve
a invasão, houve a prisão, houve tudo de irregular – Glas foi hospitalizado devido à overdose de antidepressivos e ansiolíticos, e está preso. Mas houve, também, protestos em uníssono, e isso demonstra que, acima de ideologias, governantes da América Latina querem o cumprimento de tratados. O corpo diplomático do Itamaraty declarou que “repudia a invasão”. Ao longo da semana passada, repúdio igual veio do presidente da Argentina, o ultradireitista Javier Milei, e do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que é de esquerda. Ao presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, Lula disse que o gesto do Equador
“é uma grave ruptura”. O governo mexicano rompeu relações com o equatoriano.

O acordo
A Convenção de Viena determinou, em 1961, a inviolabilidade de sedes diplomáticas estrangeiras. Leia-se o seu artigo 22: “os agentes do Estado acreditado não poderão nelas ingressar sem consentimento”.