Brasil

Entenda como a janela partidária reforça a polarização

Dança das cadeiras nas legendas fortalece a rivalidade entre Lula e Bolsonaro, que devem ser cabos eleitorais influentes este ano e investem nas campanhas das capitais de olho nas eleições de 2026. O principal foco do PT e do PL é a campanha em São Paulo

Crédito: Rafael Vieira

Na retaguarda da polarização entre o presidente Lula e Jair Bolsonaro, Gleisi Hoffmann (PT) e Valdemar Costa Neto (PL), abaixo, querem expandir seus partidos nos municípios. O PT concorrerá em 16 capitais e o PL, em 19 (Crédito: Rafael Vieira)

Por Vasconcelo Quadros

RESUMO

•  Troca-troca de partido foi permitido até último dia 5
• PT, de Lula, e PL, de Bolsonaro, as duas principais lideranças nacionais, vão se enfrentar em 11 capitais
• Em busca de alinhamento com um desses dois ‘cabos eleitorais’, prefeitos e vereadores trocaram de legenda em pelo menos 20 das 26 capitais
• Capital paulista, o colégio eleitoral mais denso do País, é o principal foco eleitoral

 

A reconfiguração da correlação de forças e a persistente polarização entre as duas principais lideranças do País sinalizam que as disputas deste ano serão muito diferentes da história das eleições municipais. O resultado das trocas permitidas pela janela partidária, encerrada no último dia 5, indica que, ao contrário de 2020, quando tiveram desempenho pífio, o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro terão peso decisivo como cabos eleitorais.

O foco principal dos dois é a capital paulista, o colégio eleitoral mais denso do País, com 9, 3 milhões de eleitores — 27,4% dos 33,98 milhões de eleitores paulistas. O troca-troca de partidos forçou um rearranjo na composição da Câmara de Vereadores paulistana com larga vantagem para o prefeito Ricardo Nunes, cuja legenda, o MDB, quase dobrou o número de cadeiras, saltando de 6 para 11.

O PT perdeu a liderança, mas subiu de 8 para 9 vereadores, porcentagem bem menor que o principal concorrente no País, o PL, que dobrou de 3 para 6 sua representação na Câmara Municipal.

Ainda assim, por decisão antecipada imposta por Lula, o PT, com uma bancada equivalente a quase o dobro do PSOL, manterá apoio ao deputado Guilherme Boulos, mesmo que seu partido tenha encurtado de 6 para 5 vereadores com a janela.

(Evaristo Sa)

O PSB da deputada Tabata Amaral manteve os mesmos dois vereadores na capital paulista, mas ela, que se apresenta como alternativa da terceira via, ganhou o reforço do imprevisível José Luiz Datena. O apresentador se filiou ao PSDB para, segundo jura, sair como candidato a vice da deputada. O problema é que desde que ensaiou entrar na política, em 1992, Datena entrou e saiu de 11 partidos, se anunciou várias vezes como candidato, mas sempre recuou.

Tabata aposta que desta vez será diferente, mas terá também que administrar uma curiosa novidade na política brasileira, que reflete no campo pessoal: o namorado, deputado João Campos, é o candidato do PSB à Prefeitura do Recife, depois de uma trégua na guerra entre os herdeiros do clã Arraes em Pernambuco.

Mas o apoio mais significativo será mesmo do vice-presidente, Geraldo Alckmin, que governou o estado por quatro vezes pelo PSDB, mas perdeu a eleição e prestígio ao entrar mais uma vez na disputa presidencial de 2018. O espólio tucano foi absorvido pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, que também promete entrar firme nas campanhas municipais paulistas para se fortalecer como provável candidato do PL em 2026. O PSDB, que caminha para um fim melancólico, perdeu todos os oito vereadores na capital paulista.

Fiasco de 2020

O que deve marcar mesmo a disputa deste ano é a forte polarização entre Lula e Bolsonaro, este um líder de massas da extrema-direita que, mesmo inelegível e com sérios problemas judiciais pela frente, vem demonstrando notável força eleitoral.

• PT e PL vão se enfrentar em 11 capitais.
• Houve dança das cadeiras de prefeitos e vereadores em pelo menos 20 das 26 capitais.

• Em Brasília, que não tem eleição, até o senador de direita Izalci Lucas trocou o PSDB pelo PL, numa cerimônia em que a ficha foi abonada por Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro, que tiveram pífia participação nas eleições de 2020, não conseguindo eleger nenhum de seus candidatos em capitais, se organizaram para disputar Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Florianópolis, Porto Alegre, Vitória e Manaus.

Na capital amazonense, o ex-deputado Marcelo, seduzido por Lula, trocou o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab pelo PT e segue firme como candidato à Prefeitura. Mas terá de enfrentar o prefeito David Almeida (Podemos) e dois bolsonaristas raiz, o deputado Capitão Alberto Neto (PL) e Coronel Menezes (PP).

Em Rio Branco, depois de romper com o governador Gadson Camelli (PP), o prefeito Tião Bocalom filiou-se ao PL. O PL disputará 19 capitais, enquanto o PT terá candidato em 16.

O MDB de Ricardo Nunes foi a legenda que mais cresceu com a janela partidária. Já Guilherme Boulos (abaixo), embora o PSOL tenha perdido um vereador, consolidou o apoio do PT na capital paulista pela força de Lula (Crédito:Bruno Escolastico Sousa Silva)
(Thenews2)

Embora estejam bem distantes do MDB, um partido paroquial com amplo domínio nos municípios, PT e PL farão dessas eleições um ensaio para 2026.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o partido está organizado em cerca de quatro mil municípios e fará este ano um mergulho para melhorar a capilaridade no País, apostando na eleição do maior número de vereadores e prefeitos. Ela acha que a força de Lula atrairá muitas lideranças municipais, mas quer critério nas filiações para evitar que na primeira dificuldade os novos correligionários pulem para outra legenda.

“O partido terá capilaridade nos estados. Onde não pudermos ter candidato forte, vamos buscar parcerias duradouras.”

Em 2020, o partido só venceu em 179 prefeituras e elegeu 2.635 vereadores, magro desempenho se comparado com o PL à época comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto: 345 prefeituras e 3.438 vereadores.

O presidente do PL quer fortalecer o partido com a ousada meta de eleger mais de mil prefeitos.