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Saiba quem fareja vaga do senador Moro e como essa disputa pode antecipar 2026

Eventual cassação de Sergio Moro, que uniu PT e PL contra ele, abre mais um front na disputa eleitoral que se dará entre os dois partidos antagonistas, antecipando o confronto de 2026: Michelle Bolsonaro e Gleisi Hoffmann deverão se enfrentar pela vaga do ex-juiz no Senado

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Marcelo Moreira

Agonizando, mas ainda sobrevivendo, o senador Sergio Moro (União-PR) é pivô de uma disputa política que, em um primeiro momento, uniu PT e PL em torno do pedido de sua cassação em uma luta pelos eventuais despojos do outrora “herói” da Operação Lava Jato. Mas a briga ganhou uma dimensão nacional envolvendo as duas maiores forças políticas do País. Os dois partidos antagônicos contam os dias para uma sentença que retire o ex-juiz do Senado e começam, desde já, a elencar possíveis candidatos à sua vaga, dando como certa a cassação, que pode se consumar nesta segunda-feira, 8.

• Caso ocorra o afastamento de Moro, haverá uma eleição suplementar ainda neste primeiro semestre para a escolha do novo senador.
• Esse pleito extra ganha ar de uma vitrine do embate nacional que acontecerá em 2026, colocando frente a frente um candidato petista contra um bolsonarista.
• Não se descarta o enfrentamento entre a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

As duas, contudo, terão que passar por uma disputa interna em seus partidos.

• Gleisi enfrenta a oposição do deputado Zeca Dirceu (filho do ex-ministro José Dirceu) que também pretende disputar a eventual vaga de Moro.

Já a esposa do ex-presidente terá que derrotar dentro do PL o ex-deputado Paulo Martins, que ficou em segundo lugar em 2022, perdendo a disputa com Moro ­— e seria o candidato natural. Mas o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, já aventou a possibilidade de lançar a ex-primeira-dama para avaliar seu potencial como candidata a presidente em 2026, uma vez que seu marido está inelegível.

• A mulher do ex-juiz, a deputada Rosângela Moro (União-SP), também está se habilitando para a disputa e já está transferindo seu domicílio eleitoral de São Paulo para o Paraná.

Além delas, outros personagens da política paranaense prometem nacionalizar a eventual eleição suplementar.
O ex-governador Roberto Requião deixou o PT e acaba de se filiar ao nanico PRD.
No MDB, o nome em alta é o do deputado federal Sergio Souza.
Correndo por fora, pelo PP, aparece o ex-ministro da Saúde e ex-deputado Ricardo Barros, que foi líder do governo Bolsonaro na Câmara.

O desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza votou contra a perda do mandato: a decisão final só deve sair na segunda-feira, dia 8 (Crédito:Ernani Ogata)

Gilmar mendes

Moro, no entanto, ainda tenta ganhar fôlego e evitar a cassação no Paraná, embora tanto o PT como o PL prometam levar o caso ao TSE para sacramentar a perda do mandato do rival.

O ex- juiz começou a ser julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE- PR) nesta semana em Curitiba, respondendo por abuso de poder econômico na pré-campanha eleitoral de 2022, quando teria gasto R$ 4,8 milhões além do que a legislação eleitoral autoriza.

A votação, que foi suspensa por um pedido de vistas, está empatada em 1 a 1 e será retomada nesta segunda-feira, com os votos de outros cinco juízes. O relator do processo, desembargador Luciano Carrasco Falavinha Souza, votou contra a perda do mandato e, portanto, pela absolvição do ex-juiz, mas o desembargador José Rodrigo Sade divergiu e considerou como parcialmente procedente o processo da cassação. Além disso, votou pela inelegibilidade por oito anos a partir de 2022. Ou seja, o ex-juiz só poderá voltar a disputar uma eleição em 2030.

Em meio à tensão, Moro foi ao STF se encontrar com o ministro Gilmar Mendes, um antigo desafeto e crítico ferrenho da Lava Jato. O ex-juiz teria pedido que Mendes mantivesse um “canal aberto” ao diálogo. Mas a iniciativa não parece ter sido bem-sucedida, já que Gilmar voltou a criticar a atuação de Moro quando era juiz e teria dito que ele deveria aproveitar sua experiência no Senado “para aprender”.

No TRE-PR, as ações ajuizadas pela coligação do PT, PV e PCdoB desde o início foram rechaçadas pela defesa do senador.

Em depoimento, ele desqualificou as acusações e disse que os partidos não comprovaram o abuso de poder econômico. A situação do senador é considerada delicada.

É consenso que mesmo que ele saia vitorioso no Paraná, dificilmente conseguirá reverter o impeachment no TSE. Foi o que aconteceu com o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, que foi absolvido no Paraná por 6 a 0, mas perdeu o mandato de deputado federal no TSE pelo mesmo placar.