A criação da USP

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Ricardo Guedes: "Do projeto do radar brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial do grupo de Física da USP, nascem as bases de nossa indústria eletromecânica" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Guedes

A Universidade de São Paulo foi fundada em 1934. Após a derrota na Revolução Constitucionalista em 1932, a elite paulista, nas pessoas de Júlio de Mesquita, Paulo Duarte e Armando de Sales Oliveira, decidiram fundar uma Universidade para a “investigação científica de altos estudos, de cultura livre, e formação das classes dirigentes”. Nas palavras de Júlio de Mesquita, “Vencidos pelas armas, sabíamos perfeitamente que só pela ciência e pela perseverança voltaríamos a exercer a hegemonia no seio da Federação. Herdáramos de nossa ascendência Bandeirante o gosto pelos planos arrojados. Que maior monumento poderíamos erguer do que a Universidade?” Interessante observar que 60 anos após a fundação da USP, Fernando Henrique Cardoso chega à Presidência da República para a hegemonia de São Paulo.

O matemático Teodoro Ramos foi então enviado à Europa, recrutando cerca de 30 professores estrangeiros para a USP. Para a Física, veio Gleb Wataghin, um dos mais brilhantes discípulos de Enrico Fermi, que viria a quebrar o átomo pela primeira vez em 1942 na Universidade de Chicago. Para as Ciências Sociais, dentre outros, vieram Lévi-Strauss, fundador da Antropologia Estruturalista, e Roger Bastide. Da Física, decorreram Cesar Lattes, Mario Schenberg, Marcelo Damy, Paulus Pompéia, dentre tantos, na física dos raios cósmicos. Das Ciência Sociais, Fernando de Azevedo, Antônio Cândido, Florestan Fernandes, e de gerações futuras como Fernando Henrique Cardoso, dentre outros. Na sequência, Zeferino Vaz fundou a Escola de Medicina de Ribeirão Peto em 1951, organizando a Universidade de Campinas em 1966. Conheci Gleb Wataghin em 1977 na Universidade de Campinas, onde ele me mostrou o que seria o processador de quartzo dos microcomputadores futuros. Naquele momento, entendi o leitmotiv e força de São Paulo, do conhecimento e da determinação, que poderíamos sintetizar em Abílio Diniz, não o único.

A USP nasceu para “investigação científica, altos estudos, cultura livre e formação das classes dirigentes”

Joseph Ben-David, em Centers of Learning, fala-nos sobre instituições de ensino que desempenham papel fundamental no desenvolvimento dos países. Assim foi com a Universidade de Harvard em 1636, a Universidade de Berlim em 1810, a USP em 1934, gerando desenvolvimento. Do projeto do radar brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial do grupo de Física da USP, nascem as bases de nossa indústria eletromecânica. Segue-se a fundação do ITA, com Paulus Pompéia, e na sequência a Embraer, hoje a terceira maior companhia de jatos comerciais do mundo, gerando desenvolvimento.

A USP conta hoje com um corpo de mais de 5.500 docentes e pesquisadores, cerca de 98.000 estudantes, ranqueada entre as 100 primeiras do mundo no World Reputation Rankings da Times Higher Education. USP, ícone de nossa história.