Sensação térmica global

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Mentor Neto: "Quando eu era criança, só existiam três temperaturas: um calorão, fresquinho ou frio para caramba" (Crédito: Divulgação)

Por Mentor Neto

Existe uma parcela da população, e isso inclui os líderes mundiais, que não acreditam em Aquecimento Global.

Parte deles não acreditam porque são simplesmente ignorantes. Não são capazes de admitir os mais básicos conceitos científicos.

Outros, desconfio, não acreditam só de birra.

O ser humano tem isso, fazer o que?

Sujeito não acredita em Aquecimento Global, como dizia meu pai, porque “quer ser do contra” ou “quer aparecer”.

E como esse infeliz sabe que os efeitos de um planeta superaquecido não vão afetá-lo diretamente, apenas às próximas gerações, então que se dane.

Toma banhos de 40 minutos, escova os dentes com a torneira aberta e sai gritando aos quatro ventos que não está nem aí para os ursos brancos.

Eu não.

Eu tomo banho de 20 minutos, verdade, mas só o faço porque sou um sujeito grandão. Leva um bom tempo para ensaboar.

E o planeta tem que ficar feliz, porque sou careca. Já imaginou se eu tivesse uma vasta cabeleira? Aí sim, a Terra estaria frita (sem trocadilho).

Mas vamos voltar ao tema deste pequeno ensaio, que nada tem a ver com meus cabelos.

Pois bem, não importa de que lado você está. Do lado dos que acordaram para os perigos do mar subir alguns metros, dos descrentes ou dos birrentos, a verdade é inegável: está fazendo um calor inédito este ano.

Na semana que passou, alias, o Rio de Janeiro bateu sensação térmica de 60º.

Aí eu já acho que é Marketing.

Marketing de Turismo.

Porque a última vez que estive no Rio de Janeiro a sensação térmica foi de 82º. Isso no Jardim Botânico.

Então eu pergunto: quem é esse sujeito que se julga no direito de calcular a sensação térmica?

Saiba que essa é uma invenção moderna, criada só para nos infernizar.

Quando eu era criança, só existiam três temperaturas: um calorão, fresquinho ou frio para caramba.

Com essas três medidas, a gente se virava muito bem.

Hoje não. Hoje temos este cidadão que se julga o mais importante termômetro da raça.

Vai lá e mede a temperatura sob o sol escaldante que registra, sei lá, 43º.

Descoberto o principal culpado pelo aquecimento global

Ele sabe que na sombra a temperatura deve estar mais baixa, mas mesmo assim, lambe o indicador para analisar de onde vem o vento, e pimba. Decreta que a sensação térmica é de 68º, assim, do nada.

Ocorre que os termômetros foram criados exatamente para medir a sensação térmica. Não é possível que os dois estejam certos.

Fato é que estamos atravessando uma onda de sensações térmicas insuportáveis.

No Guarujá, dizem, os farofeiros agora trazem só a farofa de casa.

O frango eles cozinham ao sol mesmo.

Mas nada se compara ao interior de uma residência sem ar condicionado.

Porque, na praia, você sempre tem a opção de se largar ao mar e torcer para que aquela água tépida do meio dia tenha a propriedade de interromper o trabalho de suas glândulas sudoríparas.

O calor subsaariano que estamos submetidos também não é tão insuportável para os proprietários de ar-condicionado, que criam um círculo vicioso. Se de um lado o calor obriga que liguem seus equipamentos de refrigeração, de outro estão colaborando para acelerar o Aquecimento Global, um ar-condicionado de cada vez.

Aí, muitos dos esclarecidos sobre o tema dirão que isso não é nada comparado com a flatulência bovina, que reputam a grande vilã moderna.

Difícil acreditar que o efeito colateral da digestão das pobres vaquinhas seja exterminar toda vida do planeta.

O fato é que estamos chegando próximos do ponto de não-retorno.

O momento em que, se não fizermos alguma coisa, não será possível reverter o fim do mundo em forma de fritada.

Tudo culpa de quem? Do canalha que calcula a sensação térmica, claro.