Coluna

Os manifestantes e os militares

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Felipe Machado: "Não sei se a cartilha militar diz alguma coisa sobre a delação de um superior, ainda mais por um ajudante de ordens que tenta salvar a própria pele" (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Pouco antes da eleição presidencial de 2022, milhares de brasileiros passaram dias e noites em frente aos quartéis. Vítimas de algum tipo de lavagem cerebral, pediam, por meio de cartazes e gritos de guerra, que “as Forças Armadas salvassem o País”. Fico feliz de saber que alguns militares atenderam ao pedido — só suspeito que tenha sido de uma maneira bem diferente daquela imaginada pelos pseudo-patriotas.

O Brasil começou a ser salvo pelas Forças Armadas quando o tenente-coronel Mauro Cid decidiu trair o seu ex-chefe, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Não sei se a cartilha militar diz alguma coisa sobre a delação de um superior, ainda mais por um ajudante de ordens que tenta salvar a própria pele. Provavelmente, não, já que militares estão acostumados a lidar com a Justiça Militar, não com o Código Penal que rege a vida real dos brasileiros sem farda. O que remete à frase do ex-primeiro ministro francês George Clemenceau: “A Justiça militar está para a Justiça, assim como a música militar está para a música”.

Em relatório militar divulgado nessa semana, Mauro Cid recebeu “nota máxima”, mesmo tendo sido afastado
e preso. Fico imaginando o que um soldado precisa fazer, então, para tirar nota baixa nesse tipo de avaliação. Sua única ação louvável foi ter dedurado Bolsonaro, mas só fez isso quando viu que tinha sido abandonado — como tantos antes dele. Mofou por quatro meses na cadeia, enquanto o ex-presidente passava férias em Angra dos Reis comendo açaí servido pela Wal. Cid acusou Jair de falsificar certidões de vacina; ainda o implicou na venda de joias da Arábia Saudita e na tentativa de golpe de estado. Ao incriminá-lo, ajudou a salvar o Brasil — exatamente como pediam os manifestantes.

Os bolsonaristas não queriam que as Forças Armadas salvassem o País? Pois estão fazendo isso, ao delatar e incriminar o ex-presidente

Outro militar que salvou o Brasil, pelo menos nas versões divulgadas até agora, foi o general Marco Antônio Freire Gomes. Não, ele não comandou sua tropa contra inimigos que ameaçavam invadir o País. Segundo o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, Freire Gomes teria ameaçado prender Bolsonaro quando viu que o ex-presidente queria dar um golpe de estado.

Eu pagaria R$ 89 mil para ver a cara de Bolsonaro quando ouviu isso. O que ele fez, então, com toda aquela coragem que costumava exalar do alto dos caminhões de som na Avenida Paulista? Enfiou a minuta golpista no bolso e foi embora. Espero que os patriotas estejam felizes com as Forças Armadas. Afinal, salvaram o Brasil de coisa pior.