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São Paulo: Boulos perde para Nunes mesmo na periferia e quer Lula por perto

Crescimento do prefeito Ricardo Nunes nas pesquisas eleitorais reforça a tendência de Guilherme Boulos e Tabata Amaral de buscarem apoio na imagem do presidente da República mesmo em momento de popularidade em queda

Crédito: Nelson Almeida/ AFP

Boulos conta com a entrada de fato de Lula na sua campanha em São Paulo: a máquina federal a seu favor (Crédito: Nelson Almeida/ AFP)

Por Marcelo Moreira

A busca do eleitor mais pobre, com as bênçãos de Lula, é o que dois dos principais pré-candidatos a prefeito na cidade de São Paulo pretendem com o início de uma nova fase da campanha eleitoral deste ano, que é a viabilização de suas propostas junto ao eleitorado. Na sombra do crescimento da intenção de voto do prefeito Ricardo Nunes (MDB), os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL), apoiado pelo PT, e Tabata Amaral (PSB), com discreto endosso do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, pertencem a partidos que estão na base do governo e partem para a atração do apoio efetivo de Lula para, principalmente, alavancar a influência entre o eleitorado da periferia da capital, onde o lulismo tem grande força.

Nas últimas semanas, Boulos viu Ricardo Nunes passar à frente nas pesquisas, por mais que estejam em empate técnico.

O candidato de Lula ficou um bom tempo em vantagem nas consultas de opinião pública, mas, pela primeira vez desde o ano passado, foi surpreendido pelo principal adversário, o atual prefeito. Com o esperado apoio de Bolsonaro, Nunes passou à frente nos levantamentos divulgados.

Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, Ricardo Nunes, em março, tinha 32% de intenção de votos, contra 30,1% de Boulos, caracterizando o empate. Na última pesquisa do Datafolha, no começo do mês, Boulos aparecia com 30%, ante 29% do prefeito, que disputa a reeleição, também refletindo o empate técnico.

Tabata Amaral conta com a participação mais efetiva de Geraldo Alckmin. Ricardo Nunes (abaixo) ainda aguarda Bolsonaro (Crédito:Divulgação )
(Marina Uezima)

Na campanha de Boulos, um dado que mais chamou a atenção foi o índice de votos entre os eleitores mais pobres. Segundo o Datafolha, Nunes aparecia na frente, com 30%, contra 24% das intenções de votos em Boulos.

• O dado é expressivo porque o candidato do PSOL, apesar da origem de classe média, há anos mora em um sobrado modesto na periferia da zona sul da cidade, fato que explora oportunisticamente.

• Além disso, sua militância em favor da população sem-teto alavancou sua candidatura pela esquerda, ao ponto do PT abrir mão de candidatura própria para apoiá-lo nas próximas eleições, lançando a ex-prefeita Marta Suplicy como vice.

• Por isso, apesar de Lula estar em queda na popularidade, Boulos aposta na recuperação da imagem do presidente para decolar nas pesquisas.

Para Tabata Amaral, que oscila entre 7% e 8% nas pesquisas, e demora a deslanchar, não há muita alternativa senão a de buscar uma salvação nas ações do governo federal, ainda que o presidente da República esteja formalmente comprometido com a candidatura de Boulos.

Por enquanto, a discrição de Alckmin não é vista como um problema, pois a jovem deputada tem consciência do dilema que o vice-presidente e ministro do governo Lula enfrenta para trabalhar ostensivamente em sua campanha.

Fator decisivo

A questão é como pegar carona no prestígio de um presidente que, em algum momento, deverá se engajar diretamente na campanha de um dos adversários no seu campo de ação, que são as realizações do governo de Lula e de Alckmin.

Tabata também já traçou como estratégia para atrair o eleitorado mais jovem e menos favorecido com a divulgação de sua trajetória de menina pobre, que se tornou profissional bem-sucedida no setor educacional por meio de bolsas de estudo no exterior.

Assim como Boulos, ela cresceu na periferia da Zona Sul, onde ainda mora sua mãe – e alfineta o concorrente ao dizer que nasceu e viveu sempre na periferia, ao contrário de Boulos, que é filho de médicos e que morou em bairros de classe média até os 18 anos de idade.

Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor da FGV-SP, entende que os dois candidatos da centro-esquerda e que flertam com o eventual sucesso do governo Lula, precisarão ter criatividade para enfrentar um nome que está em ascensão e que ainda tem o trunfo de, no futuro, anunciar o apoio Jair Bolsonaro (PL), que tem importante capital político.

Por mais que Bolsonaro esteja enredado em vários inquéritos, um dos quais o que apura seu envolvimento na tentativa de golpe de Estado, “Lula está em um momento de baixa na popularidade e isso afeta sobretudo o Boulos, que depende de uma imagem mais positiva do presidente.”

A rejeição de Lula entre os evangélicos é outro fator que prejudica o candidato do PSOL, enquanto Nunes colhe os frutos desse contexto e, ainda por cima, está mais ativo com seu calendário de obras.”

Dentro deste panorama, Boulos espera que Marta Suplicy, sua candidata a vice, transfira para ele o prestígio que a ex-prefeita adquiriu ao longo dos anos, já que foi prefeita entre 2002 e 2004 e ainda é bem avaliada na cidade.

Não foi por outro motivo que Lula se empenhou pessoalmente em convencê-la a deixar o MDB e o secretariado de Ricardo Nunes para embarcar na campanha de Boulos. Lula e Marta são as melhores cartas que o candidato do PSOL tem para tentar frear a consistente ascensão do prefeito Nunes.