Comportamento

Japão vai proibir turistas de circular entre as gueixas

Excesso de visitantes e o mau comportamento de alguns deles mudaram a rotina de Quioto, no Japão. A cidade bloqueará o acesso às ruas privadas com multa para quem desrespeitar a restrição

Crédito: Kota Kawasaki/Yomiuri/The Yomiuri Shimbun/AFP

Gueixas e maikos em ruas de Quioto: circulação vetada em vias privadas (Crédito: Kota Kawasaki/Yomiuri/The Yomiuri Shimbun/AFP)

Por Elba Kriss

Historicamente conhecido como bairro das gueixas, o distrito de Gion, em Quioto, no Japão, terá novas regras para turistas a partir de abril. Algumas ruas serão fechadas para acesso sob multa de 10 mil ienes — R$ 335 na cotação atual. O motivo é simples, zelar pela privacidade das artistas japonesas que tanto motivam a curiosidade alheia.

Gion é a região em que se localizam as principais casas de chá nas quais elas interagem com clientes em seus tradicionais quimonos.

As anfitriãs e suas aprendizes, as maikos, se apresentam em muitos lugares com música e dança.

O entretenimento e a cultura que há por trás dessa arte chamam milhares de viajantes.

“Quioto atrai por sua singularidade cultural. Capital imperial por séculos, e preservada pelos bombardeios dos americanos na Segunda Guerra Mundial, a cidade passou a se consolidar como símbolo do passado japonês. Alguns bairros emanam história, amplificada no imaginário popular em torno de personagens e fatos, como as gueixas”, diz Emiliano Unzer Macedo, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e professor na Casa do Saber.

Acontece que os excessos de bisbilhotices incomodam. Basta uma rápida pesquisa em sites de busca e redes sociais para entender: há diversos conteúdos sobre onde encontrar as gueixas e quais ruas perambular para flagrar uma delas simplesmente caminhando pela vizinhança. “Pessoas de todos os cantos do mundo continuam usando canais de mídias para falar sobre suas viagens. Na verdade, 74% dos indivíduos usam as redes sociais durante as férias”, considera Macedo, também autor do livro História da Ásia. Não à toa as reclamações de assédio e importunação aumentaram.

Sem perturbação

A Câmara Municipal de Gion lamentou que muitos visitam o distrito como se estivessem em “um parque de diversões”. Isso explica por que Quioto, a antiga capital do Japão, decidiu fechar alguns becos e vielas em que há propriedades particulares.

Afinal, se não existe comércio ou estabelecimento por lá, não é turístico. São residências que não estão ao bel-prazer do instinto paparazzo de viajantes. É o que resumirá a placa com o aviso: “Esta é uma passagem privada, portanto, você não tem permissão para passar por ela”.

A interdição parece radical, mas basta saber que mais de 22 milhões de turistas foram ao Japão em 2023. Para este ano, as projeções vão além. Todos munidos de celulares, câmeras e, por vezes, mau comportamento.

Em 2019, Quioto criou a proibição de tirar fotos das gueixas. Mas não surtiu efeito. A solução, por ora, é vetar que qualquer um adentre pelos quarteirões como se fosse um “parque temático”. Ex­cursionar pelas vias públicas em que há demanda de turismo está liberado.