Economia

Montadoras investem bilhões, na carona do programa verde do governo

O ano de 2024 começou com boas notícias para o setor automotivo. As montadoras anunciaram o volume de investimentos no Brasil de R$ 90 bilhões até 2032

Crédito: Stellantis Divulgação

Industria automotiva se junta aos esforços de descarbonização e redução da dependência de combustíveis fósseis (Crédito: Stellantis Divulgação )

Por Mirela Luiz

A projeção de um investimento recorde de mais de R$ 90 bilhões no setor automotivo, conforme anunciado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e divulgado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sinaliza uma revolução na dinâmica de mercado e na cadeia produtiva nacional. Esta injeção de capital, com foco até o ano de 2032, tem o potencial de posicionar o Brasil como um líder emergente no segmento de produtos híbridos movidos a etanol, além de veículos elétricos e híbridos tradicionais, reforçando a ideia de carros movidos à energia verde.

Do ponto de vista microeconômico, o aumento da diversidade de veículos disponíveis beneficia diretamente a microeconomia, estimulando a competição e a inovação entre as montadoras.

Isso favorece o consumidor brasileiro, que terá acesso a uma gama mais ampla de opções sustentáveis, potencialmente a preços mais competitivos devido à ampliação da oferta e à eficiência produtiva gerada pelos novos investimentos.

“Podemos dizer que a produção de carros híbridos movidos a etanol tem o potencial de trazer uma série de benefícios para o mercado de veículos no Brasil, incluindo a diversificação da matriz energética, a redução das emissões de gases de efeito estufa, o estímulo à indústria automotiva nacional e o aumento da competitividade no mercado global”, analisa Tulio Paim Horta, especialista automotivo e professor de Engenharia Mecânica da Universidade Positivo (UP).

No âmbito macroeconômico, o impacto do investimento se estende por diversas frentes. A expansão da produção de veículos híbridos movidos a etanol está alinhada com políticas de sustentabilidade, como as incentivadas pelo Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), lançado por medida provisória no final do ano passado e voltado para a redução de gases dessa indústria vital.

Isso coloca o País na vanguarda automotiva, contribuindo significativamente para os esforços de descarbonização e redução da dependência de combustíveis fósseis.

“Mais do que uma promessa de modernização, o plano de Alckmin é um compromisso com a sustentabilidade, buscando alcançar a neo-industrialização por meio de práticas de descarbonização”, avalia Cesar Beck, advogado especialista em relações internacionais.

Novos tempos

A regulamentação iminente do programa, prometida até o final de março por Alckmin, representa não apenas um marco regulatório, mas também um catalisador de investimentos significativos no segmento de carros elétricos e híbridos.

“A expectativa é que realmente haverá um crescimento que já está ocorrendo com a procura por carros elétricos e ter mais opções com mais fábricas no Brasil, trazendo, com certeza, o retorno positivo tanto para as fábricas que estão investindo quanto para o consumidor também, que passa a ter boas opções com as marcas que já temos aqui no Brasil”, diz PH Andrade, CEO da IturanMob.

Em meio à crescente pressão global por soluções mais verdes e sustentáveis, o setor automotivo no Brasil está passando por uma transformação sem precedentes. “O plano de investimento de R$ 11 bilhões, da Toyota, traz a geração de mais de dois mil postos de trabalho até 2030. Nossos investimentos vão promover o desenvolvimento da cadeia de fornecedores de componentes para veículos eletrificados, apoiando assim o processo de transição energética da mobilidade no País e em toda a região da América Latina”, conta Evandro Maggio, presidente da Toyota do Brasil.

A gigante do setor, Stellantis, já anunciou planos de investir R$ 30 bilhões entre 2025 e 2030, com foco na produção de veículos híbridos movidos a etanol. “Entramos em um novo ciclo virtuoso para o Brasil. Como parte fundamental da nossa estratégia de crescimento, a América do Sul assumirá um papel de liderança na aceleração da descarbonização da mobilidade”, detalha Carlos Tavares, CEO da Stellantis.

“Entramos em um novo ciclo virtuoso para o Brasil.”
Carlos Tavares, CEO da Stellantis

Esse movimento faz parte de um ciclo mais amplo de investimentos, elevando o total aplicado pelas montadoras de veículos leves no Brasil.

Apenas nos últimos três meses as montadoras anunciaram aplicações R$ 71,4 bilhões no Brasil, provenientes de anúncios recentes feitos por gigantes como General Motors, Volkswagen, Renault, Nissan, Hyundai e Toyota.

As estimativas da Anfavea são ainda mais otimistas. Segundo a entidade, os investimentos podem crescer mais e alcançar até R$ 117 bilhões. “É um ciclo recorde de investimentos. É importante dizer que os investimentos de hoje são a produção de amanhã. Isso reflete o otimismo com que o setor automotivo tem visto o País”, declara Igor Calvet, diretor executivo da Anfavea.

Vale destacar que o programa incentiva as montadoras a adaptarem suas operações e portfólios de produtos para atender as novas demandas por veículos menos poluentes, ao mesmo tempo em que se alinha com os crescentes interesses dos consumidores por práticas sustentáveis.

“Isso, de certa forma, obriga a fábrica a desenvolver carros híbridos ou totalmente elétricos ou alternativos que, na ponta, vai baratear em médio prazo”, explica Fabiano Nagamatsu, CEO da Osten Moove, especializada em desenvolvimento tecnológico.