Comportamento

Geração Z no mercado de trabalho: entre a arrogância e a contribuição

Problemas comportamentais e falta de aptidão prejudicam os jovens profissionais no mercado de trabalho. Nascidos e criados em um mundo totalmente digital, eles enfrentam dificuldades nos relacionamentos interpessoais

Crédito:  Eugenio Marongiu

Jovens entre 13 e 29 anos: conhecimento sobre redes sociais, mas falta de traquejo social (Crédito: Eugenio Marongiu )

Por Mirela Luiz

A Geração Z (ou Gen Z), também conhecida como ‘geração digital’, tem chamado a atenção no mundo corporativo, mas nem sempre pelos melhores motivos. Composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2010, está prestes a ultrapassar os Baby Boomers — os nascidos entre 1945 e 1964 — na força de trabalho este ano, o que tem gerado preocupação entre alguns gestores.

Os problemas começam durante o processo de recrutamento, com profissionais de RH relatando que os candidatos da Geração Z:
• não se vestem adequadamente,
• têm dificuldade em fazer contato visual,
• apresentam exigências salariais irracionais,
• têm dificuldade de comunicação,
• e parecem desinteressados e pouco engajados.

Uma vez contratados, tendem a se comportar de forma arrogante e são considerados difíceis de gerir. Esses problemas de comportamento são um reflexo da perspectiva dos gestores, que vêm de gerações mais velhas, acostumadas a normas diferentes.

De acordo com levantamento realizado por meio do software ResumeBuilder, mais de 30% dos recrutadores preferem contratar trabalhadores mais velhos, em vez dos candidatos jovens.

Além disso, 30% dos recrutadores tiveram que demitir um indivíduo da Geração Z em até 30 dias após o início do trabalho.

Causa e efeito

O fato de terem crescido em um mundo digitalizado afeta a capacidade dessa geração de lidar com o ambiente corporativo.

Muitos deles começaram a trabalhar em home office, o que significa que foram moldados a trabalhar remotamente, sem a interação e o suporte presencial.

“Levará um tempo para que aprendam a se adaptar a um local onde é necessário interagir com colegas, buscar apoio no desenvolvimento pessoal e compreender seu papel dentro da organização”, alerta Genesio Lemos Couto, especialista em gestão empresarial.

Sem formação adequada: jovens da Geração Z encontram obstáculos para ingressar no mercado de trabalho (Crédito:Eugenio Marongiu)

Desafios além da etiqueta

Além disso, a tecnologia corporativa requer treinamento e capacitação para ser dominada.

Os sistemas de planejamento dos recursos da empresa, por exemplo, não são intuitivos e exigem tutoriais presenciais ou digitais.

“É importante lembrar que as gerações mais jovens foram criadas de forma diferente das gerações mais velhas, tanto em termos de ética de trabalho quanto de valores pessoais. A pandemia de covid-19 também teve um impacto significativo na Geração Z, pois muitos deles concluíram seus estudos ou iniciaram suas carreiras durante esse período desafiador”, avalia Couto.

Falta de ética de trabalho: 57% das reclamações

Dificuldade de relacionamento: 22% das reclamações

Mentiras: 21% das reclamações

Fonte: ResumeBuilder

Alguns jovens dessa faixa etária têm problemas de comportamento simples, como dificuldade em fazer contato visual, vestir-se adequadamente para entrevistas e usar linguagem apropriada.

De acordo com estudo norte-americano, há outros desafios que vão muito além da etiqueta e envolvem questões mais sérias. Há casos de:
mentiras (21% dos gestores relataram esse costume),
falta de ética (57% das reclamações),
dificuldade de relacionamento com colegas (22%),
e atrasos (34%).

Contrapontos

Apesar desses problemas, os zoomers podem trazer benefícios para as empresas. Muitos têm sede de aprendizado e podem contribuir para a organização quando recebem investimento e treinamento necessário para desenvolver seu verdadeiro potencial.

As dificuldades no domínio de programas de computador podem ter um impacto inicial na produtividade e eficiência, mas muitos se destacam pela velocidade do aprendizado e pela busca de oportunidades para crescer e se desenvolver.

“Acredito que um ponto importante é em relação à preparação e ao processo de educação dos jovens. Em termos de soft skills e de desenvolvimento para o mercado, essas habilidades não são proporcionadas pelo Estado ou por instituições particulares. Ou seja, esses jovens estão chegando mais despreparados para o mercado de trabalho”, diz Luiz Menezes CEO da Trope, consultoria especializada na Geração Z.

Segundo a edição de 2023 do Censo Escolar, principal pesquisa estatística educacional brasileira, 8,8 milhões de brasileiros de 18 a 29 anos não concluíram o ensino médio e não frequentaram nenhuma instituição de educação básica no ano passado. Além disso, no período entre 2020 e 2021, 7% dos alunos do 1º ano desistiram dos estudos e pouco mais de 4% foram reprovados.

Para lidar com os desafios da Geração Z, as empresas precisam adotar abordagens de mentoria e oferecer oportunidades de aprendizado e desenvolvimento pessoal. “O nível das vagas e da régua de admissão subiram a um ponto que essa galera não consegue alcançar, já que não possui experiência. E acho que essa é uma questão que tem de ser observada com cuidado para ser resolvida. Essa turma não está sendo preparada e não está recebendo oportunidade”, alerta Menezes.