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Desunião Brasil: a guerra incendiária entre Rueda e seu ex-padrinho Bivar

Racha no União Brasil abre guerra entre Luciano Bivar e Antonio Rueda, com ameaças, acusações mútuas e um incêndio aparentemente criminoso tendo como pano de fundo o poder e o comando da bilionária máquina partidária em Brasília e Pernambuco: a executiva nacional do partido decidiu expulsar o deputado

Crédito: Cristiano Mariz

O advogado Antônio Rueda contratou seguranças e diz que o ex-padrinho, Luciano Bivar, está desequilibrado e é um dos suspeitos dos incêndios em duas de suas casas numa praia de Ipojuca, no litoral de Pernambuco. Um dos imóveis pertence à sua irmã Maria Emília Rueda, tesoureira do partido (abaixo) (Crédito: Cristiano Mariz)

Por Vasconcelo Quadros

O que era uma disputa para ser decidida no exercício civilizado da política virou, literalmente, um caso de polícia depois que os dirigentes do União Brasil, o novo presidente eleito no final de fevereiro, Antônio Rueda, e seu ex-padrinho, o deputado Luciano Bivar (PE), que é o atual presidente da agremiação, entraram em choque. Sobram acusações de corrupção, ameaças de morte e, o ato mais recente, o incêndio aparentemente criminoso em duas casas da família Rueda na praia de Toquinho, em Ipojuca, no litoral de Pernambuco.

(Divulgação)

Na quarta-feira, 13, a executiva do partido se reuniu em Brasília e decidiu abrir um processo para expulsar Bivar, suspeito de comandar os incêndios, que corre o risco de perder o mandato caso o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, cumpra mesmo a promessa de levar o caso ao Tribunal Superior Eleitoral.

O resultado da votação, 17 votos pela expulsão e 15 abstenções, indica que Bivar, embora isolado, ainda conta com uma margem de dirigentes que não se aliaram aos que o apontam como o mentor do incêndio criminoso que irrompeu na noite de segunda-feira, 11, queimando parte dos móveis das residências geminadas de Antônio Rueda e de sua irmã, Maria Emília Rueda, tesoureira do partido.

• Caiado foi o primeiro a apontar o dedo para Bivar. Disse que foi “um crime político e um atentado” contra o partido, o que, garantiu, “não ficará impune”.

Bivar respondeu que a acusação é mera ilação, cobrou provas e chamou Caiado de “pigmeu moral”.

•  O secretário de Segurança e Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, confirmou que os primeiros indícios são “mais que suficientes” para concluir que o incêndio foi criminoso, mas aguarda mais informações, imagens de câmeras e laudos periciais feitos nos imóveis para apontar os suspeitos de autoria e execução dos crimes.

A comissão de ética do União Brasil deu a Bivar um prazo de 72 horas para que ele apresente sua defesa num processo que deve durar no máximo dois meses para confirmar ou não a expulsão.

Em guerra com a nova executiva do União Brasil, Bivar sustenta que as acusações não passam de ilações, mas chegou a dizer em telefonema gravado que iria “acabar com a raça política de Rueda” (Crédito:Mateus Bonomi )

Histórico

O incêndio é o desfecho de uma guerra que vem sendo travada desde o ano passado dentro do União Brasil, iniciada por divergências entre Bivar e o ex-prefeito de Salvador e vice-presidente nacional da legenda, ACM Neto, que racharam o partido.

Neto questionou acordos adotados em várias regiões e acabou entrando em atrito com Bivar, que o xingou durante um debate.

O ex-prefeito de Salvador prometeu atuar pelo afastamento de Bivar, convocando convenção no dia 29 de fevereiro, na qual Rueda foi eleito o novo presidente, com posse prevista para maio.

Alijado do novo grupo de poder do partido, Bivar ameaçou “acabar com a raça política de Rueda” numa conversa por telefone, cujo áudio instruiu um inquérito que corre na Polícia Civil de Brasília e terá como relator no processo o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal.

Bivar deu o troco acusando a mulher de Antonio Rueda, Florinda, de ter roubado um cofre com certa quantia em dinheiro guardado em sua residência em Miami (EUA).

Depois das ameaças, Rueda contratou uma empresa de segurança e só se movimenta protegido por guarda-costas.

Na reunião em que se decidiu pela expulsão, o novo presidente disse que nunca tinha visto Bivar tão desequilibrado e afirmou que a crise não é partidária. “É o inconformismo de uma pessoa que não aceita uma decisão.” Bivar anunciou que abrirá processo por calúnia contra Rueda.

Negócios milionários

O advogado Rueda, que nunca disputou um cargo eletivo, e o deputado eram amigos pessoais, parceiros na política e sócios numa empresa de seguros.

O que está por trás dessa disputa são o poder e os milionários negócios político-partidários.

O União Brasil tem:
• três ministros no governo Lula,
• quatro governadores,
• 59 deputados federais,
• sete senadores,
• um butim de R$ 518 milhões de fundo eleitoral para ser usado nas eleições deste ano,
• e outros R$ 110 milhões de fundo partidário.
• O
líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento, é cotado para a sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira, no ano que vem.

Advogado, Rueda foi um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2018 como dirigente do PSL que, de partido nanico, na esteira da nova direita radical que surgia, acabou elegendo 59 deputados federais, tornando-se a segunda maior bancada à época.

No ano seguinte, diante da resistência de Bivar em entregar ao clã Bolsonaro o comando do partido, o ex-presidente se desfiliou do PSL.

A fusão com o DEM só ampliou os conflitos depois que os novos parceiros no União Brasil optaram por conspirar para derrubar Bivar, hoje um político isolado e de futuro incerto, mas com a certeza na cabeça de que essa guerra está longe de terminar bem.