Comportamento

Congestionamento de satélites atrapalham cientistas

Mais de nove mil objetos orbitam a Terra atualmente, confundindo astrônomos e inutilizando telescópios em estudos noturnos. O Brasil se prepara para lançar a sua própria criação espacial em parceria com a China

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Acúmulo de equipamentos faz especialistas criarem manobras para driblar interferências: ciência prejudicada (Crédito: Divulgação )

Por Elba Kriss

Uma constelação feita pelo homem prejudica a ciência. São os mais de nove mil satélites que orbitam a Terra provocando congestionamentos que atrapalham os astrônomos na observação do céu noturno.

Exemplo: há dois anos, profissionais do Instituto Observatório Astronômico da Polônia avistaram uma explosão de luz em uma galáxia distante. Pouco tempo depois, anunciaram que “o sinal era apenas um satélite artificial”.

O aumento desses engenhosos equipamentos traz uma realidade complexa, que tende a crescer. A Starlink, da SpaceX, disparou para o espaço cinco mil satélites e anunciou que a meta são 42 mil. Tudo para a conectividade global, ou seja, colocar a internet até nos cantos mais remotos do cosmo.

O custo, no entanto, é alto para a ciência. “A interferência da quantidade de satélites na observação astronômica é um fato”, observa Petrônio Noronha de Souza, tecnologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Para evitar confusões — e um retrabalho — como a dos poloneses, especialistas começam a criar alternativas para que telescópios consigam driblar esse trânsito celeste.

Uma dessas opções é elaborar algoritmos para que eles desviem a rota desses objetos. O futuro observatório Vera C. Rubin, no Chile, depende disso. Ele terá a maior câmera digital já feita: 2,8 toneladas. “Tudo para abrir esta nova janela para o universo e encontrar coisas que ainda nem sabemos procurar. E se, em vez disso, estivermos olhando para um para-brisa cheio de insetos?”, argumenta Meredith Rawls, cientista do observatório.

Além da interferência, outro problema é o acúmulo descontrolado de detritos no espaço.

“Isso coloca em risco toda e qualquer operação de satélites”, considera Souza. Para ele, num futuro próximo as nações deverão considerar uma espécie de “leis de caráter nacional para, por meio delas, impor processos de licenciamento para lançamentos e operações de seus satélites que contribuam para reduzir tais problemas.”

Inteligência brasileira

Centro no Maranhão: Brasil em boa posição no mercado espacial (Crédito:Bianca Viol)

O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, é o ponto promissor do Brasil frente ao mercado da indústria aeroespacial.

No ano passado, foi de lá que se lançou o foguete Hanbit-TLV, da sul-coreana Innospace. Eventos semelhantes são aguardados.

No entanto, por hora, os esforços da Agência Espacial Brasileira são para o Cbers-6: novo satélite de parceria entre Brasil e China que vai aperfeiçoar o monitoramento da Amazônia. A previsão é que seja lançado em 2028, mas de uma base na Ásia.