A USP tem de ser diversa e para todos

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José Vicente: "Inclusão, diversidade, pluralidade e antirracismo deverão ser o norte dos próximos noventa e seguramente vitoriosos anos" (Crédito: Divulgação)

Por José Vicente

Os noventa anos comemorados pela Universidade de São Paulo, no dia 25 de janeiro, devem ser motivo de regozijo e orgulho para todos os paulistas e brasileiros. Observando a fundação da Universidade de Bologna, na Itália, em 1088, Universidade de Oxford, na Inglaterra, em 1096, na Europa, ou mesmo com as Universidades de São Domingos, na República Dominicana, em 1538, ou a Universidade San marcos, no Peru, em 1551, na América do Sul, é possível conhecer da sua grandeza e da sua extraordinária capacidade na construção do pensamento, do conhecimento e da formação dos recursos humanos de qualidade que o País sempre precisou. Desenvoltura e competência arrebatadora que a transformaram em tão pouco tempo numa das cem mais importantes universidades do mundo.

Observando da mesma forma sua trajetória histórica, a USP evidencia de maneira precisa como o espírito e a nobreza da educação e do conhecimento como princípios e valores civilizatórios não se fizeram presentes e nem foram contemplados pelas elites encarregadas de pensar a formulação dos objetivos pátrios, e nem mesmo dotar os recursos humanos indispensáveis para consolidação do futuro do País. Olhando a fisionomia daqueles que puderam usufruir dos seus benefícios até pouco tempo atrás é possível conhecer, por outro lado, quanto o mais importante espaço de produção de conhecimento do País, se constituiu num espaço e ambiente antidemocrático, monocromático e de cerceamento e exclusão dos pobres e principalmente dos negros.

Na Universidade pública custeada com o dinheiro do povo, o povo na maior parte de sua história nela não entrou, assim como não entraram os periféricos e os oriundos da escola pública. No estado mais negro da República, com 44% dos paulistas autodeclarados pretos ou pardos, na Universidade de São Paulo, dos dias atuais, tão somente 2% de professores negros compõem os seus quadro de quase cinco mil professores, e os primeiros alunos negros são aqueles que chegaram depois de oitenta e cinco anos de vida, e, ainda assim, de maneira forçada, por meio da lei de cotas.

Fonte de referência de produção do conhecimento de qualidade internacional e centro de excelência da produção acadêmica e da pesquisa nacional e da América do Sul, a Universidade de São Paulo pode e deve nos próximos noventa anos utilizar sua autonomia acadêmica, seu compromisso e capacidade de entrega e seu grandioso orçamento econômico de R$ 8,5 bilhões, em 2024, para definitivamente se transformar numa Universidade de todos e para todos, juntando na mesma ação qualidade acadêmica, participação e convivência democrática. Inclusão, diversidade, pluralidade e antirracismo deverão ser o norte dos próximos noventa e seguramente vitoriosos anos.