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Troca-troca para eleições municipais pode descaracterizar partidos; entenda

Janela de um mês que permite a troca de partidos deve afetar legendas importantes. O PSDB pode perder vereadores e o PL corre o risco de ver encolher a verba do Fundo Partidário. Já o União Brasil sofre com um racha

Crédito: Marcos Oliveira

Políticos de todos os tamanhos ‘sondam’ o mercado para eventuais trocas de partido em março (Crédito: Marcos Oliveira)

Por Marcelo Moreira

Dois partidos importantes prometem movimentar bastante a janela de trocas de partidos, que estará aberta entre os dias 7 de março e 5 de abril, relativa à eleição municipal de 2024. O PL, do enrolado ex-presidente Jair Bolsonaro, e o outrora poderoso PSDB, de nomes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, podem perder vereadores e até prefeitos candidatos à reeleição por conta das “circunstâncias eleitorais” que envolvem questões policiais, judiciais e de puro pragmatismo político.

Apesar de haver algum consenso de que Bolsonaro, atualmente, é uma figura política tóxica, que pode espantar votos, a manifestação de 25 de fevereiro na avenida Paulista, em São Paulo, demonstrou que o ex-presidente ainda tem cacife político que não pode ser desprezado — foram cerca de 186 mil pessoas na avenida, de acordo com a medição realizada pela USP.

Mesmo inelegível por decisão da Justiça Eleitoral, Bolsonaro ainda influencia na definição de apoios — contra e a favor.

O fronte de combate em São Paulo é o maior exemplo, em uma disputa que vai reproduzir a polarização nacional com a possibilidade de uma terceira via não muito empolgante.

• Guilherme Boulous (PSOL) tem um favoritismo na capital paulista beneficiado pelo apoio do PT e do presidente Lula.
Ricardo Nunes (MDB) busca a reeleição e corteja o apoio dos bolsonaristas.
No meio da disputa aparece um desfigurado PSDB, que dominou a política estadual por 28 anos.

Os tucanos correm o risco de serem as maiores vítimas da janela partidária, ao menos em São Paulo. Têm a maior bancada da Câmara de Vereadores, oito, ao lado do PT, mas ao menos metade deles admite abertamente trocar de partido. O motivo: a indefinição quanto ao apoio à reeleição de Ricardo Nunes.

A situação é estranha porque o PSDB integra a administração de Nunes e a sua base de sustentação na Câmara. Os quatro vereadores que ensaiam a dissidência e a debandada usam esse argumento para manter o apoio ao atual prefeito e miram as ofertas de troca de partidos. Estão sendo assediados por MDB, PSD e União Brasil, todos da base de Nunes.

Resistência a Bolsonaro e a Nunes explicita as dificuldades tucanas na capital paulista

O que os incomoda é a pressão nos diretórios estadual e municipal pelo afastamento de Nunes e a adesão a uma terceira via, a deputada federal Tabata Amaral, pré-candidata do PSB.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, não quer nem ouvir falar em apoio à reeleição do prefeito. “O trabalho de Ricardo Nunes começa com o PSDB, como vice de Bruno Covas, mas houve a escolha de um caminho de se associar ao Bolsonaro, o que diverge, destoa, do que o PSDB está buscando representar, de uma alternativa nesse contexto político nacional de polarização”, comentou o governador.

Ele não é contra um apoio a Tabata e nem descarta uma candidatura própria na capital.

A posição do governador é o retrato do que é o partido em todas as esferas políticas, de acordo com o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. “É um partido sem cara e sem rumo, com falta de lideranças fortes e que tenham a confiança dos filiados. É uma derrocada muito rápida para um partido que foi o principal do País ao lado de MDB e PT.”

O especialista acredita que o cenário de São Paulo pode se repetir em outras cidades e que nem mesmo Leite conseguirá evitar debandadas neste ano. “Os efeitos das disputas internas promovidas pelo ex-prefeito e ex-governador João Doria são graves e ajudaram a afastar muitos nomes fortes dos tucanos, como Geraldo Alckmin. O maior nome hoje é o de Rodrigo Garcia, ex-governador e que perdeu pontos quando apoiou Bolsonaro em 2022 sem consultar o partido. O PSDB está sem rumo.”

Luciano Bivar (acima) e o ex-aliado Antônio Rueda brigam pelo controle do União Brasil, que surgiu da fusão do PSL com o DEM. Eleição da nova direção da legenda na quinta-feira teve ameaças e troca de acusações (Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(Divulgação)

Disputa no União Brasil

Em termos nacionais, o PL corre risco de perder deputados, vereadores e candidatos que se guiam pelos ventos partidários. Como a imensa maioria das cidades depende de verbas federais, o presidente Lula, com a chave do cofre, torna-se um ímã e “cabo eleitoral”. E as investigações sobre Bolsonoaro no eventual golpe de Estado citam nominalmente o PL.

Dependendo do que a Justiça Eleitoral decidir, o partido pode ser muito afetado com cortes de dinheiro do Fundo Eleitoral. Com menos dinheiro, a eleição de muita gente fica comprometida. Oficialmente o assunto é ignorado no PL. O partido quer eleger mil prefeitos neste ano. Nos bastidores, a conversa é outra.

Já o União, junção dos antigos PSL e DEM, vive um drama maior. O presidente da legenda, Luciano Bivar, está disputando o controle da agremiação com o vice Antônio Rueda. Em eleição da nova direção que estava marcada para a última quinta-feira, os dois lideravam chapas concorrentes e ensaiavam uma “guerra de acusações”.

O desfecho desse embate pode levar à criação de uma nova federação partidária do União com o PP — algo que anima a oposição e o campo bolsonarista.