Internacional

Direita assombra Portugal, na tendência dos governos europeus

Partidos tradicionais lideram pesquisas sobre as eleições de 10 de março, mas a extrema-direita aposta em aliados no novo Parlamento para tomar o poder dos socialistas

Crédito: Miguel Riopa

Discurso de André Ventura, do Chega, segue o modelo extremista de ódio a imigrantes e promessas contra corrupção (Crédito: Miguel Riopa)

Por Denise Mirás

Com menos de cinco anos de fundação — em 9 de abril de 2019 —, o Chega é um partido de extrema-direita visto como fenômeno entre os portugueses: naquele ano, somava apenas 1,3% dos votos legislativos, mas passou a 7,3% em 2022 e agora, para as eleições gerais em 10 de março, aparece com 19% nas pesquisas.

É o terceiro colocado na corrida pelas cadeiras do Parlamento, atrás dos blocos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita, empatados em 29% — no caso, o Partido Socialista e a Aliança Democrática, encabeçada pelo Partido Social-Democrata.

Na renovação do Legislativo, a maioria dos deputados eleitos decide a indicação do novo primeiro-ministro e os candidatos naturais são:
Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas pelo PS,
Luís Montenegro, líder dos conservadores do PSD, que está coligado com dois partidos menores de direita.

Mas André Ventura, o fundador do Chega, já fala na tomada de poder dos socialistas, porque acredita na adesão pós-eleições do Centro Democrático e Social (CDS) e do Partido Popular Monárquico (PPM) — os dois aliados dos social-democratas.

Assim, de morna nas campanhas das ruas, a temperatura deverá subir no novo Parlamento, com as negociações pela maioria — se PS e PSD ainda terminarem as eleições empatados tecnicamente.

Centro de extremistas

António Costa, primeiro-ministro pelo PS, renunciou em 7 de novembro do ano passado, em meio a acusações de tráfico de influência. Mesmo sem ter sido incriminado pelas investigações, optou por seguir no cargo apenas temporariamente.

Assim, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente de Portugal, dissolveu o Parlamento em 15 de janeiro e convocou as eleições gerais de março que, por tabela, definem um primeiro-ministro — e, de fato, o comando do país.

Em sua primeira semana oficial nas ruas, partidos tradicionais como o governista PS ainda não empolgam eleitores (Crédito:Patricia de Melo Moreira)

Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, lembra que o crescimento da extrema-direita na Europa ainda não tinha afetado Portugal, como ocorreu nos seguintes países:
• França,
• Espanha,
• Itália,
• Polônia,
• Hungria,
• Áustria,
• Alemanha,
• e Holanda, mais recentemente,
• além de Finlândia e Suécia, onde já participa dos governos.

“O Chega surge como novidade política e cresce muito rápido, ainda que calcado em paradoxos como tentar arrecadar votos de imigrantes, mesmo pregando contra a imigração”, observa.

Vladimir Feijó, professor da Faculdade Arnaldo Janssen, de BH, diz que no sistema eleitoral português o voto presencial vale para mais cadeiras por província do que o voto por carta, de fora do país. Assim, além dos cálculos por abstenção, será preciso esperar: os portugueses de esquerda que moram em outros países da Europa, por exemplo, “comprarão passagens de trem para ir votar presencialmente e conseguir mais deputados, barrando o Chega e um governo extremista e virulento?”.

Ventura

André Ventura vê a si próprio como ponto de convergência de lideranças da extrema-direita na Europa — como a francesa Marine Le Pen, o espanhol Santiago Abascal, do Vox, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán.

Também faz alarde das ligações com a família Bolsonaro e com o presidente argentino Javier Milei, além do ex-presidente americano Donald Trump e sua Conferência da Ação Política dos Conservadores (CPAC, na sigla em inglês).

Hoje com 41 anos, quis ser padre na juventude, mas se voltou para o Direito, foi professor universitário — e comentarista de futebol. Era do “partido de um deputado só” em 2019, mas está agora em seu terceiro mandato com mais outros 11 do Chega eleitos em 2022.

“Portugal precisa de uma limpeza.”
André Ventura, líder do partido Chega, que é contra imigrantes e quer Portugal como centro da extrema-direita da Europa

Com o invariável discurso da extrema-direita, André Ventura foi terceiro colocado quando se candidatou à Presidência do país em 2021.

É contra a imigração de muçulmanos e africanos, pela deportação de ciganos. Mostra intolerância a gays e aciona bravatas machistas contra mulheres, além de seguir com as promessas demagógicas de medidas anticorrupção, cortes em impostos, prisão perpétua, castração química.

Seu objetivo, como alardeia, é fazer de Portugal “um centro mundial da ultradireita”.