Comportamento

Califórnia reintroduz ensino da caligrafia cursiva

Em era dominada por tecnologia, a letra à mão é raridade. Nos Estados Unidos aprendê-la agora é lei. A prática é importante para crianças, pois estimula áreas essenciais da cognição

Crédito:  Mike Blake ORG XMIT/Reuters/Folhapress

Escola Orangethorpe Elementary School, em Fullerton, Califórnia: introdução ao novo estilo de escrita (Crédito: Mike Blake ORG XMIT/Reuters/Folhapress)

Por Elba Kriss

A letra cursiva está ligada à neurociência. Série de estudos comprovam a alteração significativa em relação à alfabetização de crianças, por exemplo. No entanto, em uma era em que a geração cresceu dominada por telas de computadores, notebooks, celulares e tablets, a escrita à mão virou raridade. Alguns países aboliram o ensinamento dessa modalidade — não no Brasil. Mas é o caso dos Estados Unidos. Até agora. Por lá, o ano letivo de 2024 começou com a retomada do manuscrito nas escolas. Transformou-se em debate, análise e, por fim, lei.

Alunos de 6 a 12 anos do Ensino Fundamental da Califórnia serão obrigados a aprender a ler e escrever com o traçado à moda antiga. A exigência foi determinada pela Lei Estadual 446, patrocinada por Sharon Quirk-Silva, ex-professora.

“Alguns professores já a ensinavam, mas geralmente não em escolas com poucos recursos”, disse ela à imprensa local.

Diante da obrigatoriedade, aproximadamente 2,6 milhões de alunos serão apresentados à prática neste ano. O estranhamento é comum. Mas a novidade agradou a maioria. Uma prova de que a obrigação é necessária é que muitos disseram que “estão adorando aprender novas letras”. Não é o caso, é o mesmo beabá em outro estilo.

Mais de 20 estados seguem no ritmo. A justificativa é única: o papel fundamental desempenhado por essa habilidade no desenvolvimento cognitivo infantil, estimulando diversas áreas cerebrais essenciais da comunicação.

Jansley Silva, educadora: “Letra cursiva desenvolve foco visual e memória” (Crédito:Arnon Oliveira/DIVULGAÇÃO)

Para entender o processo da letra cursiva, especialistas ressaltam a relevância dela para a vida da criança. “Essa importância se deve ao desenvolvimento do foco visual, da memória, da organização espacial, da atenção mental, da coordenação motora fina e do planejamento motor que a criança precisa fazer para escrever”, diz Jansley Silva, coordenadora pedagógica no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte.

Por experiência própria nas salas de aula pelas quais passou, ela ressalta que para os pequenos o aprendizado ainda é potencializado com a integração da família nesse processo. “A escola atua com o professor ali ao lado, ensinando o delineado correto. Já a família, fazendo treinamento no dever de casa.”