Comportamento

O cansaço persiste? Talvez você sofra de Síndrome da Fadiga Crônica (SFC); confira

Síndrome da Fadiga Crônica afeta 3,3 milhões de pessoas nos Estados Unidos e 2,5 milhões no Brasil. Caracterizada por exaustão extrema que não melhora com repouso, a doença ainda tem difícil diagnóstico e esbarra no preconceito

Crédito: Rogério Albuquerque

"É um cansaço além do normal e limitante. Parece que estou carregando um sobrecorpo". Ana Carolina, diagnosticada na adolescência (Crédito: Rogério Albuquerque)

Por Elba Kriss

Quando era adolescente, a administradora de empresas Ana Carolina Rocha Guimarães achava estranho não conseguir acompanhar os colegas na aula de Educação Física. “Em uma simples caminhada, o meu corpo parava como se minha perna pesasse uma tonelada”, diz ela. Por anos, Ana Carolina conviveu com fraqueza e cansaço além do normal, que chegou a tratar como se fosse depressão após procurar ajuda médica. “Era algo tão limitante, como se eu mesma não tivesse controle do meu corpo. Eu sentia que era exagerado, não era só estafa. Hoje tenho certeza que já era a Síndrome da Fadiga Crônica”. Quando Ana apresentou os primeiros sinais de esclerose múltipla veio, enfim, o diagnóstico. Atualmente, aos 32 anos, em tratamento para ambas as doenças com medicação e fisioterapia consegue reconhecer como a fadiga sem causa é traiçoeira: “Tem dias que não consigo levantar da cama ou escovar os dentes. É como se eu estivesse carregando um sobrecorpo”.

”É um cansaço além do normal e limitante. Parece que estou carregando um sobrecorpo.
Ana Carolina, diagnosticada na adolescência

A Síndrome da Fadiga Crônica (SFC) — também conhecida como Encefalomielite Miálgica — é uma doença caracterizada pelo esgotamento que não passa após repouso. Uma exaustão tão grave que limita as atividades da vida diária, por mais de seis meses.

Outros sintomas podem estar presentes:
dificuldade com a memória ou concentração,
sono não reparador,
dores musculares e nas juntas,
e presença de gânglios dolorosos no pescoço ou nas axilas.

É descrita com mais frequência em mulheres, mas não significa que fique restrita somente a elas. Dados recentes comprovam isso.
• Nos Estados Unidos, por exemplo, 3,3 milhões de pessoas foram diagnosticados com a síndrome, segundo levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
• No Brasil, a estimativa é de 2,5 milhões de casos — número estimado quando Luiz Inácio Lula da Silva sancionou lei que garante atendimento integral e multidisciplinar no Sistema Único de Saúde, no fim de 2023.

A questão é que essa doença ainda é confundida com outras, como a fibromialgia, por exemplo, pela similaridade de sintomas. “Elas podem estar próximas e serem até coadjuvantes, mas, a fibromialgia se destaca pelo incômodo da dor. A fadiga crônica, por sua vez, é uma sensação de cansaço”, explica Consuelo Callizo, diretora médica do Centro Médico Elsimar Coutinho Day Hospital.

Fadiga e covid

“A SFC só foi caracterizada como doença em 1980. Muitas escolas médicas ainda não ensinam essa síndrome em seus currículos, e ela é pouco divulgada”, completa a reumatologista Cristina Ellert Salomão.

À medida que a educação nessa área cresce, as estatísticas inflam. “Aparentemente, estão implicados fatores genéticos, neuro endócrinos e imunológicos no desencadeamento da síndrome, porém ainda não é possível estabelecer uma causa única para a patologia”, acrescenta a especialista em Dor pela Associação Médica Brasileira.

Por isso, há a possibilidade de que exista grande parcela sem o devido diagnóstico. Também há o fator preconceito, pois é comum pacientes ouvirem que não passa de “corpo mole” ou “falta de força de vontade”. “A família não leva os sintomas a sério, quem está ao redor não entende e a pessoa acaba se isolando do mundo. É importante dizer que nem tudo é psicológico ou preguiça”, ressalta Ana.

Nos últimos anos, a SFC se apresentou em pacientes infectados pelo coronavírus, o que vem sendo descrito na medicina como Síndrome Pós-Covid ou Covid longa.

“Muitos estudos procuraram avaliar alterações biológicas decorrentes da infecção biológica propriamente dita, mas não alcançaram dados conclusivos ou reprodutíveis”, observa Boris Cruz, reumatologista da Rede Mater Dei.

Além disso, outros fatores e consequências do dramático período de pandemia talvez estejam relacionados ao aumento de casos da síndrome. “O isolamento social, a sobrecarga emocional após uma infecção grave (ou seu receio), a mudança de hábitos como dificuldade em manter atividade física ou ensino e trabalho remoto podem estar associados como um gatilho”, detalha ele.

Atentar aos sinais e levar a sério o que o corpo quer dizer é crucial para um diagnóstico. E aqui vale a velha e boa recomendação médica: um estilo de vida saudável é aliado para qualquer condição. Durma as horas suficientes e siga uma dieta balanceada.