Lula fala demais

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Germano Oliveira: "Pior ainda é que Lula não parece disposto a recuar na bobagem que disse" (Crédito: Divulgação)

Por Germano Oliveira

Sempre que está no exterior e concede entrevista à imprensa, Lula fala de improviso e invariavelmente diz bobagens, provocando situações diplomáticas incômodas. Na recente viagem à Etiópia, o presidente trocou os pés pelas mãos outra vez. Acusou Benjamin Netanyahu de estar provocando um genocídio na Faixa de Gaza, com a morte de 30 mil palestinos, sobretudo mulheres e crianças. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”, referindo-se ao Holocausto em que os nazistas exterminaram mais de 6 milhões de pessoas. Por mais que a matança que o primeiro-ministro de Israel esteja empreendendo aos palestinos seja desumana, e é, as duas situações são incomparáveis e o presidente brasileiro extrapolou em seu comentário. Errou feio.

Não que o primeiro-ministro israelense não mereça críticas. E merece ser recriminado pelo mundo inteiro. E é até por isso que a África do Sul entrou com denúncia contra ele no Tribunal Internacional de Haia pelo massacre de palestinos em Gaza. Bibi Netanyahu deveria ser preso e condenado à prisão perpétua pelos crimes de guerra contra os palestinos. Mas uma coisa é a matança indiscriminada e outra é afirmar que o israelense está sendo responsável por um outro Holocausto. O que Hitler fez com os judeus é uma barbárie que a humanidade jamais vai esquecer.

A reação de Netanyahu foi imediata. Convocou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv e disse que Lula “cruzou a linha vermelha, com palavras vergonhosas e graves”. E, em seguida, declarou o brasileiro persona non grata em Israel. Ou seja, Lula comprou uma guerra que não era sua. O presidente brasileiro até vinha acertando quando condenava o Hamas pelos atos de terrorismo do dia 7 de outubro e, ao mesmo tempo, criticava a reação desmedida das forças militares de Israel, mas não precisava ter colocado o dedo numa ferida que até hoje não cicatrizou, o Holocausto. Afinal, 80 anos depois, o massacre sob comando de Hitler ainda não foi esquecido por nenhum judeu. E jamais o será. Ao mexer nesse trauma, Lula provocou uma reação em cadeia na comunidade judaica, mesmo entre os que não gostam de Netanyahu. O brasileiro deveria ter ficado calado.

Pior ainda é que Lula não parece disposto a recuar na bobagem que disse. A assessoria de imprensa da Secretaria de Comunicação do governo (Secom) divulgou nota oficial no dia seguinte à análise infeliz de Lula e reafirmou a posição do presidente. Diplomatas, inclusive brasileiros, chegaram a dizer que Lula deveria corrigir a informação sobre o Holocausto e amenizar o clima pesado que ficou junto à comunidade judaica, que é enorme no Brasil. Lula deveria aproveitar esse episódio e rever o hábito de falar de improviso.