Cultura

Direto do País de Gales, a voz única de Tom Jones

Aos 83 anos, o cavaleiro galês segue na ativa: faz sucesso na TV britânica e vem ao Brasil para o lançamento de um álbum que está no topo das paradas de sucesso

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Tom Jones: temas de James Bond e duetos com jovens artistas (Crédito: Divulgação )

Por Felipe Machado

A pesar dos cem milhões de discos vendidos em seis décadas de carreira, o cantor galês Tom Jones só entrou para o livro do recorde aos 80 anos. Com o lançamento do álbum Surrounded by Time (Cercado pelo Tempo), ele se tornou o homem mais velho a ocupar o primeiro lugar da parada de sucessos no Reino Unido, ultrapassando o norte-americano Bob Dylan. Feito cavaleiro pela rainha Elizabeth em 2006, Jones já gravou temas para James Bond, atuou em filmes de Hollywood e ganhou o público jovem como apresentador do programa “The Voice” na TV inglesa. Em 17 de abril, o cantor, hoje com 83 anos, vem ao Brasil para uma única apresentação no Espaço Unimed, em São Paulo. Os brasileiros ouvirão ao vivo o vozeirão que o tornou um dos cantores mais bem sucedidos e premiados do século 20.

Sua longa carreira é marcada pela versatilidade e diversidade de estilos. Qual é sua fase favorita? E por que optou por seguir esse caminho?
Sempre gostei de ouvir e interpretar uma grande variedade de repertório. Quando canto blues, não gosto de ouvir as pessoas dizendo que minha voz é perfeita para o blues. Não é o suficiente. É a mesma coisa com outros gêneros. Há pessoas que cantam baladas o tempo todo. Eu também gosto, mas prefiro misturar, fazer coisas diferentes. Gosto de me desafiar, testar minha voz e ver até onde posso esticá-la. Graças a Deus, tive sorte o suficiente de ter uma voz que pode lidar com isso.

Além de gêneros diferentes, o senhor gravou com artistas de gerações distintas. ídolos jovens, como Robbie Williams, Stereophonics e outros. O que aprende com eles?
Participo do programa de TV “The Voice UK”, então ouço jovens o tempo todo. Tento dar conselhos, trocar ideias. Sempre faço um dueto com quem está na final do programa. Isso é muito positivo para mim.

Como vê a cena musical hoje?
Alguns colegas dizem “ah, não é tão bom como costumava ser”. Bem, claro que não é. As coisas mudam, avançam, mas sempre amei ouvir coisas novas. No geral, musicalmente as coisas não mudaram muito. A essência, R&B, o blues, o country, o gospel, está tudo lá.

“Cantar em um lugar seco como Las Vegas é muito ruim. No Brasil a umidade é perfeita”

E a tecnologia? Mudou muita coisa?
O que mudou foi o som das gravações, mas a essência ainda está lá. O que diziam ainda é verdade: uma vez sucesso, sempre sucesso. Um hit é igual em qualquer época. Os estilos podem mudar um pouco, mas as faíscas que as boas canções têm são as mesmas.

Seu álbum Surrounded by Time o levou a um recorde: o cantor mais velho a chegar ao topo das paradas. Como faz para agradar todas as idades?
Acho que é a honestidade. Se você for real e não estiver tentando ser algo que não é, isso transparece. Os mais jovens percebem isso muito rapidamente, pelo menos é o que me dizem. Eles me veem no The Voice e ouvem o que tenho a dizer. Dizem que aquilo que falo faz sentido.

O senhor já vendeu mais de cem milhões de discos, mas hoje o streaming paga muito pouco aos artistas. Como vê a indústria fonográfica?
Eu realmente não sei, você teria que falar com meu contador. As coisas básicas ainda são as mesmas. Fazer música ainda me emociona, e deixo o resto para o meu empresário. Hoje em dia é mais difícil acompanhar as coisas. Era mais simples quando você sabia quantos discos vendeu. Não sei bem como funciona o streaming.

Há algo de positivo no novo formato?
É bom para os artistas terem sua música por aí. Há mais opções que antes. Antigamente você teria que passar por uma audição numa gravadora. Agora é possível gravar em um estúdio caseiro e lançar sua composição. As novas invenções sempre têm prós e contras.

Voltará aos palcos do Brasil depois de muito tempo. Gosta de música brasileira?
Já estive no Brasil diversas vezes, a primeira foi em 1970. Quando fazia meu programa de TV, na Inglaterra, recebi o grupo Brasil 66, cantamos “Mas que Nada” juntos. Os ritmos da música brasileira sempre me interessaram.

O senhor nasceu no País de Gales e foi condecorado pela família real. Momento de grande orgulho?
Sim, meu maior orgulho. Quando as pessoas perguntam qual foi a coisa mais importante que aconteceu em minha vida, acho que foi ser condecorado pela rainha. Quando eu era criança, queria ser um cantor profissional. Queria ter um disco de sucesso, essas coisas. Mas ser condecorado? Nunca imaginei. A família real é uma instituição maravilhosa para a Grã-Bretanha. É estável, sólida. A rainha Elizabeth foi maravilhosa e agora o rei Charles é um ótimo monarca. As pessoas amam a família real, afinal de contas.

O senhor está com 83 anos e ainda canta muito bem. Como cuida da voz?
Sou sortudo, antes de mais nada, por ter boa saúde. Aprendi a ter cuidado para não beber muito álcool, porque resseca a voz. É preciso garantir que haja umidade no ar. Quando viajo, instalo um umidificador no quarto. Cantar em um lugar seco como Las Vegas, por exemplo, é muito ruim. No Brasil a umidade é perfeita.