Coluna

O que a biblioteca de Darwin diz sobre o autor de “A Origem das Espécies”

Após duas décadas de pesquisa, projeto acadêmico revela os títulos dos 13 mil volumes da coleção pessoal do autor de A Origem das Espécies. A lista traz obras que tratam de temas diversos como arte, biologia e história

Crédito: Ann Ronan Picture Library

O naturatlista britânico Charles Darwin: interesses diversos (Crédito: Ann Ronan Picture Library)

Por Felipe Machado

Quando constatamos a genialidade de um pensador, somos imediatamente confrontados com uma questão: de onde vieram aquelas ideias? Que tipo de inspiração teria abastecido conceitos tão originais? É por isso que a revelação da coleção completa da biblioteca pessoal de Charles Darwin, realizada pelo instituto britânico Darwin Online, causou alvoroço na comunidade internacional. Que tipo de livros o naturalista, cientista e biólogo teria lido no caminho intelectual até A Origem das Espécies, teoria que explica a evolução da vida na Terra?

Com base nessa vasta coleção de livros, descobrimos que Darwin não apreciava apenas a biologia. A biblioteca pessoal do naturalista inglês, geólogo e biólogo foi totalmente documentada pela primeira vez para coincidir com seu 215º aniversário, que acontece nesse mês de fevereiro. Um catálogo de 300 páginas, publicado pelo instituto Darwin Online, tem quase 7.400 títulos divididos em cerca de 13 mil volumes.

Relato dos Hábitos do Urubu-Rei: interesse no comportamento das aves (Crédito:Divulgação )

A lista abrange temas como:
• biologia,
• geologia,
• filosofia,
• história,
• viagens,
• e arte.

Cerca de 9.500 dessas obras foram disponibilizadas publicamente. Algumas remontam aos dias de escola de Darwin, como A História da Inglaterra (1821), de Oliver Goldsmith.

Os pesquisadores também utilizaram registros de leilões para determinar o que mais estava na coleção — artigos e matérias de jornais, entre outros itens de natureza bastante específica.

Um registro de venda, por exemplo, revela que Darwin possuía uma cópia da publicação que contém um artigo de 1826 do ornitólogo John James Audubon, intitulado Relato dos Hábitos do Urubu-rei (Vultura aura) — Especialmente com o Objetivo de Refutar a Opinião Geralmente Aceita de seu Extraordinário Poder de Olfato.

A diversidade de livros inclui obras notáveis como a História de Quadrúpedes, escrita em 1793 por Thomas Pennant. O trabalho apresenta um índice abrangente de animais com ilustrações de diversos artistas.

Também consta o álbum de ilustrações da Teoria Huttoniana da Terra, publicado em 1802 por John Playfair, que oferece insights sobre as teorias geológicas da época.

Além disso, uma publicação de 1863 intitulada As Variedades dos Cães — Conforme Encontradas em Velhas Esculturas, Quadros, Gravuras e Livros reforça o interesse de Darwin pela diversidade das formas de vida.

Outro destaque é a edição luxuosa de Sun Pictures: Uma Série de Vinte Ilustrações Heliotípicas de Arte Antiga e Moderna, de 1872.


A História da Inglaterra, de Oliver Goldsmith: memórias dos tempos de escola (Crédito:Divulgação )

Segundo John van Wyhe, acadêmico que organizou o projeto, as listas anteriores haviam classificado apenas 15% do que estava na biblioteca de Darwin.

A lista completa levou quase vinte anos para ser concluída. “O tamanho e a variedade de obras da biblioteca manifestam a extraordinária extensão da pesquisa que Darwin fazia em relação ao trabalho de outros”, disse Van Whye ao jornal britânico The Guardian. Acrescentou que o cientista “não era uma figura isolada trabalhando sozinha, mas um especialista de sua época, construindo suas ideias sobre o que havia de mais sofisticado em termos científicos, estudos e conhecimentos de milhares de especialistas.”

O gosto pela arte é uma das surpresas reveladas pela coleção, até porque Darwin havia escrito sobre sua decepção com os artistas em A Expressão das Emoções em Homens e Animais: “Eu esperava obter ajuda dos grandes mestres em pintura e escultura, que são observadores tão atentos. Examinei fotografias e gravuras de muitas obras conhecidas, mas, com algumas exceções, não obtive benefícios.”

Pelo jeito, as teorias de Darwin não foram influenciadas pelos quadros de seus pintores favoritos.