Comportamento

Falta areia no litoral brasileiro; entenda

Afetado pela erosão costeira, o País tem beira-mar transformada em 60% de sua extensão. A orla está sumindo e cidades agora correm para conter o avanço do mar com mega obras de alargamento de praias

Crédito: Divulgação/Prefeitura de Camboriú

Santa Catarina: construção de um aterro para reverter estreitamento da costa consumiu mais de R$ 80 milhões (Crédito: Divulgação/Prefeitura de Camboriú)

Por Elba Kriss

O Brasil vive preocupante realidade com a erosão costeira. Com mais de oito mil quilômetros de extensão, o País tem 60% de seu litoral comprometido, ou seja, mais da metade já foi afetada. Em resumo: falta areia e as praias estão sumindo.

Em 2018, um estudo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) já havia chegado a essa dramática porcentagem com resultado publicado no livro Panorama da Erosão Costeira no Brasil.

As regiões mais atingidas são Norte e Nordeste. Desde então, cidades colocaram em curso megaobras de alargamento de praias para mitigar o problema.

A erosão costeira é um processo natural devido à ação das ondas, correntes e ventos. É um fenômeno que resulta na perda gradual de sedimentos das praias, falésias e dunas. Em outras palavras: a costa recua.

“Existe um balanço sedimentar. Sempre tem areia chegando e saindo das praias. O problema é quando ela vai e não volta”, explica Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

Mudanças climáticas e o aumento do nível do mar aceleram a desfiguração da orla, mas há também a interferência do homem. “A construção em área de duna e restinga, os levantamentos de barragem e uso excessivo de água dos rios comprometem esse balanço sedimentar”, continua.

Assim, o estreitamento da costa é uma consequência com 40% em estágio avançado. “Isso é preocupante. Por isso, há buscas de soluções para reverter essas situações. O problema é que esses recursos não são normalmente pensados na fase antecipatória, ou seja, de forma a se planejar o uso do território e da água de maneira sistêmica. Hoje o que se faz é olhar para a praia e dizer: ‘está faltando areia, vamos engordar a praia’.”, observa Turra.

Na prática, a técnica em questão expande a área com uso de areia dragada de jazidas do fundo do mar, um trabalho de restauração monumental e milionário. É necessário localizar areia similar com a da praia a ser recuperada. Se a granulometria for diferente, o serviço pode ser, literalmente, levado pela água.

Outra alternativa é a construção de espigões, os conhecidos muros de contenção, para desviar o fluxo da maré. “O engordamento de praia é a alternativa mais apropriada e sustentável do que o espigão”, opina Turra.

Paisagem modificada pela ação da erosão e do homem: construções próximas da orla (Crédito:Yann Laouenan)

Recuperação

Em 2021, Balneário Camboriú, em Santa Catarina, passou por processo de engenharia que custou mais de R$ 80 milhões. Por lá, a média de aumento da faixa de areia foi de 25 para 70 metros.

Em Caucaia, no Ceará, o investimento foi de R$ 44 milhões com espigões.

• Ilhabela, em São Paulo, é outro exemplo de alargamento. A cidade prevê a engorda das praias do bairro Perequê para reduzir a erosão costeira, evitar a inundação de ruas e oferecer mais espaço para os turistas. A missão, no entanto, esbarrou em outra adversidade. “O projeto foi suspenso por prazo indeterminado, tendo em vista a queda de 50% na arrecadação dos royalties do petróleo, a partir do ano de 2021”, informa a Prefeitura, em nota.

• No Rio de Janeiro, Cabo Frio também tem ações de combate à erosão costeira. Por lá, a gestão atual implantou o Duna Viva, um plano que restringe o acesso de pessoas e veículos a regiões sensíveis. “As áreas de duna e vegetação de restinga têm um papel primordial na proteção da erosão das areias nas praias de Cabo Frio. Vale ressaltar que ambas protegem o solo quando o mar está ressacado, além de garantir que as areias não sofram com a degradação do solo”, comunica a Prefeitura Municipal de Cabo Frio.

Ações de gerenciamento costeiro e zoneamento ecológico econômico são essenciais. Mas há sempre mais a ser feito. “É importante olhar sistematicamente para a questão. A solução pode não estar necessariamente no local; às vezes, vem de longe. Uma opção para não se fazer o engordamento de praia é parar de emitir gás carbônico para que a gente possa combater a elevação do nível do mar. Isso é um exemplo de como tudo está interligado”, finaliza Turra.