Comportamento

Que tal se vestir como seu avô? É a moda em 2024

Estética Grandpa Core é apontada como tendência para 2024 por especialistas e relatório global. Do mocassim à boina, jovens se sentem à vontade para incorporar visual do passado com elementos atuais e urbanos

Crédito: João Castellano

João de Mari: além do vestuário típico, o gosto pela decoração se comprova com o chão de taco da década de 1960 e o armário de treliça (Crédito: João Castellano)

Por Ana Mosquera

Vintage, retrô, old school, preppy, hipster. Ao longo dos anos, estéticas relacionadas ao que vestiam e consumiam gerações anteriores, também em termos de decoração e estilo de vida, vêm recebendo diferentes nomenclaturas de acordo com as variações a que se propõem. A Grandpa Core, das principais tendências apontadas para o universo da moda em 2024, não poderia vir mais ao pé da letra: essência do avô. Sobretudo das décadas entre 1960 e 1980.

Inspirada no que os grandparents vestiam — a hashtag #grandpacore já soma 70,7 mil visualizações no TikTok — inclui:
• meias aparentes,
• suéteres estampados em xadrez,
• calças de veludo cotelê,
• tecidos como tweed e jacquard,
• mocassim e tênis de modelos clássicos, entre outros elementos.

Itens de vestuário e acessórios considerados antiquados em um passado recente, como os coletes de lã, vêm sendo desfilados com menos receio pelas ruas e por integrantes de diversas gerações em visuais completos: dos pés à cabeça, do mocassim à boina.

Em plena iminência da moda, há quem já se sinta incomodado com o termo (grandpa, e não grandma) e os que nem imaginavam se enquadrar no estilo sendo associados a ele.

É o caso do jornalista João de Mari, que preza não só pelas peças de roupa e calçados, mas por itens de casa que remetem ao passado. Seu guarda-roupa é de antiquário, da década de 1970, o chão de taco do apartamento é original de 1960 e o armário de treliça da sala imita uma peça antiga.

“A questão visual me atrai muito. No modo de vestir, gosto de mesclar roupas mais elegantes e chiques, que só usaria em um evento, como a alfaiataria, com peças mais confortáveis.”

Isso porque mesmo tendo o “avô” no nome, a moda é adaptável, e não apenas cores vibrantes, mas estampas modernas compõem o visual dos adeptos.

“O meu grandpa tem mais listras, roupa preta, cardigan. Hoje em dia é uma variação do preppy, do qual as marcas mais descoladas se apropriaram e que acabou ficando em alta novamente”, diz Marcio Banfi, stylist e professor de moda na Faculdade Santa Marcelina.

A moda preppy (de formal) teve destaque entre 1970 e 1980, com os estudantes de colégios preparatórios e universidades particulares do nordeste dos EUA. Blazer, camisa, lenço e gravata estavam entre os principais elementos do grupo.

(Divulgação)

Sem vergonha de ir às ruas: modelo sueca Vivienne Rohner (acima) veste blazer, suéter, calças largas e mocassim. Calças com risca de giz são clássicos do guarda-roupa retrô

Influência moderna

A empresa líder mundial em previsão de tendências WGSN (Worth Global Style Network) apostou na moda da “alfaiataria de brechó” em seu primeiro relatório de 2024.

Segundo ela, as novas gerações devem buscar mais roupas sociais de segunda mão, como blazers, gravatas, peças com risca de giz e ombreiras para compor visuais urbanos e versáteis junto a itens atuais.

Os achados de brechó e o apreço pelo upcycling (reutilização), entretanto, não são fundamentais para o Grandpa Core, segundo Banfi. “O que vemos são as marcas de hoje se apropriando dos anos 1960, 1970 e 1980. Até a Zara tem coletes grandes de tricô, como se fossem feitos à mão pela vovó. Elas olham para fora do Brasil, como para a Califórnia, e refazem a peça com um aspecto antigo, porém nova”, diz.

Na opinião do especialista, o que mais influencia o jovem a consumir o estilo é a investida das marcas alternativas, a presença de estilistas descolados e seu uso por celebridades. “Somos muito atingidos por conteúdo de moda nas redes sociais e acabamos tendo uma noção do que está em alta, do que pessoas que temos como referência estão usando. A estética fica no seu inconsciente. É uma tática muito usada pela publicidade, de apresentar conteúdos que vão ficar na sua cabeça e que você passa a incorporar no cotidiano”, diz João.

A modelo Gigi Hadid, o cantor Harry Styles e os rappers Pharrell Williams e Tyler, the Creator são fãs do suéter, calças curtas, chapéu e suspensórios.

Um toque de avô: gravata borboleta, mocassim e boina são complementos marcantes. Aos que não têm coragem de aderir, acessórios podem complementar visual moderno, em que cores vibrantes e novas estampas são aliadas (Crédito:Divulgação)