Comportamento

Novo superantibiótico combate resistência bacteriana; confira

Estudo de novo medicamento capaz de combater a resistência bacteriana surge como esperança contra infecções intratáveis, uma das 10 maiores ameaças à saúde do planeta

Crédito: Divulgação

Superantibióticos: resistência de microorganismo aumenta com uso indevido de medicamentos (Crédito: Divulgação)

Por Alan Rodrigues

A resistência bacteriana é uma das maiores ameaças à vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estamos diante dessa pandemia silenciosa. A entidade estima que 10 milhões de pessoas possam morrer por ano, até 2050, ao contraírem infecção resistente a antibióticos. Hoje, 1,2 milhão de óbitos acontecem anualmente associados aos tratamentos ineficazes.

“O uso indiscriminado dos antibióticos leva ao surgimento de microrganismos resistentes”, afirma Pedro Ismael da Silva Junior, pesquisador do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Instituto Butantan.

Nessa luta contra as infecções intratáveis, surgiu uma nova esperança medicamentosa. É o antibiótico Zosurabalpina, capaz de matar bactérias super-resistentes, como a Acinetobacter baumannii, uma das mais terríveis e causadora das piores infecções hospitalares. O medicamento, que já curou ratos com pneumonia A.baumannii, começou a ser testado em humanos. “Descobrimos uma nova maneira de combate”, comemora o cientista Michael Lobritz.

Os autores do estudo, publicado, no início do ano, na revista científica Nature, dizem que, ao contrário dos antibióticos tradicionais, que atacam diretamente as estruturas celulares das bactérias, a Zosurabalpina interfere nos processos metabólicos fundamentais das células bacterianas.

“Esse mecanismo de ação impede a capacidade de elas se adaptarem e desenvolverem resistência, tornando-se uma solução promissora para combater as cepas multirresistentes que desafiam tratamentos convencionais”, descreve o artigo, assinado por mais de dez cientistas.

Pesquisadores, como Pedro Ismael, do Butantan, alertam para o uso indiscriminado de antibióticos: criação de microrganismos resistentes (Crédito:José Felipe Batista/Comunicação Butantan)

Enquanto as pesquisas do remédio continuam, dois novos super antibióticos emergiram como potenciais catalisadores de uma nova era na medicina antimicrobiana: Torgena e Zerbaxa.

Esses medicamentos que estão chegando e os estudos promissores de outras drogas podem pavimentar o caminho para uma nova era no combate às bactérias resistentes.

“Vivemos numa encruzilhada. Se nos apressarmos muito, sem os devidos cuidados, acabamos usando drogas que podem ser tóxicas de alguma maneira. Se não nos apressamos, caímos na situação prevista pela OMS. Devemos estudar bem como agem essas moléculas para nos prevenirmos de suas ações tóxicas”, diz Silva Junior.

Armas terapêuticas

A verdade completa é que o mundo está caminhando em direção na qual arranhar o joelho, implantar cateter ou fazer simples procedimento cirúrgico pode matar.

Quando as lesões e as infecções aumentam, mais pessoas utilizam antibióticos, subindo, por sua vez, a probabilidade de desenvolvimento de resistência ao remédio.

O principal problema é que os antibióticos são frequentemente utilizados em excesso ou mal utilizados para combater infecções em pessoas, outros animais e plantas doentes.

“Embora exista um controle no seu uso (receita médica fica retida), sabemos muito bem que as pessoas fazem uso indiscriminado desses remédios, mesmo quando não são necessários”, explica Silva Junior.

É sabido que as bactérias podem desenvolver resistência a medicamentos por meio de mutações no DNA que alteram a parede celular bacteriana de tal forma que os remédios não funcionam, ou que conferem capacidade de decompô-los ou bombeá-los para fora das células.

As cepas que se tornam resistentes também podem compartilhar genes a outras bactérias. Se forem administrados medicamentos errados para tratar infecções, ou se os remédios certos forem tomados em doses insuficientes para matar os microrganismos, os micróbios terão mais tempo para se multiplicarem, e evoluirem ou espalharem resistência.

O desafio constante de combater esses microrganismos tem levado a uma corrida científica incessante em busca de novas armas terapêuticas.

Ainda de acordo com a ONU, a resistência aos antibióticos acumulou-se desproporcionalmente entre patógenos Gram-negativos específicos. “Essas bactérias estão envoltas por membrana, uma cápsula protetora que ajuda a evitar que os glóbulos brancos do sangue lutem contra as infecções”, explica Charles Schmidt, pesquisador do College of Medicine, da Florida Atlantic University.