Comportamento

Universidade israelense descobre sítio arqueológico em Gaza

Pesquisadores descobrem na Faixa de Gaza materiais construtivos com medição de campos magnéticos da Terra, confirmam destruição de cidade citada na Bíblia e consolidam nova técnica para estudos arqueológicos

Crédito: Divulgação

Arqueólogo Yoav Vaknin fazendo medições em materiais construtivos queimados há 3 mil anos (Crédito: Divulgação)

Por Carlos Eduardo Fraga

A Universidade de Tel-Aviv, em Israel, divulgou, no dia 4 de janeiro, um novo marco nos estudos arqueológicos. Os pesquisadores da instituição encontraram nas ruínas do sítio arqueológico de Tel Safi, atual Faixa de Gaza, materiais construtivos que teriam sido de uma cidade do século IX, citada na Bíblia, pela medição de campos magnéticos antigos em tijolos queimados.

Eles usaram uma técnica chamada desmagnetização térmica, que envolve o aquecimento dos tijolos a altas temperaturas para liberar os sinais das partículas de ferro contidas nos materiais de barro. “A análise dos tijolos mostrou que estavam magnetizados na mesma direção, indicando que as peças de barro foram queimadas em incêndio, em 830 a.C.”, relata o arqueólogo Yoav Vaknin, coordenador dos estudos.

A cidade em questão é a antiga Gate, atual Tel Safi, que, segundo relatos bíblicos, foi destruída por um incêndio devastador chefiado pelo rei Hazael, da Síria, antes de conquistar a região.

O ataque liderado pelo monarca teve impacto profundo na área e marcou o início do declínio dos filisteus. A região tem sido alvo de intensas pesquisas arqueológicas pela sua importância histórica e conexão com o povo filisteu, uma das civilizações mais intrigantes da Antiguidade. “Nossas descobertas são importantes para determinar a intensidade do fogo e a extensão da destruição em Gate — a maior e mais poderosa cidade da região na época”, diz Vaknin.

Método testado

A pesquisa foi realizada antes da guerra de Israel contra o povo palestino, mas só foi divulgada agora. A Universidade de Tel-Aviv não explicou o motivo do atraso na divulgação.

Decisões políticas à parte, o certo é que ao contrário dos métodos de análises arqueológicas anteriores, a nova técnica pode determinar se um tijolo de barro, por exemplo, passou por uma queima, mesmo em temperaturas relativamente baixas, a partir de 200°C.

O estudo mede o campo magnético registrado nos tijolos à medida que queimam e esfriam.

“A argila com a qual os tijolos foram feitos contém milhões de partículas ferromagnéticas — minerais com propriedades que se comportam como muitas ’bússolas’ ou ímãs pequenos”, conta Vaknin. O resultado da pesquisa confirmou relatos do Antigo Testamento, que até agora não haviam sido confirmados pela ciência.

Testada a validade do método, Vaknin aplicou a técnica em amostras de uma parede de tijolos, e os campos magnéticos dos materiais exibiam a mesma orientação: sentido norte e para baixo, o que sugere que a estrutura queimou no local.

“Nossas descobertas significam que os tijolos incendiaram e esfriaram in situ, exatamente onde foram encontrados”, diz o arqueólogo.

“Se os tijolos tivessem sido queimados em um forno e depois colocados na parede, suas orientações magnéticas teriam sido aleatórias”, diz Vaknin, que conclui: “Gate é um tesouro de informações, e cada escavação nos aproxima mais da compreensão completa da história dessa cidade única.”

*Estagiário sob supervisão de Luiz Cesar Pimentel