Comportamento

A volta da Chavesmania

Paixão que nem o protagonista conseguia explicar dos brasileiros por Chaves e Chapolin é traduzida na maior exposição do mundo aos personagens mexicanos, aberta e concorridíssima em São Paulo

Crédito: Mis1

Visitantes percorrem 26 salas na exposição, que reproduzem os cenários clássicos dos programas (Crédito: Mis1)

Por Luiz Cesar Pimentel e Elba Kriss

“Ele dizia que havia uma essência semelhante entre mexicanos e brasileiros. Se acrescentarmos a isso o amor pelo bom futebol, o resultado é um afeto muito especial.” A explicação é de Roberto Fernández, filho de Roberto Bolaños, autor e intérprete dos personagens Chaves e Chapolin Colorado, sobre a reação do pai, falecido em 2014 aos 85 anos, ao sucesso que faz há quatro décadas no Brasil.

A veneração no País ao criador e às criaturas mexicanas é traduzida na maior mostra sobre a obra até hoje — Chaves: A Exposição, em cartaz no MIS Experience, em São Paulo. Teve ingressos esgotados em minutos e anunciou ampliação de temporada para três meses antes de completar a primeira semana.

Célio Oliveira e Mariana do Amaral são admiradores de Bolaños: “Chaves fez parte da nossa infância e nos moldou”, diz ele (Crédito:Divulgação)

São 26 salas no total distribuídas em 1.140 m2 com reproduções da famosa Vila do Chaves, com barril-casa do protagonista, o restaurante da Dona Florinda e a escola do Professor Girafales. O visitante pode escolher ser guiado em áudio pelas vozes dos dubladores da Chiquinha ou do Seu Madruga, visitar a casa da Bruxa do 71, e ver os figurinos originais dos personagens, assim como a marreta-biônica do Chapolin Colorado.

(Crédito:Divulgação)

Roberto Fernández, filho e sucessor, visitou o MIS Experience para conferir a fidelidade ao trabalho do pai (Crédito:Divulgação)

Até o Consulado Mexicano entrou no embalo e apoiou o evento como parte do programa “Presença do México no Brasil e do Brasil no México”, que celebra neste ano os 190 anos de relações diplomáticas entre os países.

“(O programa) Serve para destacar a amizade e os fortes vínculos bilaterais, e apoiamos institucional e culturalmente a exposição”, diz o cônsul Rodrigo Vazquez Ortega, responsável por assuntos culturais e econômicos. O consulado contratou um grupo de mariachis para se apresentar na abertura do evento.

Sem querer querendo

Há também explicações para bordões que os personagens utilizavam e que entraram para a cultura popular, atualmente com grande sucesso em forma de memes. “Teria sido melhor ver o filme do Pelé” é um deles, que mostra um truque de identificação na tradução.

No original, Chaves se referia ao filme El Chanfle, do qual era protagonista e que tinha o time América, do qual era torcedor, como pano de fundo na história. Para uma aproximação com a plateia brasileira, colocaram o rei do futebol no meio, o que não desagradou o autor, apaixonado pelo esporte.

“O público brasileiro teve uma grande identificação com os personagens. Há muitos Don Ramóns (Seus Madruga) no Brasil, e se isso for tratado com um humor tão eficaz, a combinação é muito poderosa”, arrisca Fernández, um dos seis filhos de Bolaños e escolhido para presidir o Grupo Chespirito e levar adiante a obra.

Bolaños era apaixonado por futebol, amava a seleção brasileira de 1970 e chegou a conversar por telefone com Pelé (Crédito:Mis1)

Desde julho de 2020, porém, os episódios não podem ser assistidos em canais de TV ou plataformas de streaming. A dona do programa, a mexicana Televisa, não chegou a um acordo com o grupo de Fernández e Chaves e Chapolin estão fora do ar desde então.

O SBT, que transmitiu durante 36 anos, e o grupo Globo aguardam entendimento para entrarem em leilão. A Globoplay teve sucesso com dois programas da Televisa que eram transmitidos pela emissora de Silvio Santos: as novelas Marimar e Rebelde.

Dado o histórico de Bolaños, é aposta com mínima chance de prejuízo, mesmo que nem os compatriotas dele compreendam. “Encontramos uma mexicana na fila, e ela quis tirar foto com a gente. Disse que ficou surpresa de ver como o brasileiro gosta do Bolaños”, diz a professora Mariana do Amaral Soldera, que se vestiu de Chiquinha para visitar a exposição.

“O fenômeno do Chaves foi avassalador. E ainda é. Mas ele nunca deixou de se surpreender, até seus últimos dias, com a transcendência e o efeito de seu trabalho no Brasil”, revela o filho do homenageado. Ingressos e informações em: www.expochaves.com.br